Publicado em 13 de dezembro de 2019 às 09:07
A Câmara deixou para 2020 a apresentação do relatório final de sua proposta de reforma tributária. O texto estava prometido para outubro, mas não foi concluído.>
Para os deputados, a apresentação do relatório nas semanas finais do ano deixaria o projeto exposto a críticas durante o recesso parlamentar. >
O plano é concluir a redação a partir de fevereiro e tentar aprová-la na Câmara até julho.>
Líderes partidários querem manter o protagonismo da Casa na proposta de reformulação do sistema tributário.>
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O governo ainda aposta na criação de uma comissão formada por deputados e senadores para destravar a votação da reforma no Congresso. >
Mas, após meses sem consenso, a Câmara decidiu ficar à frente nas discussões, principalmente diante da intenção do ministro Paulo Guedes (Economia) de sugerir uma reforma fatiada.>
Hoje, o clima entre os líderes é desfavorável à ideia do governo. O presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), já expôs essa insatisfação e descrença em relação à proposta de Guedes.>
Por isso, a estratégia é acelerar a reforma tributária, considerada indispensável por Maia, no próximo ano --mesmo que isso signifique driblar os planos do Senado e do governo.>
Com articulação de Maia, o líder do MDB, deputado Baleia Rossi (SP), apresentou, em abril, uma PEC (proposta de emenda à Constituição) para alterar o sistema tributário. >
O projeto teve apoio dos principais líderes do centrão --grupo de partidos que atuam de maneira independente em relação ao governo e que, juntos, representam a maioria dos deputados.>
A versão da reforma elaborada pela Câmara prevê a substituição, em dez anos, de cinco tributos que incidem sobre o consumo (ICMS, PIS, Cofins, ISS e IPI) por um imposto único: o IBS (imposto sobre bens e serviços).>
A proposta já passou pela CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) e pela fase de debates em comissão especial.>
Líder da maioria na Câmara, o deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) é o relator da reforma e previa concluir seu voto até outubro.>
Esse prazo foi adiado por causa de negociações com setores, além das indefinições no governo, que, no meio do caminho, sofreu uma baixa com a queda de Marcos Cintra, então secretário especial da Receita Federal.>
Num cálculo político, técnicos recomendaram que o relatório fosse concluído e divulgado apenas no início de 2020, para afastar um "fantasma" da gestão do ex-presidente Michel Temer (MDB).>
Temer apresentou uma proposta de reforma da Previdência às vésperas do recesso parlamentar. A reformulação nas regras de aposentadoria e pensão sofreu forte desgaste até que o Congresso retornasse aos trabalhos.>
Ainda assim, a avaliação de aliados de Maia é que a Câmara deve ditar o ritmo das discussões da reforma tributária em 2020.>
Os deputados querem contornar o texto elaborado pelo Senado sobre o mesmo tema e esvaziar a proposta de criar uma comissão mista para integrar os dois projetos.>
Em busca de protagonismo nesse tema, líderes da Câmara também tentam driblar os planos do governo de realizar uma reforma em etapas, começando pelo PIS/Cofins.>
Congressistas que estão à frente da discussão consideram que uma reforma do sistema sem incluir de saída o ICMS, principal motivo de disputa entre estados no sistema tributário, não seria efetiva.>
O governo argumenta que as propostas são complementares, pois a reforma mais ampla (da Câmara) precisa de um tempo de transição de até dez anos para entrar em vigor, enquanto a unificação do PIS e da Cofins já simplificaria o sistema tributário no curto prazo.>
Historicamente, presidentes falham ao tentar aprovar uma reformulação tributária no Congresso. A medida enfrenta resistência de diversos setores, que rechaçam pagar mais impostos que atualmente.>
A equipe de Jair Bolsonaro enfrenta ainda uma espécie de crise de ciúmes entre Câmara e Senado. As Casas, desde o começo do ano, disputam o protagonismo na agenda econômica e reformista encabeçada por Guedes e apoiada por Maia.>
Um exemplo da falta de sintonia é o impasse na formação da comissão mista (composta por deputados e senadores) para discutir o tema. >
Sem um acordo entre as duas Casas, o governo passou a reavaliar o timing político para enviar os projetos do pacote de reforma tributária gestado no Ministério da Economia.>
Em meio ao impasse entre as Casa, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), afirmou nesta quinta-feira (12) que não criará neste ano a comissão mista do Congresso destinada a discutir propostas de reforma tributária. Segundo ele, a instalação deve ser feita em fevereiro.>
O governo aguarda a formação do colegiado para apresentar ao Congresso proposta própria de reestruturação do sistema tributário do país.>
"Vai existir [a comissão mista], só que eu acho que não adianta criar agora no recesso. Vou criar quando eu voltar", disse.>
O recesso parlamentar, que ainda não começou, vai de 23 de dezembro a 1º de fevereiro.>
Ao longo do ano, Câmara e Senado disputaram o protagonismo das discussões sobre a reforma. Um acordo entre governo e Legislativo tenta definir que será criada a comissão mista para que seja elaborada uma proposta de consenso.>
Membros da equipe econômica afirmam que a primeira etapa da reforma tributária do governo, que prevê uma reformulação de Pis e Cofins, está pronta, mas só será apresentada após a formação da comissão.>
Alcolumbre afirmou que resta dúvida sobre a duração dos trabalhos do colegiado após sua instalação. Os trabalhos do grupo podem durar 90 ou 120 dias.>
O presidente do Senado afirmou ainda que a votação do novo marco legal do saneamento pelos senadores, uma das prioridades do governo, também ficará para o ano que vem.>
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