Publicado em 30 de outubro de 2023 às 11:29
Concursos públicos federais serão menos focados na memorização de conteúdo e deverão captar outras habilidades dos candidatos, como capacidade analítica, de acordo com Roberto Pojo, secretário de Gestão e Inovação do governo federal.>
À Folha ele também falou sobre planos de contração de servidores e medidas contra assédio aos profissionais públicos, que celebram seu dia neste sábado (28).>
Nos concursos, questões específicas de leis, por exemplo, costumam ser cobradas na maior parte das vezes. No entanto, nem sempre esse conhecimento é usado no dia a dia de trabalho, de acordo com Pojo, que atua no Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos desde janeiro deste ano.>
"A orientação é modificar esse 'decoreba' para algo que seja capaz de capturar outras habilidades, capacidade cognitiva, e muito mais do que o ferramental", diz.>
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A discussão sobre as mudanças exatas é sensível e ocorre em sigilo, mas deve ganhar luz na publicação dos próximos editais de concursos, informa o secretário.>
As alterações também visam ampliar a diversidade entre candidatos, já que o formato atual privilegia quem pode se dedicar em tempo integral ao certame. O modelo acaba prejudicando parte dos concurseiros, como os que dependem da renda no trabalho ou são responsáveis por parentes.>
Levantamento do Tribunal de Contas da União (TCU) divulgado no início deste ano mostrou a falta de diversidade entre os aprovados na prova para auditor federal.>
O concurso, um dos mais concorridos do país, seleciona principalmente homens de classe média que conseguiram se dedicar aos estudos por dois ou três anos.>
"Se eu forço [o candidato] a decorar muita coisa, ele precisa de tempo. Isso gera uma concorrência desleal entre aqueles que podem parar de trabalhar e ficar fazendo cursinho contra pessoas que são adequadas para atuar no Estado, mas tem de dividir o tempo com outras atividades", diz Pojo.>
A pasta pretende fortalecer a periodicidade de concursos para evitar longos períodos sem entrada de novos servidores. O objetivo é tornar os órgãos mais estáveis e prevenir choques geracionais entre os funcionários.>
Segundo o secretário, o Concurso Nacional Unificado, anunciado em setembro, também visa tornar o acesso ao serviço público mais inclusivo.>
A prova vai sair menos dispendiosa para os candidatos, que vão poder concorrer a várias vagas disponíveis em uma mesma área de atuação, pagando uma única taxa de inscrição.>
Outra iniciativa da pasta para diversidade é a ampliação de cotas para líderes, tanto para mulheres quanto para pessoas negras. Pesquisa Datafolha divulgada nesta sexta (27) mostrou que 56% dos brasileiros acreditam que o serviço público não é diverso.>
"Se a gente não tomar as ações no ingresso, na evolução na carreira e nos cargos de chefia, a população não vai se enxergar no serviço público", afirma o secretário.>
Em março, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) aprovou decreto com reserva de 30% de vagas de chefia para pretos e pardos. Nesta semana, a Folha mostrou que a meta já havia sido alcançada na época da assinatura do documento.>
Ainda em inclusão, o ministério planeja um projeto de linguagem simplificada para o cidadão. Feito em parceria com a Advocacia-Geral da União (AGU), o objetivo é tornar as comunicações do Estado mais fáceis de serem entendidas.>
O projeto se inspira em uma iniciativa similar no governo do Ceará, que simplifica informações públicas.>
Para o secretário, a discussão sobre contratar servidores temporários não é uma questão de flexibilizar o Estatuto do Servidor, mas de entender quais atividades devem ser tocadas por ele.>
Dados de 2017 a 2021 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostraram aumento de contratações sem vínculo permanente.>
A modalidade é prevista em lei para necessidades temporárias, que não exigem um profissional concursado. Segundo Pojo, é assim que o contrato é aplicado na esfera federal.>
"Nós deixamos para a terceirização as coisas que são mais passíveis de mudança ao longo do tempo ou que claramente vão ser superadas nos próximos anos", diz. Ele afirma ainda que enxugar a máquina sem um propósito reduz a eficácia do setor público.>
A pasta não deve repor o número de servidores do passado, mas o secretário diz que, com apoio da tecnologia, é possível reestruturar as organizações para elevar a produtividade, mesmo com menos profissionais.>
Além disso, o Ministério de Gestão e Inovação está revendo o decreto de governança de 2017, que determina políticas da administração direta federal. A intenção é fortalecer os comitês de ética, um espaço em que o servidor pode relatar casos de assédio ou outras demandas.>
O objetivo é torná-los menos sujeito a interferências políticas e manter o local como seguro mesmo com trocas de governo.>
"Estamos vendo como reforçar institucionalmente o espaço de segurança que o servidor deve ter para se socorrer. Ele já existe e é bastante consolidado, mas, com o tempo e a vontade, infelizmente, você destrói tudo dentro do Estado.">
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