Publicado em 3 de dezembro de 2019 às 18:28
O Ministério Público do Rio de Janeiro denunciou o policial militar Rodrigo José de Matos Soares, 38, pela morte da menina Ágatha Félix, 8. A garota foi atingida dentro de uma Kombi quando voltava de um passeio com a mãe, em 20 de setembro, no Complexo do Alemão (zona norte carioca). >
O PM foi acusado por homicídio doloso (intencional) qualificado, "por motivo torpe [fútil] e mediante recurso que dificultou a defesa das vítimas, em momento pacífico na localidade, com movimentação normal de pessoas e veículos". A pena para esse crime varia de 12 a 30 anos de prisão.>
A Promotoria pediu que a Justiça suspenda a autorização do agente para o porte de arma de fogo e o afaste das ruas, o que já foi feito, segundo a Polícia Militar. Também solicitou que ele seja proibido de ter contato com as testemunhas, compareça de tempos em tempos ao juízo e seja impedido de viajar.>
A denúncia segue a conclusão do inquérito da Polícia Civil, entregue dois meses após o caso. Segundo as investigações, o cabo Soares, que trabalhava na UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) da região da Fazendinha, atirou quando dois homens passaram de moto em alta velocidade ao lado da Kombi.>
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Ele, porém, errou. O projétil bateu em um poste, se fragmentou, passou pelo banco traseiro e atingiu as costas de Ágatha. Eram cerca de 21h30 de uma sexta-feira e a rua estava movimentada.>
"O resultado morte em relação às duas pessoas não identificadas acima mencionadas, vítimas que o denunciado pretendia ofender, somente não foi consumado por circunstâncias alheias à sua vontade, tendo em vista que os disparos efetuados não lograram atingir as referidas vítimas", diz a denúncia.>
O policial afirmou que agiu em legítima defesa e revidou tiros vindos da moto divergindo da versão inicial da própria PM, de que os agentes teriam sido atacados de diversos pontos da comunidade. A tese de que houve qualquer troca de tiros, no entanto, foi rechaçada pela polícia. "A ação violenta foi imoderada e desnecessária", escreveram os promotores.>
Eles enviaram uma cópia dos documentos ao Ministério Público Militar, para que o órgão apure se policiais da unidade envolvida (1ª UPP do 16º batalhão) também cometeram possíveis crimes de falso testemunho, prevaricação e coação. Questionada, a Promotoria não detalhou a que fatos se referem essas suspeitas.>
Elas podem estar relacionadas, por exemplo, ao relato de médicos de que teriam sido pressionados por um grupo de policiais a entregar, naquela noite, o fragmento de projétil encontrado no corpo de Ágatha. O episódio foi publicado em outubro pela revista Veja e depois descartado pelos investigadores, que concluíram que os agentes apenas acompanharam a ocorrência e que portanto não houve coação.>
É a primeira vez que o nome do policial acusado pela morte da menina, Rodrigo José Soares, é divulgado. Mais de dois meses após o crime, a Polícia Civil ainda não havia informado quem era o suspeito, diferentemente do que costuma fazer quando algum traficante, por exemplo, é descoberto ou preso.>
O delegado Daniel Rosa, chefe da Delegacia de Homicídios do Rio, negou na ocasião que houvesse corporativismo e se limitou a responder que o nome não seria divulgado porque não seria divulgado. >
A PM, que investiga o caso paralelamente, não respondeu em que fase está o Inquérito Policial Militar (IPM) aberto internamente. A reportagem não conseguiu localizar a defesa de Soares.>
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