Publicado em 25 de janeiro de 2020 às 18:13
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, deverá manter sua exposição pública mesmo diante de um processo explícito de fritura de Jair Bolsonaro. >
Nos bastidores, o presidente já demonstrou incômodo com a popularidade do ex-juiz da Operação Lava Jato.>
Moro não se deixou convencer, por exemplo, pelos aconselhamentos do Palácio do Planalto para que ele não participasse do programa Roda Viva, da TV Cultura, exibido na segunda-feira (20).>
Mesmo com a pressão de aliados de Bolsonaro para que se recolha dos holofotes da imprensa e das redes sociais, ele deverá conceder nova entrevista nesta segunda-feira (27), desta vez ao programa Pânico, da rádio Jovem Pan.>
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Moro segue ainda com o ritmo de publicações nas redes sociais em meio ao bombardeio mais recente de Bolsonaro, quando o presidente disse publicamente que poderia desmembrar o ministério da Justiça e recriar a pasta da Segurança Pública.>
Além da participação em entrevistas, outros gestos de Moro nos últimos dias causaram desconforto os assessores mais próximos de Bolsonaro.>
Na quarta-feira (22), por exemplo, Moro cumprimentou publicamente o ministro Luiz Fux, do STF (Supremo Tribunal Federal), pela decisão de suspender a criação da figura do juiz das garantias, que havia sido validado por Bolsonaro no fim de 2019.>
Além de sua conta no Twitter, o ministro criou na quinta (23) um perfil no Instagram, um sinal de que pretende ampliar a presença nas redes sociais arena do debate político cara ao bolsonarismo.>
O movimento foi feito durante uma enxurrada de apoios ao ex-juiz nas redes, combinada de críticas a Bolsonaro por tentar enfraquecê-lo.>
Pessoas próximas de Moro dizem que ele tem consciência de que Bolsonaro seguirá no processo gradual de queimá-lo e tentará conter sua popularidade por ver no ministro uma potencial ameaça para seu projeto de se reeleger presidente em 2022.>
Por outro lado, continuam esses aliados do ministro, Moro avalia que sua popularidade independe de vínculo com o governo e que, em alguns casos, ele pode até se beneficiar se for alvo de ataques.>
A força do ex-juiz junto à opinião pública se refletiu na formação de uma bancada informal de congressistas que hoje consideram a pauta tocada por Moro prioritária.>
Esse grupo também reagiu à tentativa de desidratação.>
"Acho que o Ministério da Justiça está funcionando. O ministro Moro adquiriu muita experiência sobre segurança pública neste ano e conheceu de perto a situação. O Brasil hoje exige uma situação mais enxuta na Esplanada", afirmou o deputado João Campos (Republicanos-GO).>
"Falo muito com os líderes do Congresso. Eles não têm preocupação nenhuma com a reeleição do Bolsonaro. Mas têm verdadeira paúra da possibilidade de o ministro Moro ser candidato. Eles consideram ele imbatível", disse o deputado Capitão Augusto (PL-SP), um dos principais aliados de Moro no Congresso.>
A fritura fez Moro dizer a aliados que deixaria o governo caso o Ministério de Segurança Pública fosse recriado.>
O passo atrás dado pelo presidente mostra, na avaliação de pessoas próximas ao ex-juiz, que ele está em uma posição confortável: a de quem pode calcular o melhor momento político para eventualmente deixar o governo.>
Moro resistiu bem à operação para tentar enfraquecê-lo.>
A reação das redes sociais e conversas com os principais aliados levaram Bolsonaro a recuar publicamente.>
Ao desembarcar em Déli, na Índia, na sexta-feira (24), ele foi enfático ao descartar, por ora, a possibilidade de desidratar o auxiliar mais popular.>
O episódio mais recente da animosidade entre presidente e ministro teve como principal pivô o desempenho de Moro no Roda Viva.>
Bolsonaro se mostrou irritado com a participação do ministro, avaliada por ele como a de alguém que tem pretensões políticas para além da função que ocupa.>
Incomodou ainda o presidente a forma como Moro respondeu a críticas feitas ao governo, pois esperava uma defesa mais contundente.>
Apesar de manter a agenda pública e não se dobrar à vontade presidencial, Moro não deverá polemizar com Bolsonaro. Ele seguirá fazendo um discurso de combate à corrupção e de exaltação dos feitos à frente da Justiça.>
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