> >
Morre aos 87 anos o ex-ministro do Planejamento João Paulo dos Reis

Morre aos 87 anos o ex-ministro do Planejamento João Paulo dos Reis

Ele estava com a saúde bastante fragilizada nos últimos meses e morreu em sua casa, no Rio de Janeiro

Publicado em 19 de fevereiro de 2019 às 20:24

Ícone - Tempo de Leitura 0min de leitura
Morre aos 87 anos o ex-ministro do Planejamento João Paulo dos Reis. (Wilson Dias/Agência Brasil)

Morreu na manhã desta terça-feira (19), aos 87 anos, o economista João Paulo dos Reis Velloso. Ex-ministro do Planejamento entre 1969 e 1979, durante a ditadura militar, ele estava com a saúde bastante fragilizada nos últimos meses e morreu em sua casa, no Rio de Janeiro.

Sempre muito ativo na vida pública, o economista foi o idealizador do Fórum Nacional, que buscava fomentar o debate sobre temas importantes para o crescimento do país. Anualmente, a instituição apartidária promovia um debate no Rio de Janeiro que ficou batizado como "fórum do Reis Velloso".

"O Fórum reflete a enorme preocupação que ele sempre teve com o desenvolvimento do país e de sua personalidade liberal, que o levava a tentar promover debates plurais", afirma o economista Fernando Veloso, pesquisador da FGV-Rio e sobrinho do ex-ministro.

As reuniões se tornaram famosas por abrigar personalidades -como ministros, empresários e até presidentes da República- de todos os matizes ideológicos.

Nos últimos dois anos, no entanto, a fragilidade da saúde do ex-ministro levou seu irmão, o também economista Raul Velloso a assumir a organização do encontro anual do Fórum, com a ajuda de Fernando.

Apesar dos limites físicos causados pela idade avançada, Reis Velloso continuava ativo intelectualmente. Trabalhava no projeto de um livro sobre o desenvolvimento econômico que não chegou a concluir. Além de ter publicado obras sobre economia, também tinha grande interesse -e foi autor de livros- sobre história e teologia.

Segundo Fernando Veloso, a grande preocupação do ex-ministro era em relação à falta de um projeto de longo prazo para o país.

"Ele sentia que o Brasil havia perdido o rumo do desenvolvimento e que a própria ideia de desenvolvimento tinha se perdido".

Apesar disso, segundo o economista, Reis Velloso não era um saudosista da ditadura militar.

"Ele sempre teve apreço pela democracia", diz.

O economista ressalta ainda a enorme contribuição que Reis Vellloso deu ao país participando ativamente do desenho de importantes instituições como a Finep (Financiadora de Estudos e Projeto) e o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).

Além de elaborar seu projeto de criação, a pedido do então ministro do Planejamento Roberto Campos, o economista foi o primeiro presidente do Ipea durante as gestões de Humberto Castelo Branco e Artur da Costa e Silva.

Depois de atuar como secretário-geral do Ministério do Planejamento ainda no governo Costa e Silva, Reis Velloso acabou assumindo o comando da pasta quando Emílio Garrastazu Médici se tornou presidente, em outubro de 1969.

No período, no entanto, era ofuscado pelo então todo-poderoso ministro da Fazenda, Antônio Delfim Netto. O jogo mudou quando Médici foi sucedido por Ernesto Geisel e Delfim foi substituído pelo economista Mario Henrique Simonsen.

Uma das primeiras providências de Velloso foi convencer Geisel de que a pasta de Planejamento deveria se transformar em um órgão da presidência da República.

"Virou a Secretaria de planejamento da Presidência da República", contou Velloso em entrevista à Folha de S.Paulo em 2014, batendo com a caneta na mesa para enfatizar a importância da instituição que passou a comandar.

"Então, ninguém se metia a besta comigo", concluiu o ex-ministro.

Durante a conversa, parte de um especial da Folha de S.Paulo sobre os 30 anos do golpe de 1964, Velloso atribuiu à herança deixada por medidas tomadas na gestão de Delfim -como um início de abertura da economia- a dificuldades econômicas enfrentadas mais tarde por Geisel.

"Com isso se criou o que eu chamo de o ovo da serpente", disse [em referência ao filme homônimo de Ingmar Bergman].

Segundo Velloso, para evitar uma recessão, o governo optou, na época, por desvalorizar o câmbio. Na época, Delfim refutou a crítica e atribui a Geisel os erros de política econômica que levaram o país à bancarrota na década de 80.

"O Velloso é um grande amigo meu, competentíssimo, mas está com a memória muito ruim. Quem quebrou Brasil foi o Geisel. Quem quebrou o Brasil foi o Geisel", afirmou Delfim à Folha de S.Paulo no início de 2014.

Este vídeo pode te interessar

Após deixar o governo em 1979, Velloso trabalhou na iniciativa privada e na academia -foi presidente do Ibmec-, além de coordenar o Fórum. Ao longo da vida, recusou diversos convites para lançar candidaturas políticas. Era casado com Isabel, com quem tinha dois filhos, além de um terceiro de seu matrimônio anterior.

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais