Publicado em 18 de junho de 2023 às 09:19
Na próxima quarta-feira (21), o advogado Cristiano Zanin será sabatinado pela Comissão de Constituição e Justiça do Senado Federal.>
Os parlamentares poderão fazer questionamentos ao amigo pessoal do presidente Lula (PT), que o defendeu em todos os processos da Lava Jato e foi indicado pelo petista para a vaga de Ricardo Lewandowski no STF (Supremo Tribunal Federal).>
A expectativa é que ele seja aprovado com facilidade. Se passar pela CCJ, basta maioria absoluta dos votos dos senadores (41 dos 81) em plenário para que tenha a nomeação ratificada.>
A imagem de um garantista convicto conquistada nos embates com o ex-juiz Sergio Moro e outros integrantes da Lava Jato é um dos principais fatores que deixam o governo otimista para a aprovação.>
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Com parte dos senadores investigados e outra parte em busca de blindagem para evitar problemas judiciais, a avaliação é que a postura jurídica de observar com atenção o respeito às garantias dos investigados em detrimento dos métodos de investigadores terá grande peso no voto da maioria dos senadores.>
Zanin já conversou com mais de 70 senadores e tem percorrido gabinetes em busca de apoios.>
Na articulação para ser aprovado, tem contado com a ajuda de ministros do STF que têm boa relação com o mundo político, como Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes, e até dos indicados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para a corte, como Kassio Nunes Marques e André Mendonça.>
Além disso, os presidentes da CCJ, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), já demonstraram simpatia pelo nome escolhido por Lula.>
Ele já obteve, inclusive, sinalização favorável da bancada evangélica, que é ligada a Bolsonaro e poderia representar um ponto de resistência ao seu nome.>
Para evitar conflitos com o grupo, tem respondido que questões de costumes, como descriminalização do aborto e das drogas, é um assunto a ser decidido na esfera legislativa e que não pretende, uma vez ministro, extrapolar suas competências como integrante da cúpula do Judiciário.>
Outra pergunta frequente é como se portará em relação a processos de Lula.>
O advogado deve responder que a lei tem instrumentos claros para resguardar a impessoalidade do julgador e que irá observar fielmente o que determina a legislação sobre casos de suspeição e impedimento.>
Interlocutores de Zanin dizem que diferentemente de outros indicados, ele não fez treinamentos com especialistas para encarar a sabatina.>
Pessoas próximas dizem que a ampla exposição nos últimos anos à frente dos processos de Lula, o que envolveu entrevistas duras e sustentações orais em grandes tribunais, lhe garantiram o traquejo necessário.>
Veja temas delicados que poderão ser tratados na sabatina de Zanin:>
DIREITOS DOS INDÍGENAS>
Com um Congresso hostil a causas indígenas e um governo sem força para enfrentar a bancada ruralista, o STF tem se tornado um dos pilares na defesa de povos tradicionais. Foi assim, por exemplo, nas ações em que a corte obrigou o governo anterior a adotar medidas rígidas de proteção de aldeias contra a Covid-19.>
O tema também está presente na corte devido ao julgamento que discute se é constitucional a tese do marco temporal, que delimita a demarcação de terras indígenas àquelas áreas ocupadas por eles na data da promulgação da Constituição de 1988.>
Pergunta a Zanin: O senhor entende que o processo de demarcação de terras indígenas deve ser conduzido pelo Executivo e regulamentado pelo Congresso ou vê espaço para o STF definir regras sobre o tema?>
VIOLÊNCIA POLICIAL E ENCARCERAMENTO EM MASSA>
A presidente do Supremo, Rosa Weber, deve pautar para julgamento o processo que discute a descriminalização do porte e uso de drogas.>
As decisões judiciais e policiais que consideram usuários e pequenos traficantes como criminosos que precisam ficar isolados, em vez de um esforço para reintegrá-los na sociedade, são apontadas como uma das principais causas para a superlotação dos presídios no país.>
Além disso, também está em discussão no Supremo a ação que debate a atuação da polícia no Rio de Janeiro.>
Perguntas a Zanin: O senhor concorda com a decisão do ministro Edson Fachin para obrigar a polícia fluminense a usar câmeras de monitoramento durante o trabalho?>
O senhor entende que a compra de drogas deve ser considerada crime apto a causar a decretação de prisão?>
DECISÕES DE OFÍCIO, INDIVIDUALIZAÇÃO DAS PENAS E INQUÉRITOS SEM PRAZO>
O ministro Alexandre de Moraes, com o respaldo da maioria da corte, tem dado uma série de decisões heterodoxas sob o argumento de que medidas excepcionais são necessárias para impedir o avanço do autoritarismo e a propagação de fake news.>
A corte deu decisões de ofício, ou seja, sem pedido prévio do Ministério Público, que é o titular da ação penal. Também julgou em massa acusados de investidas golpistas em 8 de janeiro sem individualizar a conduta de cada investigado. Além disso, tem retirado do ar perfis nas redes sociais de parlamentares e militantes por disseminação de notícias fraudulentas.>
Perguntas a Zanin: Até que ponto o senhor entende que uma declaração está protegida pela liberdade de expressão ou, então, merece ser enquadrada como crime?>
O senhor, enquanto advogado, sempre defendeu o respeito aos direitos dos réus. O senhor considera adequado fazer julgamentos em grupo sem individualização de condutas?>
PAPEL DO STF E ATIVISMO JUDICIAL>
O STF é alvo de duras críticas por parte do Congresso por, supostamente, invadir as atribuições do Legislativo para criar novas normas em vez de apenas interpretar a Constituição.>
Por outro lado, ministros defendem que o Supremo não pode abrir mão do seu papel contramajoritário de poder frear avanços contra minorias, justamente por ser um Poder independente e com menos preocupação em agradar a maioria da população.>
Perguntas a Zanin: O senhor acha que o STF tem invadido atribuições do Legislativo?>
Em sua visão, o Supremo acertou ou adentrou a esfera legislativa ao igualar a homofobia ao crime de racismo por omissão legislativa do Congresso?>
IMPEDIMENTOS E PARENTES ADVOGADOS>
Além da defesa do presidente Lula, Zanin advogou para grandes empresas e entidades do país. Ele é dono de um escritório, que deve continuar sob o comando de sua mulher, Valeska Zanin. É comum no Supremo e em tribunais superiores a atuação de parentes de ministros em processos milionários.>
Perguntas a Zanin: O senhor pretende julgar processos que envolvam empresas com as quais o senhor já manteve relação profissional?>
O senhor pretende se declarar suspeito para analisar ações que envolvam clientes do escritório que segue com seus familiares?>
Como irá se portar em processos criminais de Lula que ainda estão no Supremo? E ações contra decretos e normas assinadas pelo presidente no atual mandato, o senhor se sente imparcial o suficiente para julgar?>
RELAÇÕES TRABALHISTAS>
Três ex-babás dos filhos do casal Cristiano Zanin e Valeska Teixeira Zanin Martins ingressaram na Justiça de SP com acusações de danos morais e condições de trabalho abusivas. As duas primeiras ações são de 2017 e a última em 2023.>
Pergunta a Zanin: O senhor sofreu ações de ex-babás que relatam desrespeito a regras trabalhistas, além de danos morais. Como responde a essas acusações e qual a sua posição sobre o atual arcabouço legal trabalhista?>
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