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Abrir escritório do Brasil em Jerusalém coloca economia do ES em risco

Abrir escritório do Brasil em Jerusalém coloca economia do ES em risco

Exportadores temem retaliação de países do Oriente Médio depois de anúncio do presidente Jair Bolsonaro

Publicado em 2 de abril de 2019 às 01:44

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Presidente Jair Bolsonaro durante declaração conjunta em Jerusalém. (Alan Santos/PR)

Um dia depois de confirmar, durante visita a Israel, a abertura de um escritório de negócios em Jerusalém, o presidente Jair Bolsonaro sugeriu que ainda pode transferir a embaixada brasileira de Tel Aviv para a cidade durante o seu mandato, como havia prometido ainda antes da posse. Nesta segunda-feira (1), em conversa com jornalistas, ele reiterou que mantém o compromisso de transferência da missão diplomática, mas pregou “calma” no processo de transição: “Tenho compromisso, mas meu mandato vai até 2022, tá ok?”, afirmou.

A iniciativa coloca o Brasil em uma posição que, para tentar agradar a Israel, pode sofrer retaliação comercial dos demais países árabes — que atualmente são um dos principais mercados consumidores de minério de ferro, café, produtos de ferro e aço, carne bovina e rochas ornamentais do Estado. No caso do Espírito Santo, uma possível desavença entre o Oriente Médio, excluindo Israel, e o Brasil pode representar uma perda de quase US$ 410 milhões em exportação.

Para o economista e consultor Luiz Alberto Machado, no pior cenário, pode ocorrer reação em cadeia de todo o Oriente Médio, já que a atitude é encarada como quebra de confiança. “O presidente está se metendo em um vespeiro terrível. O Brasil sempre teve uma convivência pacífica com judeus e palestinos que vivem em países do Oriente Médio. Essas mudanças podem afetar isso e custar caro.”

Já o economista Orlando Caliman afirma que mudar a embaixada de local é comprar uma briga à toa. “Isso só vai criar transtorno e não oportunidade para o país.”

De acordo com dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, o Espírito Santo viu suas exportações para todos os países do Oriente Médio crescerem quase 65% nos últimos três anos. A importação deles passou de US$ 156,86 milhões, em 2016, para US$ 415,2 milhões, em 2018.

O vice-presidente da Federação Halal, Ali Zoghbi, explica que o setor está apreensivo e preocupado. “O mercado árabe foi conquistado com muito esforço pelos brasileiros e medidas como a mudança da embaixada, do ponto de vista comercial, podem ser catastróficas para o país”, avalia.

CONTRAPONTO

Segundo o professor do curso de Relações Internacionais da UVV Helvécio de Jesus Júnior, com a aproximação de Israel, o Brasil pode possibilitar acordos para desenvolvimento de tecnologia militar e para a agricultura.

GESTO INÉDITO

O presidente Jair Bolsonaro visitou nesta segunda-feira a basílica do Santo Sepulcro — o templo mais sagrado para o cristianismo, na Cidade Velha de Jerusalém. Em seguida, foi ao Muro das Lamentações com o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu. As duas paradas quebram a tradição da diplomacia brasileira e se chocam com a posição das Nações Unidas. Autoridades palestinas criticaram a ausência de coordenação prévia. (Com informações do Globo)

"É DIREITO DELES RECLAMAR", DIZ BOLSONARO

O presidente Jair Bolsonaro comentou ontem a reação de palestinos sobre a decisão do governo de abrir um escritório comercial do Brasil em Jerusalém. Neste domingo (31), após o anúncio da abertura do escritório, a Autoridade Palestina afirmou que vai chamar de volta seu embaixador no Brasil para consultas e para estudar uma resposta à medida.

“É direito deles reclamar”, disse Bolsonaro após ser questionado sobre o tema. “A gente não quer ofender ninguém. Agora, queremos que respeitem a nossa autonomia”, completou.

De um lado, o presidente Jair Bolsonaro não atendeu a um pleito de Israel ao descumprir sua promessa de transferir a sede da embaixada do Brasil de Tel Aviv para Jerusalém. Isso acabou gerando críticas de autoridades israelenses, que apostavam na disposição de Bolsonaro em honrar a palavra sobre a transferência da embaixada.

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De outro, desagradou não só palestinos, mas também países islâmicos – e não apenas do mundo árabe – que são parceiros comerciais importantes para a exportação brasileira de carne bovina e de frango.

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