Publicado em 11 de agosto de 2021 às 18:49
As incertezas domésticas no campo fiscal e político impediram que o real se beneficiasse do dia positivo para as divisas emergentes, em meio a uma onda de enfraquecimento global da moeda norte-americana, após o índice inflação ao consumidor nos EUA (CPI) em julho vir dentro das expectativas. Nem mesmo a ampliação do diferencial entre juros internos e externos, por conta do ciclo atual de alta da taxa Selic, parece animar os investidores a se desfazer de posições defensivas - um reflexo claro da exigência de prêmio de risco mais elevado por conta das incertezas fiscais.>
Afora uma leve queda pela manhã, logo após a divulgação do indicador de inflação CPI nos EUA, o dólar trabalhou em alta firme por aqui ao longo do dia, enquanto lá fora aprofundava as perdas frente a moedas emergentes pares do real, como o peso mexicano e o rand sul-africano. Além da moeda brasileira, apenas a lira turca sofreu nesta quarta-feira.>
Com mínima de R$ 5,1642 e máxima de R$ 5,2346, registrada no início da tarde, o dólar à vista encerrou o pregão em alta de 0,47%, a R$ 5,2212.>
Ao desconforto com o desfecho da reforma do Imposto de Renda, que pode ser votada nesta quarta na Câmara dos Deputados, somou-se a informação, do Tesouro Nacional, de que a PEC dos Precatórios embute a flexibilização da chamada "regra de ouro", que impede o governo de se endividar para pagar despesas correntes sem autorização do Congresso.>
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Também causaram desconforto declarações do presidente da República, Jair Bolsonaro, sobre preços de combustíveis e energia elétrica, consideradas populistas. Derrotado na PEC do voto impresso na terça, o presidente disse nesta quarta que o resultado da eleição não será confiável e acusou de governadores de terem interesse na manutenção dos preços altos dos combustíveis para aumentar a arrecadação com ICMS.>
A avaliação nas mesas de operação é a de que Bolsonaro deseja manter a temperatura política elevada, para garantir a mobilização do seu eleitorado, ao mesmo tempo em que tenta criar uma espécie de "Orçamento paralelo", para expandir os gastos e recuperar a popularidade, sem ferir formalmente as regras fiscais.>
Para a economista-chefe do Banco Ourinvest, Fernanda Consorte, é difícil imaginar um alívio duradouro na taxa de câmbio, com entrada mais forte de investidores estrangeiros, com tanta incerteza no campo doméstico.>
Consorte nota que até houve um "alívio pontual" com o fato de a PEC dos Precatórios não atrelar recursos arrecadados (via privatizações, por exemplo) a gastos sociais. Mas nada capaz de reverter a percepção de deterioração das contas públicas. "O cenário fiscal está estrangulado, mas o governo quer aumentar os gastos já de olho nas eleições. E isso só vai piorar", afirma Consorte.>
Uma das evidências de que "a situação é muito ruim", segundo a economista, é o Banco Central elevar a taxa Selic em um 1 ponto porcentual, prometer uma outra elevação da mesma magnitude, e a "taxa de câmbio não sentir tanto, como era de se esperar".>
No exterior, o principal indicador esperado pelo mercado, o CPI de julho, diminuiu os temores de uma escalada inflacionária mais aguda nos EUA, embora os índices ainda permaneçam em patamares elevados. O CPI desacelerou de 0,9% em junho para 0,5% em julho, em linhas com as expectativas. Já o núcleo do CPI teve alta de 0,3% na comparação mensal, abaixo do estimado (0,4%).>
A presidente do Fed de Kansas, Esther George, afirmou nesta quarta que a inflação ainda alta nos EUA se deve a desequilíbrios entre oferta e demanda, devido a fatores, em sua maior parte, temporários. Embora tenha dito que as condições econômicas já justifiquem a redução da compra de ativos pelo Fed ('tapering'), a política monetária deve seguir estimulativa.>
Já o presidente do Fed de Dallas, Robert Kaplan, defendeu que a instituição anuncie a retirada de estímulos na reunião do comitê de política monetária do Fed (FOMC, na sigla em inglês) em setembro e comece a reduzir a compra de ativos em outubro.>
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