Publicado em 28 de setembro de 2024 às 08:52
Conteúdo investigado: Publicação com trecho de sessão plenária da Câmara Legislativa do Distrito Federal do dia 11 de setembro de 2024, em que a deputada Paula Belmonte (Cidadania) diz que o candidato do PSOL “não foi condenado porque não foi encontrado”. >
Onde foi publicado: TikTok.>
Conclusão do Comprova: Vídeo engana ao dizer que o deputado federal e candidato a prefeito de São Paulo Guilherme Boulos (PSOL) seria líder do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e só não foi condenado judicialmente porque não teria sido localizado durante os seis anos em que o processo contra ele tramitava. O Comprova checou novamente o andamento dos cinco processos em que o candidato foi réu e identificou que não houve condenação em nenhum deles.>
A publicação usa um trecho de um discurso do deputado distrital Pastor Daniel de Castro (PP), no qual o parlamentar afirma que Boulos seria líder do MST e responsável por invasões a propriedades, queima de fazendas e morte de gado.>
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A fala foi proferida no momento em que o pastor fazia um discurso crítico sobre as prisões de suspeitos de praticarem queimadas no Brasil, como mostra o vídeo com a íntegra da sessão plenária.>
O discurso foi rebatido pelo deputado Fábio Felix (PSOL). Ele disse que Boulos não tem nenhuma condenação criminal e afirmou que o movimento que o correligionário liderava não era o MST, mas sim o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), cujas manifestações ocorrem no ambiente urbano.>
Após a fala de Felix, a deputada Paula Belmonte (Cidadania) afirmou que Boulos só não foi condenado porque não foi encontrado há seis anos, e fez uma referência ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), dizendo que há um “ex-condenado a três instâncias na Presidência da República”.>
Como mostrou a Folha de S.Paulo, o processo ao qual se referiu a deputada seria o do episódio conhecido como a desocupação do Pinheirinho, em que Boulos foi preso em flagrante suspeito de atirar contra uma viatura da Guarda Municipal de São José dos Campos (SP). À época, Boulos prestou depoimento negando a acusação, e foi solto mediante pagamento de fiança.>
No documento em que reconhece a extinção do processo, que prescreveu, o promotor João Carlos de Camargo Maia, do Ministério Público de São Paulo, afirma que “o criminoso conseguiu fugir por manobra jurídica”.>
Em resposta, conforme relatou a Folha, o advogado de defesa de Boulos, Alexandre Pacheco Martins, afirmou que foi o Ministério Público que errou, procurando por Boulos em endereços “sem sentido”, além de não ter procurado pelos advogados, que tinham os contatos anexados ao processo.>
“Só procuraram o Boulos em endereços sem sentido. Ele trabalhava na Faculdade Mauá e foram no Instituto Mauá. O inquérito ficou jogado por anos. Não teve tentativa nenhuma de escapar, o Boulos nem sabia do processo nesses seis anos. Foi o Ministério Público que abusou do direito de errar”, disse o advogado.>
Ao Comprova, a assessoria de Boulos disse que a afirmação feita pela parlamentar é falsa, e que o candidato jamais fugiu da Justiça ou foi condenado em qualquer processo criminal.>
“Todos os casos em que ele foi detido e levado à delegacia estão diretamente ligados à legítima defesa dos direitos da população que luta por moradia digna. O caso em questão trata do episódio de Pinheirinho, de 2012, e foi arquivado”, disse em nota.>
Ainda segundo a assessoria, Boulos deixou a coordenação do MTST para assumir o mandato de deputado federal no início de 2023.>
O responsável pela publicação foi procurado, mas não retornou aos contatos feitos pela reportagem.>
Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.>
Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 25 setembro, a publicação alcançou mais de 1.284 visualizações, 126 curtidas, 66 compartilhamentos e 6 comentários.>
Fontes que consultamos: Procuramos por outras verificações feitas pelo Comprova, assistimos à íntegra da fala dos deputados, analisamos as certidões de candidatura de Boulos disponíveis no Divulgacand, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), checamos novamente o andamento dos processos em que ele é réu, matérias sobre o caso, e entramos em contato com a assessoria do candidato.>
O Comprova voltou a checar o andamento dos cinco processos em que o candidato do PSOL foi réu em pesquisa no site Jusbrasil. Foi possível verificar que não houve condenação criminal em nenhum deles, assim como havia sido identificado em agosto, quando a seção “Contextualizando” do projeto analisou as certidões de candidatura de Boulos disponíveis no Divulgacand, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).>
Conforme outros documentos de Boulos disponíveis no mesmo site de candidaturas da Justiça Eleitoral, o psolista foi preso duas vezes quando era líder nacional do MTST. As prisões ocorreram durante processos de reintegração de posse. Apesar disso, não houve nenhuma condenação criminal.>
Em janeiro de 2012, Boulos estava na Ocupação Pinheirinho, em São José dos Campos, no interior paulista, quando foi preso em flagrante por “dano qualificado”. Ele foi solto após prestar depoimento e pagar fiança no valor de R$ 700. Posteriormente, o processo foi anulado.>
Já a segunda prisão ocorreu em janeiro de 2017. Ele foi detido por “incitação à violência e desobediência” durante reintegração de posse na Ocupação Colonial, em São Mateus, bairro da zona leste de São Paulo. Na ocasião, ele ficou detido por 10 horas e foi liberado após ter assinado um termo circunstanciado.>
Como noticiou o Estadão, o próprio Boulos disse, em entrevista para a Agência Pública, que foi preso também entre 2003 e 2004, em uma ocupação em Osasco. Não constam no site do TSE, porém, documentos a respeito deste episódio.>
Além disso, o fato de a Justiça Eleitoral ter confirmado a candidatura de Boulos significa, necessariamente, que o político não foi enquadrado pela Lei da Ficha Limpa. Ou seja, ele não tem nenhuma condenação judicial em segunda instância (quando a condenação é feita por um órgão colegiado).>
Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.>
Outras checagens sobre o tema: Boulos e o MST são alvos frequentes de desinformação nas redes sociais. O Comprova já mostrou que Boulos não prometeu deixar o país depois da derrota nas eleições, que não há evidências de que o movimento tenha ameaçado “incendiar o agro” antes das queimadas recentes e que um homem que afirmava ser petista e corrupto não era líder do movimento e sim ex-candidato do PRTB.>
Investigação e verificação
Investigado por: UOL, Correio do Estado e A Gazeta
Texto verificado por: Metrópoles, O POVO, NSC, CNN Brasil, Portal Norte, Folha e Nexo
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