Publicado em 23 de setembro de 2020 às 16:12
O ato de cantar produz 2,5 vezes mais partículas de saliva do que falar normalmente e 5 vezes mais do que respirar. Cantar alto é ainda mais perigoso: são expelidas 6 vezes mais partículas de saliva cantando com a voz elevada do que falando, podendo chegar a quase 11 vezes mais partículas do que respirar.>
Como as partículas podem conter o vírus Sars-CoV-2, o risco de contágio pode aumentar em até 11 vezes, caso essas atividades ocorram com pessoas a menos de 1 metro de distância.>
Essas foram as conclusões de um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Lund, na Suécia, publicados no último dia 17 na revista científica Aerosol Science and Technology.>
Tais evidências mostram que a retomada clandestina de atividades como festas em barcos e baladas ilegais -que têm se espalhado nas últimas semanas, mesmo sem a autorização para que ocorram no momento atual da pandemia- representam um risco ainda maior de contágio e disseminação do vírus.>
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O objetivo da pesquisa sueca foi analisar as partículas aerossóis ou gotículas emitidas durante o canto, comparadas às dispersas ao falar e tossir, além de avaliar a presença do vírus no ar após essas atividades com e sem o uso de máscaras.>
A transmissão do novo coronavírus pelo ar através das partículas aerossóis, que podem permanecer em suspensão por até três horas após falar, tossir ou espirrar, já foi comprovada.>
No entanto, os pesquisadores argumentaram que nenhum estudo buscou entender como essa transmissão é dada ao cantar. O único estudo avaliando o canto como via de contágio de doenças respiratórias foi publicado em 1968, sobre tuberculose.>
Para testar a hipótese, os cientistas realizaram um experimento com 12 pessoas, sendo 7 cantores profissionais e 5 amadores.>
Os voluntários foram orientados a fazer os seguintes exercícios, por dois minutos consecutivos cada um, repetindo um texto ou letra de música: falar normalmente (entre 50 a 60 decibéis, a 1 metro de distância), falar alto (de 65 a 80 decibéis), cantar normalmente (abaixo de 70 decibéis), cantar alto (de 70 a 90 decibéis), cantar alto com a dicção exagerada (70 a 90 decibéis), cantar alto em um tom agudo e cantar alto usando uma máscara cirúrgica.>
Em cada um dos exercícios foram medidos o tamanho e a concentração das partículas aerossóis expelidas, em uma escala de 0,5 a 10 micrômetros -acima de 10 micrômetros são consideradas como gotículas de saliva, que são maiores e evaporam rapidamente. As amostras foram colhidas de um funil de 50 cm de comprimento posicionado em frente aos cantores.>
Para controle, foi medida também a emissão de partículas respirando normalmente.>
Os resultados mostraram diferenças significativas na emissão de partículas aerossóis nos atos de respirar, falar e cantar. Cantar normalmente gerou mais partículas do que falar normalmente, enquanto cantar alto emitiu mais aerossóis do que cantar normalmente.>
De fato, a diferença na quantidade de partículas aerossóis muito pequenas -próximas a 0,6 micrômetros- eliminadas ao cantar alto foi quase sete vezes a quantidade emitida ao falar normalmente, e mais que o dobro da emitida ao falar alto.>
Os pesquisadores buscaram também avaliar a emissão de gotículas de saliva expelidas por 5 dos 12 cantores. Um vídeo de alta velocidade mostra a quantidade de gotículas eliminadas em 20 segundos (tempo necessário para repetir duas vezes a mesma frase).>
Nessa análise, foram observados dois padrões distintos: uma baixa quantidade de gotículas expelidas nos primeiros 15 segundos seguida por um pico entre os 15 e 20 segundos e um forte começo com um pico próximo aos 7 segundos seguido por uma cadência em quatro tempos (com gotículas maiores geradas ao pronunciar as consoantes p, b, r e t).>
Como a análise das gotículas foi limitada a poucos voluntários, não foi possível medir de maneira significativa a diferença entre falar, respirar e cantar na produção de gotículas maiores.>
No entanto os autores observaram que as gotículas maiores se dissiparam a uma distância menor (inferior a meio metro) antes de evaporarem e caírem verticalmente. Por isso, defendem que o uso simples de uma máscara cirúrgica pode reduzir de maneira significativa a transmissão de gotículas maiores.>
Como conclusão, os cientistas afirmam que cantar gerou mais partículas aerossóis e mais gotículas do que falar e que a quantidade de partículas aerossóis expelidas aumenta quanto maior o volume empregado.>
As máscaras faciais parecem bloquear uma quantidade significativa das gotículas eliminadas, mas os autores fazem um alerta.>
"Como muitas das máscaras usadas podem ficar frouxas no rosto, algumas partículas podem passar pelas laterais da máscara. Com base nos nossos resultados, cantar em grupo é uma atividade considerada de alto risco infectocontagiosa se não forem aplicadas as medidas adequadas de prevenção e controle, como o distanciamento social, higiene, ventilação adequada e uso de proteções.">
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