Um dia depois de confirmar, durante visita a Israel, a abertura de um escritório de negócios em Jerusalém, o presidente Jair Bolsonaro sugeriu que ainda pode transferir a embaixada brasileira de Tel Aviv para a cidade durante o seu mandato, como havia prometido ainda antes da posse. Nesta segunda-feira (1), em conversa com jornalistas, ele reiterou que mantém o compromisso de transferência da missão diplomática, mas pregou calma no processo de transição: Tenho compromisso, mas meu mandato vai até 2022, tá ok?, afirmou.
A iniciativa coloca o Brasil em uma posição que, para tentar agradar a Israel, pode sofrer retaliação comercial dos demais países árabes que atualmente são um dos principais mercados consumidores de minério de ferro, café, produtos de ferro e aço, carne bovina e rochas ornamentais do Estado. No caso do Espírito Santo, uma possível desavença entre o Oriente Médio, excluindo Israel, e o Brasil pode representar uma perda de quase US$ 410 milhões em exportação.
Para o economista e consultor Luiz Alberto Machado, no pior cenário, pode ocorrer reação em cadeia de todo o Oriente Médio, já que a atitude é encarada como quebra de confiança. O presidente está se metendo em um vespeiro terrível. O Brasil sempre teve uma convivência pacífica com judeus e palestinos que vivem em países do Oriente Médio. Essas mudanças podem afetar isso e custar caro.
Já o economista Orlando Caliman afirma que mudar a embaixada de local é comprar uma briga à toa. Isso só vai criar transtorno e não oportunidade para o país.
De acordo com dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, o Espírito Santo viu suas exportações para todos os países do Oriente Médio crescerem quase 65% nos últimos três anos. A importação deles passou de US$ 156,86 milhões, em 2016, para US$ 415,2 milhões, em 2018.
O vice-presidente da Federação Halal, Ali Zoghbi, explica que o setor está apreensivo e preocupado. O mercado árabe foi conquistado com muito esforço pelos brasileiros e medidas como a mudança da embaixada, do ponto de vista comercial, podem ser catastróficas para o país, avalia.
CONTRAPONTO
Segundo o professor do curso de Relações Internacionais da UVV Helvécio de Jesus Júnior, com a aproximação de Israel, o Brasil pode possibilitar acordos para desenvolvimento de tecnologia militar e para a agricultura.
GESTO INÉDITO
O presidente Jair Bolsonaro visitou nesta segunda-feira a basílica do Santo Sepulcro o templo mais sagrado para o cristianismo, na Cidade Velha de Jerusalém. Em seguida, foi ao Muro das Lamentações com o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu. As duas paradas quebram a tradição da diplomacia brasileira e se chocam com a posição das Nações Unidas. Autoridades palestinas criticaram a ausência de coordenação prévia. (Com informações do Globo)
"É DIREITO DELES RECLAMAR", DIZ BOLSONARO
O presidente Jair Bolsonaro comentou ontem a reação de palestinos sobre a decisão do governo de abrir um escritório comercial do Brasil em Jerusalém. Neste domingo (31), após o anúncio da abertura do escritório, a Autoridade Palestina afirmou que vai chamar de volta seu embaixador no Brasil para consultas e para estudar uma resposta à medida.
É direito deles reclamar, disse Bolsonaro após ser questionado sobre o tema. A gente não quer ofender ninguém. Agora, queremos que respeitem a nossa autonomia, completou.
De um lado, o presidente Jair Bolsonaro não atendeu a um pleito de Israel ao descumprir sua promessa de transferir a sede da embaixada do Brasil de Tel Aviv para Jerusalém. Isso acabou gerando críticas de autoridades israelenses, que apostavam na disposição de Bolsonaro em honrar a palavra sobre a transferência da embaixada.
De outro, desagradou não só palestinos, mas também países islâmicos e não apenas do mundo árabe que são parceiros comerciais importantes para a exportação brasileira de carne bovina e de frango.
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