Crítico de cinema e colunista de cultura de A Gazeta

Ricardo Herz e a reinvenção do violino no Brasil

Músico paulista se apresenta na sexta-feira (25) no Teatro Universitário da Ufes

Publicado em 19/10/2019 às 06h01
Ricardo Herz. Crédito: RvonKruger Fotografia
Ricardo Herz. Crédito: RvonKruger Fotografia

O que separa o erudito do popular? Porque esses dois mundos não se misturam com facilidade? O violinista Ricardo Herz, um dos grandes nomes do violino no Brasil, tem a resposta na ponta da língua: “Acho que o academicismo da música erudita afasta”.

Ricardo, o cara da foto que ilustra este texto, é considerado o reinventor do violino brasileiro. Aos 41 anos. Apesar da formação erudita, ele se considera um músico popular. Ao lado da Camerata Jovem Vale Música, ele se apresenta no próximo dia 25, no Teatro Universitário, na Ufes, com um espetáculo que mescla composições próprias (algo raro em músicos de formação erudita) e músicas de seu disco com canções do folclore infantil. Confira entrevista com ele.

Como uma criança se apaixonou pelo violino?

Foi super cedo. Eu comecei a fazer iniciação musical com uns dois anos. Com seis eu fui fazer um curso que tinha violino popular, flauta doce e piano. Eu gostei muito do violino mas gostava era de piano. Foi com oito que eu vi um menino solando em uma apresentação da Osesp e quis ter aula com quem tinha ensinado aquele menino a tocar.

O violino ainda é um instrumento ligado à cultura erudita, algo restrito?

Eu comecei no colegial a tocar em banda de amigos. Então eu já comecei a brincar com a música popular enquanto estudava a música erudita. O curioso é que minha formação de música erudita não era suficiente pra tocar o popular. Você não aprende jazz, música brasileira e rock nas aulas. Aí eu fui estudar jazz. Quando terminei a faculdade eu tentei o curso de Berklee (Berklee College of Music, renomada faculdade de música em Boston). A música erudita não te leva a compor, mas no popular a gente é levado a compor o tempo todo. Eu estou no meu décimo disco e todos eles têm composições minhas. Os mais recentes, com o trio, são quase 100% de canções autorais. O disco novo, com a orquestra de cordas de Cuba, é tudo meu, arranjos, tudo.

Você ainda circula pelo erudito?

Eu me tornei um músico popular, mas voltei a circular no erudito. Tem esse crossover, que é a mistura do erudito e do popular, e tenho feito cada vez mais apresentações com orquestras de cordas.

É uma tentativa do erudito se reaproximar do popular?

É uma tentativa de reaproximação. A música erudita sempre teve essa inspiração, Villa-Lobos, Mozart e até Bach. As músicas sempre conversaram, mas o academicismo da erudita foi criando esse afastamento do povo.

Você faz muitas parcerias. Isso vai te transformando como músico?

Com certeza. Principalmente quando você toca em duo. Na minha formação de trio eu uso mais o meu lado de compositor, é onde eu mais tenho a definição. Mas eu gravei com Yamandu Costa, Nelson Ayres, cada um tem um universo diferente. O Nelson é arranjador, maestro, pianista, tem formação completamente diferente da minha. Esse trabalho com Cuba é uma orquestra de cordas. São as mesmas músicas que gravei com outras formações, mas arranjadas pra cordas. Então eu tenho que tocar de outra maneira, com uma técnica mais perto do erudito. É um crescimento, uma reinvenção. Isso que é legal da música popular. Quando toco com um acordeonista, por exemplo, é diferente de tocar com um pianista. A nota do piano não se sustenta, então ele e o violino se complementam. Já o acordeon faz tudo, segura a nota, dá ritmo, quase canta, é muito parecido com o violino, então a gente tem que achar novos arranjos. Isso ajuda muito pra eu me reinventar e estar o tempo todo estudando. l

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