Publicado em 5 de dezembro de 2019 às 09:20
O Ministério Público do Rio de Janeiro decidiu retomar as investigações contra o senador Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ) após o STF (Supremo Tribunal Federal) fixar a tese sobre o repasse de dados sigilosos a promotores e procuradores.>
A Promotoria afirmou em nota nesta quarta-feira (4) que sempre usou os canais oficiais para solicitar a produção de relatórios do antigo Coaf, atualmente denominado UIF (Unidade de Inteligência Financeira). Esta foi a única exigência determinada pelos ministros do Supremo.>
A discussão sobre a investigação de Flávio deve, contudo, permanecer sob o crivo do Judiciário. A defesa do senador alega justamente que o Ministério Público solicitou por email dados ao antigo Coaf.>
Ao solicitar o trancamento da investigação em setembro no STF, o filho do presidente Jair Bolsonaro apresentou uma troca de emails entre promotores do MP-RJ em que um deles relata, em dezembro de 2018, ter solicitado diretamente ao Coaf esclarecimento sobre o primeiro relatório que levou à abertura da investigação, produzido em janeiro de 2018.>
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Na mensagem, o membro do Ministério Público afirma ter conversado com integrantes do antigo Coaf, que se comprometeram a entrar em contato com o banco a fim de esclarecer divergências no documento.>
O ministro Gilmar Mendes concedeu na ocasião liminar para paralisar o procedimento e qualquer ação judicial sobre a investigação. Na sua decisão, o magistrado afirma que a mensagem revela que promotores solicitaram por email informações sigilosas ao antigo Coaf.>
Naquele momento, contudo, a questão sobre a forma de transmissão de informação não era o ponto central da discussão, motivo pelo qual somente em uma nova ação a forma de atuação dos promotores pode ser discutida. Gilmar já revogou aquela decisão na semana passada.>
A nota do Ministério Público classifica a tese como falsa, e divulgou um ofício enviado pelo UIF nesta segunda-feira (2) em que afirma ter sido usado os canais oficiais para solicitação e transmissão dos documentos.>
A apuração sobre Flávio começou em janeiro de 2018 quando o antigo Coaf enviou espontaneamente um relatório indicando movimentação financeira atípica de Queiroz de R$ 1,2 milhão entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017.>
Além do volume movimentado, chamou a atenção a forma com que as operações se davam: depósitos e saques em dinheiro vivo em datas próximas do pagamento de servidores da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.>
A Promotoria suspeita de um esquema conhecido como "rachadinha", em que servidores são coagidos a devolver parte do salário para os deputados. >
Queiroz afirmou que recebia parte dos valores dos salários dos colegas de gabinete. Ele diz que usava esse dinheiro para remunerar assessores informais de Flávio, sem o conhecimento do então deputado. A sua defesa, contudo, nunca apontou os beneficiários finais dos valores.>
Outros cinco relatórios foram feitos para instruir a investigação, sendo quatro a pedido da Promotoria. Um deles indicava hora e data de 48 depósitos de R$ 2.000 entre junho e julho de 2017 na conta de Flávio.>
Em abril deste ano, a Justiça fluminense aceitou pedido do Ministério Público para quebrar os sigilos bancário e fiscal do senador e outras 102 pessoas no âmbito dessa investigação. A apuração do MP-RJ visa identificar eventuais provas dos crimes de peculato, lavagem de dinheiro, ocultação de patrimônio e organização criminosa.>
A apuração foi interrompida por liminar do ministro Dias Toffoli, do STF, alegando que o antigo Coaf não poderia compartilhar dados detalhados das movimentações bancárias --tese que foi derrotada no plenário agora.>
Há ainda no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro outros dois habeas corpus, um de Flávio e outro de Queiroz, apontando ilegalidade na decisão que autorizou a quebra de sigilo. Esses processos voltam a tramitar após a decisão do STF.>
Embora estivesse empregado no gabinete de Flávio entre 2007 e 2018, a origem da relação de Queiroz com a família Bolsonaro é o presidente da República. Os dois se conhecem desde 1984 e pescavam juntos em Angra dos Reis.>
O PM aposentado também depositou R$ 24 mil na conta da primeira-dama Michelle Bolsonaro em 2016. O presidente afirma se tratar de parte da quitação de um empréstimo de R$ 40 mil.>
Em áudio revelado pelo jornal Folha de S.Paulo em outubro, Queiroz demonstrou preocupação com a investigação do Ministério Público e a comparou com um problema "do tamanho de um cometa".>
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