Publicado em 17 de outubro de 2020 às 08:15
Menos de 15 dias depois da abertura para o registro de chaves, o Pix já contabiliza mais de 39 milhões de cadastros. Muitos consumidores, no entanto, ainda se mostram receosos em relação ao novo sistema de pagamentos instantâneos do Banco Central.>
Dúvidas sobre a segurança do sistema surgiram nos últimos dias, à medida que os pedidos para cadastro no Pix apareceram em aplicativos de instituições financeiras e de pagamento.>
Enquanto alguns consumidores têm medo de que o Pix possa expor seus dados pessoais a fraudadores, outros têm receio de que o sistema abra margem para sequestros-relâmpago.>
"O que me assusta é a impressão de que minhas informações não estão seguras o suficiente. O Pix pode facilitar para o bem, mas e se facilitar para o mal também?" disse a estudante Marina Schuleze Lima, 24.>
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Segundo o BC, as transações do Pix serão criptografadas e feitas por meio de uma rede protegida e separada da internet para evitar ataques. O sistema permitirá transações 24h por dia, sete dias por semana, de maneira gratuita e imediata.>
Hoje, quando alguém faz uma transferência bancária, precisa que o recebedor do dinheiro lhe informe nome, CPF ou CNPJ, número da conta e agência. No novo sistema, será preciso informar apenas os dados da chave, que podem ser um destes quatro (não será necessário informar todos): CPF, telefone celular, email ou EVP, uma chave aleatória gerada pelo Banco Central.>
Nenhuma das informações registradas como chave Pix servem para saques ou retiradas.>
Especialistas consultados pela Folha afirmam que, apesar de existir a possibilidade de que alguns funcionamentos ainda precisem ser corrigidos depois de o Pix ser lançado, em novembro, o novo sistema já deve começar preparado para mitigar riscos.>
"Todas as principais medidas de contenção de fraudes já estão dentro do Pix mas, por ser novo, muita coisa só poderá ser vista quando o sistema começar a funcionar. É normal que alguns problemas surjam no meio do caminho e 'a roda seja consertada com o carro andando'", afirmou o analista sênior de segurança da Kaspersky, Fábio Assolini.>
Na prática, haverá duas camadas de segurança mais visíveis ao consumidor. Tanto no primeiro acesso ao aplicativo quanto ao confirmar a transação, ele precisará informar a senha ou fazer a autenticação por biometria, similar ao que acontece hoje em transações bancárias via app de bancos.>
"Não há nenhuma melhoria de segurança prevista, pois tudo já estará dentro do Pix. O desenho de segurança já começa suficiente para o sistema e com funcionalidades para abarcar o varejo", afirmou Caio Fernandes, chefe adjunto do departamento de tecnologia da informação do BC.>
O Pix já mudou algumas vezes desde as primeiras regras definidas pelo Banco Central em 2018. A ideia inicial, por exemplo, era que o sistema funcionasse sem limite de hora ou de valores transacionados- situação que já foi adaptada pelo BC depois de os bancos argumentarem que isso poderia dar mais espaço para fraudes e roubos.>
No início deste mês, a autoridade monetária decidiu que pelo menos até fevereiro de 2021 as transações pelo Pix terão limite de valor conforme titularidade e horário.>
Mas para Aldo Cabral Scaglione, 57, que trabalha com telecomunicações, o sistema ainda é muito vulnerável a fraudes, e o fato de permitir transações imediatas também aumenta o risco de sequestros-relâmpago.>
"Ter um limite no valor da transação ajuda, mas ainda acho muito arriscado. Não digo que o sistema não é confiável, mas a vulnerabilidade existe e os criminosos vão agir em cima disso. As fraudes que existem na internet são muitas, seja por phishing ou por outros meios. Só vou usar o Pix se eu for obrigado", disse.>
Phishing é o nome dado às tentativas fraudulentas de obtenção de dados e senhas por meio de sites e emails criminosos disfarçados de entidades e instituições confiáveis.>
Até a última quarta-feira (14), a Kaspersky identificou pelo menos 105 domínios falsos criados na internet com o nome do novo programa -o número triplicou desde o início do Pix.>
Para o diretor de prevenção a fraudes da Fico, Fabrício Ikeda, os crimes relacionados à engenharia social -uma manipulação psicológica feita por criminosos- são as que mais preocupam, junto às clonagens de números de celular, muito comuns no país.>
"Talvez a partir de novembro, quando o sistema começar a valer, esses ataques sejam uma preocupação ainda maior, afinal, como garantir que o canal ou dispositivo que eu estou usando não está comprometido?" disse.>
Os especialistas afirmam, no entanto, que esperar até que o Pix esteja em funcionamento para fazer o cadastro pode não ser a melhor ideia de prevenção às fraudes.>
"Do ponto de vista de segurança, é recomendado que o usuário cadastre suas chaves porque, se algum fraudador tentar registrá-las ou se alguma instituição cadastrar os dados sem autorização, o consumidor saberá e poderá reverter", disse Assolini, da Kaspersky.>
Na quinta-feira (15), clientes acusaram instituições financeiras e de pagamentos de terem cadastrado suas chaves Pix sem autorização e de dificultarem o cancelamento dos registros. As instituições negaram. O BC afirmou que vai apurar o caso.>
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