Publicado em 10 de janeiro de 2023 às 09:37
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) atingiu o menor nível de popularidade na internet dos últimos quatro anos após os ataques golpistas em Brasília no domingo (8), segundo o Índice de Popularidade Digital (IPD), sinalizando racha na base bolsonarista e incerteza sobre o potencial mobilizador do líder.>
Bolsonaro registrou nesta segunda-feira (9) a marca de 21 pontos no indicador, que varia de 0 a 100 e é calculado diariamente pela empresa de pesquisa e consultoria Quaest. No sábado (7), antes da ação dos vândalos, seu desempenho estava na casa dos 40 pontos. O saldo dos atos de terrorismo na capital federal foi, portanto, negativo para o ex-mandatário em um terreno que lhe é caro, o virtual.>
O pico da popularidade do então presidente foi em 7 de outubro, entre o primeiro e o segundo turno, quando chegou a 88,1 pontos -melhor performance desde que o índice passou a ser diário, em janeiro de 2019.>
Como mostrou a Folha de S.Paulo, os resultados de Bolsonaro no IPD vinham em declínio desde a derrota para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O petista teve nos primeiros dias de mandato em torno de 70 pontos no monitoramento de popularidade.>
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Para Felipe Nunes, diretor da Quaest e professor de métodos quantitativos da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), perder influência nas redes sociais é uma derrota significativa para Bolsonaro, líder político que ascendeu e se estabeleceu a partir da agitação nesse ambiente.>
O IPD é calculado por meio de um algoritmo de inteligência artificial que coleta e processa 152 variáveis das plataformas Twitter, Facebook, Instagram, YouTube, Wikipédia e Google.>
São consideradas na nota final cinco dimensões: fama (número de seguidores), engajamento (comentários e curtidas por postagem), mobilização (compartilhamentos), valência (proporção de reações positivas e negativas) e interesse (volume de buscas).>
O peso que cada dimensão tem na conta é determinado por um modelo assimilado pela máquina a partir dos resultados reais de eleições anteriores, com milhares de candidaturas monitoradas pela empresa.>
Segundo Nunes, que também é cientista político, a postura lacônica de Bolsonaro após a derrota, com o longo silêncio quebrado apenas por declarações dúbias a seus simpatizantes e, ao fim, a viagem para os Estados Unidos antes do término do mandato dividiram o capital dele no espaço digital.>
"O IPD mostra que, se o objetivo das manifestações era atingir a popularidade e a governabilidade do presidente Lula, o que aconteceu, na verdade, foi que os atos atingiram a credibilidade do bolsonarismo, dificultando o trabalho da oposição, já que ela está sendo associada àqueles eventos", diz ele.>
Nunes classifica como "muito representativo" o recorde negativo de Bolsonaro pelo fato de o bolsonarismo ter se fundado e se fortalecido com estratégia voltada a redes sociais.>
Em análise isolada sobre os dados que compõem o IPD, o pesquisador diz que o ex-presidente mantém força considerável em critérios como fama e mobilização, mas se desidratou especialmente no quesito valência.>
"Significa que a imagem dele está mais negativa porque há mais comentários negativos sobre ele. E também porque ele não consegue, ou não quer, produzir uma articulação mais coordenada. Em resumo, ele perde um ativo que foi importantíssimo para ele na Presidência da República", afirma.>
No dia dos ataques às sedes dos Poderes, Bolsonaro publicou no Twitter que depredações "fogem à regra" da democracia. "Ele, de certa maneira, condena os atos, mas a posição tem uma ambiguidade", observa Nunes. O ex-presidente fechou o domingo com 22,1 pontos no IPD, marca levemente superior à do dia seguinte.>
Outra queda brusca relevante na pontuação tinha sido perto do 7 de Setembro de 2021. Após insuflar manifestações e sinalizar à base desobediência civil e flerte com golpe, Bolsonaro divulgou uma carta em tom de recuo, articulada na época pelo ex-presidente Michel Temer (MDB).>
Com a militância radical frustrada, a popularidade dele caiu de 81,8 pontos no Dia da Independência, uma terça-feira, para 53,7 na quinta, dia da publicação da carta colocando panos quentes, e 37,1 na sexta.>
"A base bolsonarista hoje está rachada, e dividir a base resulta em perda. Todas as vezes ao longo da campanha eleitoral que Bolsonaro radicalizou o discurso, a popularidade caiu. Agora, com seu nome associado aos eventos em Brasília, ele acaba prejudicado na seara digital", afirma Nunes.>
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