Publicado em 12 de abril de 2019 às 12:00
Em tempos em que se discute a reforma do sistema previdenciário nacional, sobre o cenário do regime geral e do de servidores da União e dos Estados, pouco tem se falado no debate sobre a situação dramática em que muitos municípios vivem de caos nas contas públicas em função dos rombos gigantescos e crescentes nos regimes próprios de Previdência.>
Só no Espírito Santo, são pelo menos sete cidades em que as prefeituras precisam arcar com parte das despesas com aposentadorias e pensões, um rombo total que chega a R$ 247,2 milhões.>
Das 38 cidades capixabas que possuem um regime próprio para os servidores (RPPS), apresentam déficits no chamado fundo financeiro os municípios de Cariacica, Guarapari, Linhares, Mimoso do Sul, Vila Velha e Vitória. Já Castelo, que possui um fundo único, também apresenta rombo.>
Os dados foram extraídos dos relatórios de Execução Orçamentária enviados pelas prefeituras à Secretaria do Tesouro Nacional. Como 15 dos municípios com RPPS não enviaram, o número de cidades com déficit deve ser ainda maior.>
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FUNDOS>
É preciso explicar, no entanto, que a situação dos RPPS são distintas uma vez que alguns dividiram os servidores em dois fundos. O primeiro é o fundo financeiro, destinado a servidores antigos e que é naturalmente deficitário. Ele funciona no modelo de repartição simples, em que os servidores ativos contribuem para pagar o benefício dos inativos.>
O outro fundo, chamado previdenciário, é destinado para servidores que ingressaram nos últimos anos no serviço público (a data de referência depende do município). Ele funciona no sistema de capitalização, em que cada servidor contribui para a sua própria aposentadoria no futuro, esse recurso fica rendendo no mercado financeiro.>
Hoje, 11 dos 38 regimes próprios municipais do Estado já fizeram essa divisão. Os demais possuem um único fundo.>
As piores situações se dão justamente nas cidades que fizeram a segregação, como Vitória, que fechou 2018 com um rombo de R$ 133 milhões no fundo financeiro, dinheiro esse que teve que ser aportado pela prefeitura da Capital para garantir o pagamento dos benefícios.>
Depois de Vitória, a cidade de Vila Velha tem o maior déficit, fechando o ano passado com um resultado de R$ -58,6 milhões no fundo financeiro. Cariacica teve rombo de R$ -38,3 milhões.>
Para além de ser um problema das grandes cidades, municípios menores também apresentaram déficits significativos em relação à arrecadação local. É o caso de Mimoso do Sul, que teve rombo de R$ -3,5 milhões no fundo financeiro, e Castelo (R$ -1,6 milhão no fundo único).>
Segundo o economista Juliano César Gomes, essa situação acaba por engessar ainda mais os orçamentos dos municípios, que para pagar benefícios deixam de fazer investimentos.>
Juliano César Gomes, economista
É nesse contexto que a reforma da Previdência passou a se tornar um elemento essencial para a sobrevivência das cidades. Além do estabelecimento de uma idade mínima, o aumento da alíquota de contribuição é uma das mudanças aguardadas. Mas Juliano ressalta que essa possibilidade já existe.>
A reforma propõe a obrigatoriedade de aumentar a alíquota em alguns casos, mas os entes já podiam fazer isso. O problema é que não faziam pela questão do desgaste político, lembra.>
FUTURO>
A divisão do sistema em dois fundos e a criação de uma previdência complementar (para quem recebe acima do teto do INSS, de R$ 5,8 mil), são mudanças que o próprio município pode fazer para garantir uma melhor situação no futuro.>
A questão da segregação tem que ser analisada caso a caso. Mas isso foi pensando para ser assim. O ente arca com ônus do fundo financeiro por um período, mas se ele gerir bem o fundo previdenciário terá um sistema saudável no futuro, destaca Juliano.>
Em 2018, por exemplo, o resultado do fundo previdenciário foi positivo em R$ 72 milhões em Vitória, R$ 50,8 milhões em Vila Velha, e R$ 45,2 milhões em Cariacica.>
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