Publicado em 11 de agosto de 2021 às 19:07
A curva de casos de síndrome respiratória aguda grave (SRAG) no Brasil começa a dar sinais de estar subindo novamente, após quase três meses de queda. A conclusão é do último boletim InfoGripe da Fiocruz, que leva em conta dados dos dias 1º a 7 de agosto. >
A linha se reverteu há pouco tempo. Se for analisada a chamada tendência a longo prazo, das últimas seis semanas, os números ainda indicam estabilidade ou oscilação. Já no curto prazo -ou seja, nas últimas três semanas-, a probabilidade de haver aumento no país é de mais de 75%.>
"Isso é evidência forte de interrupção de queda e sugestivo de retomada do crescimento, que devemos reavaliar nas próximas semanas para confirmar", ressalta o epidemiologista Marcelo Gomes, coordenador do InfoGripe, que espera ver o mesmo movimento nas internações e nos óbitos em breve.>
A plataforma monitora os casos de síndrome respiratória registrados no sistema Sivep-Gripe, do Ministério da Saúde. Desde o ano passado, esse tipo de síndrome tem sido causada quase exclusivamente pelo coronavírus. Na análise, considera-se a data em que o paciente sentiu os primeiros sintomas.>
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As regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste, principalmente, puxam a alta recente no país. Rio de Janeiro, Mato Grosso do Sul e Acre são os estados que dão sinais mais claros de retomada da doença, mas os flumineses são os que mais preocupam.>
O estado do Rio é o único que registra tendência de aumento tanto a longo prazo quanto a curto prazo, desde meados de julho, inclusive na capital. O prefeito Eduardo Paes (PSD) chegou a anunciar um plano de flexibilização permitindo eventos a partir de setembro, mas depois sinalizou que deve voltar atrás.>
Na contramão da maioria das unidades da federação, o RJ também tem visto a ocupação de seus leitos de UTI subir: de 59% há seis semanas, passou a 61% na semana passada e a 67% nesta semana. Rio e Goiânia são as capitais que mais preocupam, com 97% e 92% de lotação de leitos de UTI, segundo a Fiocruz.>
Para Gomes, o crescimento dos casos de SRAG ainda não pode ser atribuído integralmente ao avanço da variante delta. "Essa tendência é algo que já acontece há algumas semanas, e o estabelecimento da delta é mais recente. Neste momento é mais razoável assumir que são outros fatores", diz.>
Entre esses fatores, avalia, estão a redução de medidas de restrição e a maior circulação de pessoas nas ruas após a vacinação. "A população acaba se sentindo mais segura e reduzindo medidas de proteção, como usar máscara e evitar encontros em locais fechados", afirma.>
Uma outra projeção feita por um pesquisador da fundação, Leonardo Bastos, mostrou na semana passada que as hospitalizações de idosos voltaram a subir tanto no Rio de Janeiro, a partir dos 60 anos, quanto em São Paulo, a partir dos 80 anos, após meses de queda ou estabilidade com a imunização.>
Isso também indica, segundo Gomes, que a contribuição da vacina tem um teto. Como a cobertura vacinal nas faixas etárias mais velhas atingiu um nível muito alto e não é possível avançar mais, espera-se que a partir de agora o número de infecções entre os idosos siga a tendência coletiva.>
"Se a transmissão está alta em outras faixas, vai aumentar entre os idosos também, porque as vacinas não são 100% eficazes contra a transmissão. Por isso não se deve depositar todas as fichas exclusivamente na vacina e relaxar os demais cuidados", pondera.>
Uma outra hipótese para o aumento dos casos de SRAG seria da perda de proteção das vacinas ao longo do tempo, o que faz o Brasil e outros países estudarem e discutirem a eventual necessidade de um reforço na imunização. O epidemiologista, porém, não acha que esse fator é determinante para a alta geral ainda.>
"Isso ainda está sendo pesquisado, principalmente nas pessoas acima dos 80 anos. Nas demais faixas etárias, não parece ser algo extremamente preocupante agora. Pode até contribuir, mas não é um fator predominante para explicar a alta em toda a população", diz.>
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