Crítico de cinema e apaixonado por cultura pop, Rafael Braz é Jornalista de A Gazeta desde 2008. Além disso é colunista de cultura, comentarista da Rádio CBN Vitória e comanda semanalmente o quadro Em Cartaz

"Alerta Vermelho": sobra carisma e faltam ideias a filme da Netflix

Ryan Reynolds, Gal Gadot e Dwayne "The Rock" Jonhson protagonizam comédia de ação com algumas boas sequências, mas sem nenhuma novidade

Vitória
Publicado em 11/11/2021 às 18h19
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Filme "Alerta Vermelho", da Netflix. Crédito: Frank Masi/Netflix

Na sequência que abre o terceiro ato de “Alerta Vermelho”, o personagem de Dwayne “The Rock” Johnson, ao entrar em uma sala cheia de relíquias e tesouros, pergunta “como vamos encontrar esse ovo?”, se referindo ao objeto de cobiça no lançamento da Netflix; sem nem respirar, o ladrão vivido por Ryan Reynolds responde “deve estar na caixa de ‘motivador de enredo’”.

O “motivador de enredo”, no caso, é uma tradução equivocada para o ‘McGuffin’ dito pelo ladrão no texto original - não há tradução literal para o termo usado para designar o objeto ou evento que põe a trama em movimento, quase sempre sem importância real alguma, mas a piada dá o tom do filme de Rawson Marshall Thurber (“Arranha-céu: Coragem sem limite”), que tenta fazer graça com ele mesmo e com a indústria de cultura pop quase como metalinguagem. O recurso talvez tenha funcionado enquanto Thurber escrevia o roteiro e ria sozinho em casa, mas, em tela, a resposta é outra.

Filme mais caro da história da Netflix, “Alerta Vermelho” chega à plataforma cercado de expectativas, com propagandas na TV aberta, trailer no cinema e uma campanha forte de divulgação. Muito disso se dá pelo apelo que o trio de protagonistas traz. Afinal, não é todo dia que se reúne Ryan Reynolds, Dwayne Johnson e Gal Gadot em um filme original.

O filme tem início com uma explicação sobre os três ovos que Marco Antônio teria dado para Cleópatra como prova de amor na noite de núpcias de ambos. Dois deles teriam sido encontrados no início do século XX, mas o terceiro permaneceu o mais cobiçado objeto de colecionadores ao longo dos anos. Coincidentemente, um desses ovos está exposto em um museu em Roma, que é onde o filme realmente começa, com a presença do agente John Hartley (Dwayne Johnson).

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Filme "Alerta Vermelho", da Netflix. Crédito: Frank Masi/Netflix

Hartley tem informações de que Nolan Booth (Reynolds) agirá para roubar o ovo e, por isso, arma um cerco contra ele. A cena inicial é interessante, a primeira das várias sequências de perseguição do roteiro. É curioso que a cena seja mais “contida” do que o resto do filme, o que dá até a impressão de que a narrativa seguirá por este caminho, mas o texto logo se rende às suas ambições de blockbuster.

Não demora para a Bispo (Gal Gadot) entrar em cena como rival a ser batida tanto por Booth quanto por Hartley. Seu objetivo é reunir os três ovos para receber uma recompensa milionária, e ela parece sempre um passo à frente de seus rivais, o que sempre gera surpresa e uma virada no roteiro.

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Filme "Alerta Vermelho", da Netflix. Crédito: Frank Masi/Netflix

“Alerta Vermelho” é um filme com grandes ambições, passando por Roma, Bali, Londres, Valência e por uma floresta tropical na Argentina, lugares para onde os protagonistas parecem transportados em um piscar de olhos. Como filme de ação, o roteiro busca a segurança com um arremedo de situações que funcionaram em outros filmes e até em jogos como a franquia “Uncharted”, na qual o roteiro parece se inspirar inclusive nas aparições repentinas sempre que algo é descoberto; descobriu uma passagem secreta? A personagem que não aparece desde o início do filme vai aparecer para gerar uma cena de ação.

As sequências de ação, vale ressaltar, nunca são ruins, mas exceção feita à mais simples delas, uma luta entre os três, também nunca se destacam. É irônico que o roteiro escancare suas influências e mostra que, sim, é derivativo. Assim, o tema de “Indiana Jones” é assobiado em cena que remete às aventuras do personagem de Harrison Ford

A verdade é que “Alerta Vermelho” é uma comédia de ação com uma roupagem de filme de assalto, e isso até funciona por algum tempo, principalmente devido ao ótimo tempo de humor de Reynolds e Johnson. O texto tem plena ciência do quão ridículo é em determinados momentos e faz questão de mostrar isso para o espectador com alguma piadinha de Booth. As piadas não são necessariamente ruins, mas cansam - além disso, quando o texto tenta falar sério para fortalecer os laços entre Hartley e Booth, o resultado é artificial e a relação, forçada.

O filme vale também pelo elenco, que parece ter se divertido bastante em cena. Gal Gadot funciona como uma personagem misteriosa e cheia de charme; o filme ainda aproveita bem as habilidades de luta da atriz famosa pelo papel da Mulher-Maravilha e a coloca em pelo menos duas boas sequências. O papel de Dwayne Johnson é quase uma sátira à sua persona, e o roteiro faz questão de deixar isso claro, sem sutileza alguma, com a surpresa de todos ao verem um cara musculoso ser um estudioso de arte. Ryan Reynolds, por sua vez, faz o que pode com o que o texto exige dele - o charme do ator e o tempo de humor são bem aproveitados, mas Nolan Booth é apenas chato a maior parte do filme.

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Filme "Alerta Vermelho", da Netflix. Crédito: Frank Masi/Netflix

Bem feito, com grandes ambições, mas pouco original, “Alerta Vermelho” talvez se saia bem com o público casual em busca de um entretenimento leve, sem grandes complicações, com algumas boas surpresas e que explica tudo antes de sua conclusão. O final do filme abre possibilidades para sequências e elas até podem ser interessantes nas mãos de um roteirista/diretor mais ousado do que Rawson Marshall Thurber.

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