Crítico de cinema e apaixonado por cultura pop, Rafael Braz é Jornalista de A Gazeta desde 2008. Além disso é colunista de cultura, comentarista da Rádio CBN Vitória e comanda semanalmente o quadro Em Cartaz

"A Mãe", da Netflix, é medíocre apesar da potência de Jennifer Lopez

Com roteiro genérico e se levando a sério demais, "A Mãe", da Netflix, desperdiça intensidade de Jennifer Lopez como heroína de filme de ação

Vitória
Publicado em 12/05/2023 às 19h01
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Jennifer Lopez vive uma mãe que faz de tudo para proteger a filha em "A Mãe", da Netflix. Crédito: Eric Milner/Netflix

Já se vão quase 15 anos desde que o primeiro “Busca Implacável” foi lançado. A história é curiosa: Liam Neeson, o improvável herói de ação do filme, não botava fé no filme. Ao ler o roteiro, o ator, que não vivia uma boa fase na carreira, pensou “vai passar por algum tempo nos cinemas da França e depois vai sair em DVD mundo afora”. Neeson, como sabemos, estava errado — “Busca Implacável” foi um sucesso global, arrecadou alto em todo o mundo e, de quebra, ainda revitalizou a carreira de seu protagonista.

O sucesso improvável de um filme de ação com um ator inusitado e, principalmente, de orçamento moderado fez com que várias “cópias” surgissem, sempre com atores não muito afeitos ao cinema de ação o que já tivessem visto dias melhores em suas carreiras. Assim, nomes como Keanu Reeves, Jennifer Garner, Pierce Brosnan, Zoe Saldaña, Nicole Kidman, Bob Odenkirk e Allison Janey se arriscaram entre tiros, porradas e bombas com níveis de sucesso distintos, da ótima franquia “John Wick” ao constrangedor “Lou”.

“A Mãe” é a vez de Jennifer Lopez, atriz que não é estranha ao cinema de ação, fez “irresistível Paixão”, de Steven Soderbergh, por exemplo, mas que não teve no gênero o pilar de sua carreira cinematográfica. Quando o filme de Niki Caro ("Mulan") tem início, ela está em um esconderijo do FBI sendo interrogada — aparentemente, ela intermediou uma venda de armas entre dois homens muito perigosos, Adrian (Joseph Fiennes) e Hector (Gael Garcia Bernal), e também se relacionou com ambos. A sequência funciona também para nos apresentar as credenciais da personagem-título, uma ex-soldada implacável, uma atiradora de elite de raro talento.

A personagem, cujo nome nunca é dito (nem nos créditos), sente o perigo, avisa os agentes do FBI, mas é tarde demais; o esconderijo é atacado por habilidosos bandidos, que tiram proveito da falta de inteligência dos agentes (um deles chega a correr para a janela quando o outro diz haver um sniper). Ao final dessa introdução, a protagonista é esfaqueada, momento em que descobrimos que ela estava grávida.

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Jennifer Lopez vive uma mãe que faz de tudo para proteger a filha em "A Mãe", da Netflix. Crédito: Eric Milner/Netflix

A criança nasce, mas, por questões de segurança, o FBI acredita ser melhor colocar a menina no serviço de proteção a testemunhas, pois ela sempre seria um alvo ao lado da mãe biológica. A protagonista, então, parte para um lugar ermo e isolado do mundo, onde encontra um ex-companheiro de exército, Jons (Paul Raci), e por lá permanece por 12 anos, sempre recebendo notícias da filha. Um dia, porém, é contatada por seu contato no FBI, o bonitão Cruise (Omari Hardwick), que acredita que Zoe (Lucy Paez) possa estar em perigo.

“A Mãe” é um filme de ação genérico, com roteiro que parece escrito por uma inteligência artificial. O texto existe apenas em função da ação e fazendo os personagens de bobos, com escolhas muito questionáveis o tempo todo. Na primeira cena que vemos Zoe, por exemplo, capangas tentam sequestrá-la na saída da escola – a mãe não hesita em atirar neles no meio da multidão, colocando não apenas a menina em risco, mas também todas as outras pessoas naquele local, e ninguém nem sequer comenta o fato.

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Jennifer Lopez vive uma mãe que faz de tudo para proteger a filha em "A Mãe", da Netflix. Crédito: Ana Carballosa/Netflix

Como manda a fórmula do cavaleiro solitário modernizada por “Busca Implacável”, “A Mãe” é um filme de vingança, de uma pessoa levada ao limite para proteger alguém e/ou se vingar de alguém. Jennifer Lopez se entrega ao papel e nos faz acreditar que sua personagem é realmente capaz de tudo o que vemos em tela — ela demonstra força, foco e intensidade na medida certa.

A atuação da atriz é prejudicada pelo resto do filme, que se leva a sério demais até em momentos involuntariamente cômicos. Com quase duas horas de duração, “A Mãe” deveria ter pelo menos 30 minutos a menos, e é muito fácil identificar o que poderia ser tirado (todo arco de Hector, por exemplo). Com uma narrativa mais enxuta, restaria menos tempo para o espectador se irritar com Zoe, uma personagem chatíssima que parece ter sido escrita por pais de adolescentes insuportáveis.

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Jennifer Lopez vive uma mãe que faz de tudo para proteger a filha em "A Mãe", da Netflix. Crédito: Eric Milner/Netflix

Com o roteiro escrito a seis mãos (!!) e nenhuma identidade, a diretora Niki Caro faz o que pode. A direção é precisa, a ação é bem filmada e o filme tem sequências esteticamente interessantes, e até grandiosas, como toda a ação do terceiro ato. A diretora filma Jennifer Lopez com certa reverência, explorando o melhor de sua protagonista, uma mulher de mais de 50 anos que nunca parece se incomodar com isso ou com o que a indústria habitualmente faz com as atrizes.

“A Mãe” é um filme de ação “assistível”, mas se perde no roteiro genérico e no excesso. Se tivesse uma narrativa mais ágil, o filme seria o tipo de diversão barata e empolgante que consagrou Jason Statham e o já citado Liam Neeson; tanto “Carga Explosiva” quanto “Busca Implacável” têm 90 minutos de duração. Jennifer Lopez, porém, mostra que pode perfeitamente se tornar uma estrela de ação, pois salva o filme da total mediocridade.

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