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Freire Gomes diz que Bolsonaro convocou reuniões com chefes das Forças Armadas para anular eleição

Freire Gomes diz que Bolsonaro convocou reuniões com chefes das Forças Armadas para anular eleição

Ex-comandante do Exército relatou à Polícia Federal que encontros aconteceram no Palácio do Alvorada e que ex-presidente ‘apresentou hipóteses de utilização de institutos jurídicos como GLO, estado de defesa e sítio em relação ao processo eleitoral’; defesa do ex-presidente não se manifestou

Publicado em 15 de março de 2024 às 10:30

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Rayssa Motta e Fausto Macedo

O general Marco Antônio Freire Gomes, ex-comandante do Exército, colocou o ex-presidente Jair Bolsonaro no centro de articulações golpistas para anular o resultado das eleições de 2022.

General Freire Gomes e ex-presidente Jair Bolsonaro durante evento do Dia do Soldado, em Brasília
General Freire Gomes e ex-presidente Jair Bolsonaro durante evento do Dia do Soldado, em Brasília . (Gabriela Biló/Folhaexpress)

Em depoimento prestado à Polícia Federal (PF) no dia 1º de março, no inquérito do golpe, o general afirmou que Bolsonaro convocou reuniões no Palácio do Alvorada, após o segundo turno, e "apresentou hipóteses de utilização de institutos jurídicos como GLO (Garantia da Lei e da Ordem), estado de defesa e sítio em relação ao processo eleitoral".

A minuta golpista apreendida pela Polícia Federal teria sido apresentada em um encontro na residência oficial no dia 7 de dezembro de 2022, segundo o ex-comandante do Exército. "Bolsonaro informou que o documento estava em estudo e depois reportaria a evolução aos comandantes", diz um trecho do termo de depoimento. A defesa do ex-presidente foi procurada, mas não havia se manifestado até a publicação desta matéria.

Freire Gomes contou que o convite para comparecer ao Palácio do Alvorada foi enviado pelo então presidente por meio do então ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, mas que o tema da reunião não foi informado previamente. O encontro, segundo o depoimento, aconteceu na biblioteca da residência oficial.

Foi o assessor para assuntos internacionais da Presidência, Filipe Martins, preso na Operação Tempus Veritatis, quem "leu os considerandos e fundamentos jurídicos da minuta", narrou Freire Gomes.

O general também contou que uma versão diferente do documento foi apresentada em outra reunião, desta vez com os chefes das Forças Armadas e o ministro da Defesa. O rascunho, segundo Freire Gomes, previa a decretação do estado de defesa e a criação de uma comissão de regularidade eleitoral para apurar a "conformidade e legalidade" das eleições. Os dois pontos estavam presentes na minuta apreendida na casa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres, que negou saber a autoria do documento.

Freire Gomes alegou à PF que "sempre deixou evidenciado ao então presidente que o Exército não participaria da implementação desses institutos visando reverter o processo eleitoral" e que Bolsonaro "não teria suporte jurídico" para anular o resultado da eleição. O chefe da Marinha, almirante Almir Garnier, teria se colocado à disposição do ex-presidente, de acordo com o general.

A Polícia Federal também questionou o ex-chefe do Exército sobre a carta escrita por oficiais da ativa quando bolsonaristas radicais acampavam próximo a instalações das Forças Armadas. O texto pedia medidas para "manutenção da Garantia da Lei e da Ordem e da preservação dos poderes constitucionais".

Freire Gomes disse que considerou a iniciativa uma tentativa de fazer pressão para que os comandantes aderissem ao plano golpista. "Após verificarem que comandantes não iriam aceitar qualquer ato contra democracia, começaram a realizar ataque pessoais", afirmou.

Mensagens apreendidas pela PF mostram que o general Walter Braga Netto, ex-ministro da Casa Civil, liderou uma campanha velada, mas agressiva, de pressão a oficiais das Forças Armadas que rejeitaram aderir ao plano golpista. Em um dos diálogos, em dezembro de 2022, Braga Netto afirma que a "culpa pelo que está acontecendo e acontecerá é do general Freire Gomes". "Omissão e indecisão não cabem a um combatente", acrescenta o ministro. "Oferece a cabeça dele. Cagão."

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