Publicado em 9 de outubro de 2020 às 07:25
Em reunião do conselho de governo nesta quinta-feira (8), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) determinou que, a partir de agora, cada ministro fale apenas sobre temas diretamente relacionados à sua respectiva pasta. Foi mais um gesto de apoio ao ministro Paulo Guedes (Economia). >
Com a decisão, segundo relatos feitos à Folha de S.Paulo, o ministro Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional) não teria mais autorização para se pronunciar sobre a formulação de programas sociais, o cumprimento do teto de gastos ou qualquer outra ação ligada ao Ministério da Economia.>
A ordem foi celebrada nos bastidores por membros da equipe econômica, que vinham tendo uma série de atritos com o ministro do Desenvolvimento.>
A reunião desta quinta-feira, no Palácio do Planalto, teve foco no alinhamento da equipe após briga pública entre Guedes e Marinho.>
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Os dois já vinham trocando farpas nos bastidores por discordarem em relação à estratégia de retomada da economia após a pandemia do novo coronavírus. O ministro do Desenvolvimento defende uma ampliação dos gastos públicos com obras, enquanto chefe da Economia quer focar na retomada da atividade por meio de investimentos privados.>
Na última semana, a disputa veio a público. Em encontro com analistas e investidores na sexta-feira (2), Marinho disse que Guedes é fraco em temas de microeconomia e defendeu que o novo programa social fique fora da trava do teto de gastos.>
Marinho afirmou que as declarações foram distorcidas, mas isso não foi suficiente evitar um desgaste dentro do governo.>
No mesmo dia, perguntado sobre as declarações, o ministro da Economia chamou o colega de despreparado, desleal e fura-teto, em referência a uma suposta tentativa de desrespeitar a regra do teto de gastos, que limita as despesas do governo à variação da inflação.>
No domingo (4), a Folha de S.Paulo antecipou a intenção do presidente de repreender Marinho por causa das críticas feitas a Guedes.>
Na segunda-feira (5), Bolsonaro chamou Marinho no Palácio da Alvorada. Segundo relatos de assessores palacianos, o presidente condenou a atitude do ministro e pediu que, pelo menos no curto prazo, ele evite conceder entrevistas ou fazer declarações públicas.>
O recado foi reafirmado na reunião ministerial. O presidente deixou claro que trocas públicas de críticas entre integrantes de sua equipe não serão admitidas.>
A aliados, Marinho tem ressaltado que, na reunião, não houve menção clara a ele e que, para evitar mais atritos, Guedes não fez um discurso que estaria previsto.>
No Palácio do Planalto, apesar de haver uma resistência a Guedes na cúpula militar, a postura de Marinho foi classificada como um gesto descabido e de traição do ministro à equipe do presidente.>
Apesar da insatisfação, Bolsonaro disse que não pretende trocar nem Guedes nem Marinho, mas ressaltou que a disputa entre os dois precisa ser superada.>
A irritação de Guedes com Marinho já havia se intensificado antes da briga pública. Na busca por saídas para o novo programa social do governo, o ministro da Economia disse a interlocutores que Marinho havia sugerido furar o teto de gastos em R$ 70 bilhões.>
Nesse momento, Guedes teria determinado uma força-tarefa para vasculhar o Orçamento em busca de recursos, na tentativa de evitar a burla à regra fiscal.>
Foi nessa busca, segundo auxiliares do ministro, que teria surgido a ideia de reavaliar gastos com precatórios, dívidas do governo reconhecidas pela Justiça.>
O novo programa social chegou a ser anunciado com fonte de custeio diretamente ligada à limitação dos precatórios, o que não estava nos planos da Economia. Após forte reação negativa do mercado e críticas de especialistas e parlamentares, o governo recuou e agora busca novas fontes para bancar o programa.>
Marinho, segundo integrantes do governo, se irritou com a atitude de Guedes em meio à polêmica sobre a paternidade da proposta de travar o pagamento de precatórios, o que foi considerado pelo mercado financeiro como um calote.>
Guedes e o relator do Orçamento, senador Márcio Bittar (MDB-AC) se desentendiam sobre de onde surgiu a ideia. Marinho, que tem forte ligação com o Congresso, chegou a afirmar que a sugestão partiu do ministro da Economia, cuja equipe transferia a paternidade a Bittar.>
Após a confusão, Guedes reconheceu que a ideia de usar os precatórios foi "um vírus que vazou do laboratório da Economia", mas ponderou que a finalidade da proposta acabou desvirtuada.>
Na sexta (2), Marinho, em nota, disse que "não foram feitas desqualificações ou adjetivações de qualquer natureza contra agentes públicos, nem tampouco às propostas já apresentadas".>
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