Publicado em 21 de setembro de 2020 às 10:36
Depois de ganhar apoios junto a artistas e intelectuais historicamente ligados ao PT, a chapa Guilherme Boulos/Luiza Erundina, do PSOL, avança sobre a base petista na periferia de São Paulo. Lideranças comunitárias que há décadas apoiavam o PT ouvidas pelo Estadão disseram que agora estão com Boulos. Algumas delas vão fazer campanha para candidatos petistas a vereador. >
Assessor de movimentos populares e pastorais sociais da Igreja Católica em Ermelino Matarazzo (zona leste), Waldir Aparecido Augusti, o professor Waldir, se orgulha em dizer que votou pela primeira vez na vida em 1982, no PT, e desde então ele e a mulher se mantiveram fiéis ao partido em todos os pleitos. >
Neste ano, porém, vai ser diferente. Professor Waldir, que é filiado ao PT, decidiu apoiar a chapa do PSOL. "Há tempos a gente defende que o PT retorne às suas origens, retome sua relação com as bases e dê formação e espaço para novos dirigentes. Infelizmente, de um tempo para cá o partido tem um comando que encaminha as questões sem a participação da base.">
Segundo ele, um dos reflexos disso é a falta de nomes competitivos para disputar a Prefeitura na cidade que já foi governada três vezes pelo PT e que levou à escolha de Jilmar Tatto, um quadro forte na política interna do partido mas desconhecido do eleitorado, como candidato. "Boulos é uma nova liderança e a união com Erundina foi uma surpresa agradável", disse ele. >
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Apesar de se aliar ao PSOL na disputa majoritária, o professor vai apoiar a petista Juliana Cardoso para a Câmara Municipal. "Se o candidato do PT fosse o (Fernando) Haddad ou o (Alexandre) Padilha au teria apoiado." Waldir é próximo do bispo emérito dom Angélico Sândalo Bernardino, amigo há décadas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e do Padre Ticão, líder comunitário na zona leste. Ticão já recebeu dez candidatos no salão da paróquia de São Francisco, entre eles Boulos. "Jilmar (Tatto) ainda não veio e nem marcou visita." Ticão ainda não decidiu quem vai apoiar.>
A resistência de Dom Angélico e Padre Ticão em embarcarem na campanha de Tatto foi usada como exemplo da perda de apoio nas franjas da capital em reunião entre dirigentes petistas e Lula na segunda-feira, na qual lideranças defenderam a troca de Tatto por Padilha ou até a desistência da candidatura. Lula ficou preocupado, cobrou correções, mas bancou Tatto. >
A estrutura partidária criada ao longo de três décadas na periferia paulistana é um dos trunfos do PT para fazer Tatto decolar junto com o tempo de TV, maior do que o dos adversários da esquerda. A prioridade à periferia está no centro do discurso de Tatto. Mas essa estrutura já deu sinais de fraqueza em 2016, quando Haddad perdeu em todos os distritos eleitorais. >
"Sou filiado ao PT, tenho um compromisso de apoiar o (vereador) Antonio Donato mas para prefeito vou votar no Boulos", disse João Cardoso, da Associação Beneficente, Solidária e Cultural da Vila Ré, também na zona leste. Cardoso diz que apoiaria o candidato do PSOL mesmo que o PT tivesse escolhido um nome mais palatável. E reclamou da forma da escolha, em um colégio limitado a 604 pessoas por causa das restrições impostas pela Covid-19, e não por voto direto. >
Cardoso disse não se preocupar com retaliações no partido. A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, ameaçou usar o estatuto do partido contra que filiados que apoiarem outros candidatos. "A presidente é pessoa democrática e se ouvir a minha explicação vai entender os motivos que me levaram a isso.">
Depois de 35 anos ao lado do PT, Adailton Costa de Miranda, o Alemão, liderança comunitária e ex-diretor do Clube Desportivo Bento Bicudo, na Lapa de Baixo, Zona Oeste, também vai apoiar Boulos. Para vereador ele cogita apoiar Alfredinho, do PT. "Quero fechar a comunidade com o Boulos. São 6 mil votos.">
Em nota, a campanha de Tatto minimizou a perda de apoios. "O PT-SP possui 178 mil filiados e os referidos casos, que não possuem cargo na estrutura partidária, não chegaram oficialmente ao conhecimento da direção.">
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