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Coronel que já mediou dois motins tentará novo acordo com PMs no Ceará

Coronel que já mediou dois motins tentará novo acordo com PMs no Ceará

Paralisação chega ao 9º dia com 170 assassinatos no estado e quatro quarteis fechados, com viaturas bloqueadas

Publicado em 26 de fevereiro de 2020 às 19:40

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O objetivo é chegar a um acordo para o fim da paralisação até sexta-feira (28), quando terminará a GLO (Garantia da Lei e da Ordem) . (Camila Lima/SVM)

Um coronel da reserva da Polícia Militar foi escolhido para mediar negociação entre os policiais militares paralisados no Ceará e uma comissão criada com membros dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. O coronel Walmir Medeiros já teve atuação semelhante em outro motim dos PMs cearenses, entre 2011 e 2012.

O motim chega nesta quarta-feira (26) ao nono dia, com saldo de ao menos 170 assassinatos no estado e quatro quartéis fechados por PMs e familiares -em Fortaleza, Caucaia, Juazeiro e em Sobral. 

Foi em Sobral, a 270 km da capital cearense, que o senador licenciado Cid Gomes (PDT) foi baleado após investir contra amotinados com uma retroescavadeira, na semana passada.  Cid já teve alta e se recupera em sua casa em Fortaleza.

O objetivo é chegar a um acordo para o fim da paralisação até sexta-feira (28), quando terminará a GLO (Garantia da Lei e da Ordem) assinada pelo presidente Jair Bolsonaro. O governo federal enviou 2.600 homens das Forças Armadas para ajudar no policiamento ostensivo no Ceará. Não há previsão, no momento, de prorrogação da GLO.

A comissão não quis negociar diretamente com líderes da paralisação; por isso, a escolha de um mediador que não participa do motim. 

A opção por Medeiros foi feita após visita nesta quarta (26) do presidente da OAB-CE (Ordem dos Advogados do Brasil), Erinaldo Dantas, ao 18º Batalhão da PM, uma espécie de quartel-general dos amotinados. A OAB participa da negociação como observadora, junto com o Ministério Publico do Ceará.

"Não pretendemos acabar com a paralisação até acertarmos os termos de um acordo", disse à reportagem um dos líderes do movimento, o ex-deputado federal Cabo Sabino. 

Ele esteve todos esses dias junto com os policiais paralisados no 18º Batalhão, que desde a noite de 18 de fevereiro tem o acesso bloqueado por viaturas com os pneus esvaziados.

Sabino disse que são três as principais reivindicações que serão enviadas à comissão por meio de Medeiros: anistia para transgressões administrativas dos policiais que protestam, aumento de salário de soldado para R$ 4.932 (em uma parcela) e equiparação do auxílio-alimentação dos militares ao que é pago a outros servidores do governo.

"Queremos a anistia administrativa. Aqueles que cometeram crimes nesse período, que paguem pelos crimes. Sobre o aumento nossa pauta é receber de uma vez, mas vai pela negociação", disse Sabino.

O governo avisou que não pretende dar anistia a nenhum dos policiais envolvidos na paralisação --230 já foram afastados por 120 dias e ficarão fora da folha salarial no período. Outros 43 foram presos, 37 por deserção por não terem aparecido para trabalhar em operação especial de Carnaval no interior.

O governador, Camilo Santana (PT), também já disse que o reajuste oferecido é o limite que o Estado pode dar. No projeto de lei enviado dia 18 de fevereiro à Assembleia Legislativa, o salário de um soldado subiria de R$ 3.475 para R$ 4.500, parcelado em três vezes (pagamentos em março de 2020, março de 2021 e março de 2022).

A comissão criada para negociar foi uma solução encontrada para tentar colocar fim à paralisação, já que o governo afirmou que não trataria com os policiais manifestantes, que optaram na maioria por usar carapuças e ocupar batalhões. 

Fazem parte da comissão criada o procurador-geral do Estado, Juvêncio Viana, o deputado estadual Evandro Leitão (PDT), o corregedor-geral, desembargador Teodoro Silva Santos, e o procurador-geral de Justiça, Manuel Pinheiro.

Até segunda-feira (24) haviam sido contabilizados 170 homicídios no Ceará em seis dias desde o início do motim, uma média de 28 por dia -nos primeiros 18 dias de fevereiro foram 164, média de nove por dia. Em janeiro de 2020 foram 261 homicídios, uma média de quase nove por dia.

ENTENDA O MOTIM DA PM NO CEARÁ: 

O QUE QUEREM OS PM'S? 

Pedem que o governo refaça a proposta de reestruturação salarial enviada na terça (18) para a Assembleia. O projeto de lei prevê aumento de salário para os soldados da PM e para bombeiros de R$ 3.475 para R$ 4.500, com reajuste parcelado em três vezes até 2022.

Os PMs demandam que o pagamento seja feito em apenas uma parcela e que o salário chegue a R$ 4.932. Eles também querem anistia aos manifestantes.

QUANDO O MOTIM COMEÇOU? 

Na tarde de 18 de fevereiro. Desde a madrugada de quarta (19), pessoas encapuzadas passaram a invadir quartéis, ao menos quatro ainda estão sob o comando dos manifestantes. 43 policiais militares foram presos e 230 foram suspensos suspeitos de participação. Eles não receberão salário.

COMO ESTÁ O MOTIM, APÓS NOVE DIAS? 

A paralisação chega nesta quarta-feira (26) com um saldo de 170 assassinatos no Ceará. Ainda há quatro batalhões da PM fechados por policiais (alguns usam máscaras para cobrir o rosto) e familiares -em Fortaleza, Caucaia, Juazeiro e em Sobral 

PM's PODEM FAZER GREVE? 

Não. Greve é proibida para agentes das polícias Civil, Militar, Federal, Rodoviária Federal, Ferroviária Federal e Corpo de Bombeiros.

QUAL O CENÁRIO POLÍTICO NO ESTADO ATUALMENTE? 

O principal pré-candidato da oposição à prefeitura de Fortaleza na eleição de 2020 é o deputado federal Capitão Wagner (Pros), ex-integrante da PM e que, entre 2011 e 2012, liderou mobilização dos policiais militares quando Cid Gomes era o governador.

Hoje, a prefeitura da capital é comandada pelo PDT de Ciro e Cid Gomes, com Roberto Cláudio, mas ele está em segundo mandato. Ainda não há um nome de consenso entre os governistas para a disputa. O governo é comandado por Camilo Santana (PT), aliado de Ciro e Cid Gomes.

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