Publicado em 10 de julho de 2020 às 19:45
Empresários que se reuniram nesta sexta (10) com o vice-presidente Hamilton Mourão relataram que têm recebido menos investimentos neste ano em função da deterioração da imagem internacional do Brasil relacionada ao aumento do desmatamento na Amazônia.>
A mensagem levada pelo grupo, composto por presidentes de grandes companhias com operação no país, é que as críticas sofridas na esfera ambiental estão atrapalhando os negócios, afirma Marina Grossi, presidente do CEBDS (Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável) e articuladora da videoconferência.>
Participaram da reunião Walter Shalka (presidente da Suzano), André Araújo (presidente da Shell no Brasil), Marcos Molina (fundador e presidente do conselho de administração da Marfrig), João Paulo Ferreira (presidente da Natura para América Latina), Paulo Soares (presidente Cargill no Brasil), Candido Bracher (presidente do Itaú) e Luiz Eduardo Osorio (diretor-executivo de Relações Institucionais, Comunicação e Sustentabilidade da Vale).>
"Independente do que a empresa faça, a Marfrig por exemplo, a foto que fica de quem está desmatando é um boi no pasto. Por mais que a gente [como empresários] faça, se aquela região é contaminada porque quem está fazendo errado não está sendo punido, isso resvala nos nossos negócios", afirmou Grossi em entrevista coletiva com jornalistas.>
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Os empresários também se mostraram preocupados com os efeitos da imagem do país sobre a percepção do consumidor estrangeiro da produção brasileira. Mercados mais exigentes, como o europeu, demandam garantias via acordos comerciais de que o produto importado não tem origem em área desmatada -- pagando um valor "prêmio" por isso.>
"Não queremos colocar nos mercados produtos com baixo valor. O valor prêmio vai para os mercados exigentes. Muitas das empresas [do grupo] exportam e querem exportar para esses mercados exigentes, atender a acionistas exigentes", afirmou a presidente do CEBDS.>
Segundo Rossi, um dos empresários presentes defendeu que o Brasil precisa ser visto no jogo geopolítico como uma potência ambiental. "Facilita ter esse 'brand', essa marca Brasil associada aos seus produtos num momento como esse", disse.>
Em resposta, Mourão se comprometeu a adotar metas semestrais de combate ao desmatamento, sem no entanto informar uma previsão de quando elas seriam apresentadas. O vice-presidente afirmou que a formulação de parâmetros depende ainda de estudos.>
A proposta foi bem recebida pelos empresários, segundo Rossi, que avaliaram positivamente a postura do vice-presidente. O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, alvo de críticas de ambientalistas, também participou da reunião.>
Uma das principais pautas da reunião foram mecanismos de rastreabilidade, como forma de garantir que a soja ou o gado utilizado não tenha origem em áreas desmatadas. As empresas já estão planejando a adoção em massa do instrumento, mas a velocidade poderia ser muito mais rápida caso houvesse participação também do estado via incentivos, por exemplo.>
"Se o estado der sinal claro de que podemos caminhar nesse sentido, se for incentivado, essa implementação não será em cinco anos mas em um período muito mais curto", afirmou Grossi.>
Outro ponto levantado pelos empresários é o potencial de atração de investimentos via mercado de crédito de carbono, que em seus cálculos poderia angariar US$ 10 bilhões por ano ao bioma amazônico.>
Segundo Rossi, Mourão afirmou que o governo está calçando as "sandálias da humildade" no tema, ouvindo investidores -- houve reuniões com fundos detentores de R$ 4,6 trilhões em ativos na quinta - e os empresários.>
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