Quando o assunto é carnaval, além dos famosos desfiles das escolas de samba e dos bloquinhos de rua, não há como não pensar nos trios elétricos animados com muito axé, certo? Pois o Espírito Santo já foi palco de uma micareta que, durante 12 anos, fez Vitória praticamente se transformar em Salvador. Seja na tradicional "pipoca" ou vestindo o abadá, é indiscutível que o Vital marcou a cena da Capital e deixou saudade em muitos capixabas.

Criado com o intuito de fazer uma festa similar ao carnaval de Salvador o evento reuniu, entre os anos de 1994 a 2006, os nomes mais consagrados do axé, como Ivete Sangalo, Chiclete com Banana, É o Tchan, Asa de Águia e Araketu. Todos passaram pela Capital capixaba em cima do trio, seguidos por uma multidão.
Debaixo de muita chuva ou de tempo firme, o Vital – cujo nome é a junção de "Vitória" com "carnaval" – reuniu milhares de foliões que vinham de diversas regiões do Estado e, até mesmo, de outras partes do país, em uma megaestrutura de camarotes, arquibancadas e blocos.
12 ANOS DE ANIMAÇÃO E ALTO-ASTRAL
O Vital nasceu em 1994, a partir do bloco Lavagem do Triângulo, no bairro Praia do Canto. Na primeira edição, o evento reuniu crianças, jovens e adultos trajados com o famoso "kit fantasia" (composto por camiseta, adereço de mão e tiara), na Avenida Dante Michelini, na Praia de Camburi. Ao ritmo das bandas Asa de Águia e Furta Cor e da animação do Bloco Mukeka, o evento inédito foi apenas um prenúncio do que estava por vir nos anos seguintes.

Em 1995, nem mesmo a chuva esparsa que caía em Vitória espantou a multidão que compareceu aos três dias de festa. O sucesso foi tão grande que, na época, o então secretário de turismo e cultura de Vitória, Jorge Alencar, considerou que a Capital estava, definitivamente, inserida no circuito dos grandes carnavais fora de época do Brasil.
Já em 1996, além do aumento significativo do público, o Vital inovou com a inclusão de uma ala infantil: era o bloco Mukekinha. Os "pimpolhos", como eram chamados pela organização do evento, saíam fantasiados com abadás e acompanhados dos pais, puxados pela Banda Mukeka.

No ano seguinte, em 1997, a multidão que se juntou na orla da Praia de Camburi em uma explosão de alegria que superou as expectativas dos organizadores. Naquela edição, foram seis bandas e dois cantores, todos de Salvador, como: Netinho, Chiclete com Banana, Timbalada e Cheiro de Amor.
A importância da festa era tão grande que, na edição de 1998, a cantora Ivete Sangalo, que era então vocalista da Banda Eva, não se deixou abater por uma indisposição gastrointestinal e, mesmo passando mal, entrou no corredor da folia tomando soro fisiológico na veia.

Ao longo dos anos, além dos tradicionais blocos, o Vital passou a contar com setores privilegiados como camarotes e lugares mais próximos aos trios. Na década de 1990, aliás, surgiu um concurso para escolher o camarote mais decorado, em que o vencedor ganhava um espaço do mesmo tipo para cair na folia no ano seguinte.
Com o tempo, a segurança também precisou ser reforçada, já que a cada edição os trios carregavam uma multidão maior. Em 1997, o jornal A Gazeta chegou a noticiar que o então comandante da Polícia Ostensiva do Espírito Santo foi a Salvador, na Bahia, para buscar informações do modelo de segurança usado no Carnaval da cidade, visando ao aprimoramento do esquema no Vital.

Na busca pelo abadá para garantir presença no evento, filas enormes eram formadas nos pontos de venda, mas havia ainda a participação de quem queria curtir sem pagar nada. O tradicional setor "pipoca" ficava fora do ponto central da festa, mas possibilitava a alegria de inúmeros foliões.
Em 2005, a organização do evento chegou a criar um novo conceito para a "pipoca". Naquele ano, o setor saiu na avenida em um formato fechado, com a cobrança de R$ 10 para quem quisesse cair na folia. A ideia era uma prévia de como seria o Vital no próximo ano. No entanto, o conceito não vingou.

MUDANÇA DE LOCAL E O FIM DA MICARETA
À medida que o Vital crescia, aumentavam também as reclamações de pessoas que residiam próximo ao corredor da folia. Entre os imbróglios: preocupações com a segurança no entorno do local, incômodos com o barulho dos trios que comandavam a festa, a sujeira gerada e os constantes engarrafamentos.
Indignados, os moradores das regiões adjacentes à Avenida Dante Michelini, na Praia de Camburi, começaram a se mobilizar para acabar com o Vital. Como solução, o evento ganhou um novo local em 2006: a Praça do Papa, na Enseada do Suá, também na Capital.
Diferentemente dos outros anos, além da mudança de endereço, o Vital 2006 foi realizado em formato indoor (fechado), considerado pelos organizadores como mais enxuto, moderno e seguro. No entanto, a micareta já não tinha a mesma força do começo, e a chuva forte que insistiu em cair durante o evento ajudou a reduzir o número de foliões. Aqueles que compareceram, tiveram que enfrentar a lama que se formou na Praça do Papa.

Naquela época, a ideia dos organizadores era realizar o Vital de 2007 em uma arena de eventos planejada para ser construída em Carapina, na Serra. Porém, o local não saiu do papel, a festa não aconteceu, e a folia chegou ao fim.
2022: O RETORNO DO VITAL
Após 16 anos de nostalgia, o Vital volta a ser realizado e promete sacudir a Capital capixaba. Desta vez, o endereço é o Sambão do Povo, no bairro Mario Cypreste, em Vitória. Entre as atrações estão: Claudia Leitte, Léo Santana, Durval Lelys, Banda Eva e Harmonia do Samba.
Vital: o maior carnaval fora de época do ES
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