Publicado em 1 de junho de 2023 às 06:40
A Câmara dos Deputados aprovou nesta quarta-feira (31) o texto-base da MP (medida provisória) que reestrutura o governo e evitou a maior derrota do presidente Lula (PT) no Parlamento até o momento.>
A votação ocorreu horas antes de a proposta perder a validade e pouco depois de o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), emparedar o Planalto e disparar duras críticas contra a articulação política do governo.>
Por 337 votos a 125 contra (e uma abstenção), o plenário da Câmara aprovou o texto-base da MP (medida provisória) que ampliou para 37 o número de ministérios. Depois da votação de destaques, que ainda podem alterar seu teor, o texto precisará ser aprovado pelo Senado nesta quinta-feira (1º) para não perder validade.>
No começo da sessão houve uma tentativa de retirar o assunto da pauta --mas o requerimento foi derrotado por 337 votos a 130.>
>
O presidente Lula lançou suas últimas cartadas para tentar contornar a crise nesta semana, quando líderes indicaram que a MP poderia ser derrotada em plenário. O Palácio do Planalto fez promessas de acelerar a liberação de emendas e nomeações em cargos diante da pressão do centrão por mais espaço no governo.>
Agora, o desafio do governo é evitar, na votação dos destaques, derrotas em trechos da proposta que podem gerar novo esvaziamento de pastas ocupadas por petistas ou ministros da cota pessoal de Lula.>
Entre os destaques que ainda serão votados, há uma tentativa do PL de derrubar a criação do Ministério do Desenvolvimento Agrário, comandado pelo ministro Paulo Teixeira (PT).>
Outro destaque do PL tira ainda mais poder de Marina Silva (Meio Ambiente). Se a proposta do partido for aprovada, a ministra perderá a gestão compartilhada dos recursos pesqueiros e articulação com o Ministério da Pesca.>
Horas antes da votação no plenário da Câmara, o clima ainda era de risco elevado para Lula, que, diante do pior momento da relação com a Câmara, poderia sofrer um revés político histórico --o que forçaria o petista a refazer toda a estrutura do governo com apenas cinco meses de mandato.>
Eventual rejeição da MP que dá a cara do governo resultaria na volta do formato da Esplanada dos Ministérios da gestão de Jair Bolsonaro (PL), com o fim de pastas como Planejamento, Desenvolvimento e Indústria, Povos Indígenas, Desenvolvimento Agrário, Transportes, Cultura e Igualdade Racial.>
Líderes do centrão falaram em dar uma última chance para que o governo mude a articulação política. Nas palavras de um líder, essa é a "última gota de combustível do governo".>
O Palácio do Planalto buscou nesta terça (30) e quarta dar uma resposta rápida às insatisfações do grupo liderado por Lira.>
A operação do governo envolveu uma ligação telefônica de Lula para Lira. logo no começo da manhã desta quarta. Na conversa, o deputado apresentou um panorama da insatisfação generalizada na Câmara e Lula fez um apelo para que se vote a MP.>
Havia a expectativa de que eles se encontrassem à tarde pessoalmente. Mas, depois, o Planalto e a Câmara passaram a minimizar isso e dizer que a reunião não havia sido marcada.>
Houve ainda a liberação recorde de emendas neste governo (R$ 1,7 bilhão em único dia) e a ordem no Planalto para abrir o caixa e despejar recursos para esses repasses.>
Em outra frente, há a promessa de destravar nomeações de indicações políticas para cargos no segundo e terceiro escalão do governo federal.>
Os gestos de Lula ainda não tinham gerado o efeito esperado pelo Planalto até o início da noite desta quarta. Mas interlocutores de Lula voltaram a fazer um apelo para que a estrutura dos ministérios fosse mantida.>
Líderes do centrão mudaram de posição ao longo da noite. A avaliação foi que, se derrubasse a estrutura do Executivo, a Câmara ficaria com a imagem de atrapalhar o andamento de políticas públicas para tentar conseguir mais atenção do governo.>
"Os recados vêm sendo dados dia a dia [como na votação contra decretos do Marco do Saneamento]. [...] O governo procurou entender o que estava acontecendo na Câmara dos Deputados? Não procurou entender. Preferiu ir do outro lado, ali no Senado", disse o líder da União Brasil, Elmar Nascimento (BA), em discurso no púlpito do plenário.>
Em sua fala, Elmar elogiou o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE). O petista se reuniu com deputados para tentar evitar a derrota de Lula. Emparedado em reuniões com líderes partidários, Guimarães atuou como bombeiro na crise.>
Lira, mais cedo, tinha elogiado Guimarães, afirmando que ele tem atuado como um "herói bravo". "Se [o resultado da votação da MP] for positivo, todos os louros para o líder do governo José Guimarães que tem sido um herói bravo lutando para que as coisas aconteçam. Se for negativo, a culpa é do governo de uma maneira geral", afirmou Lira.>
Por outro lado, cresceram as críticas contra o ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais), responsável pela articulação política do governo -uma ala do centrão, porém, poupa Padilha dos entraves na articulação, pois seria uma crise generalizada causada pelo governo. Mesmo alguns petistas acreditam que, dado o desgaste para a votação desta quarta, Padilha não deve durar muito no cargo.>
Outro alvo da Câmara é o ministro Rui Costa (Casa Civil). A ele é atribuída a culpa por emendas e cargos travados, além de falta de traquejo político.>
Aliados de Rui, no entanto, afirmam que o ministro não é responsável pela relação com o Congresso, e incorporou à Casa Civil um perfil mais técnico. A pasta nega que tenha emperrado a liberação de recursos e nomeações.>
O Planalto também avalia que um embate entre Lira e o senador Renan Calheiros (MDB-AL), aliado de Lula, gerava desgaste e prejudicava a situação do petista na Câmara.>
No Twitter, o senador chamou Lira de caloteiro, o acusou de desviar dinheiro e também de ter batido na ex-mulher Julyenne Lins. O presidente da Câmara mandou recado ao Planalto de que considerava inadmissíveis as declarações do senador da base de Lula e que o governo estava sendo leniente ao manter o filho dele, Renan Filho (MDB), à frente do Ministério dos Transportes.>
A MP da Esplanada foi editada logo no início da administração. Ela foi aprovada por uma comissão especial na semana passada, mas o texto modificou a estrutura proposta originalmente por Lula.>
Deputados desidrataram o Ministério do Meio Ambiente, comandando por Marina Silva, e retiraram de Sonia Guajajara (Povos Indígenas) a função de tratar da demarcação terras indígenas. A atribuição foi enviada para o Ministério da Justiça, de Flávio Dino (PSB).>
O relatório aprovado retirou a Agência Nacional de Águas (ANA) do Meio Ambiente e a transferiu para o Desenvolvimento Regional --pasta comandada por Waldez Góes (PDT), indicado por parlamentares da União Brasil.>
O CAR (Cadastro Ambiental Rural), instrumento para controlar terras privadas e conflitos em áreas de preservação, também saiu do ministério chefiado por Marina para o da Gestão e Inovação em Serviços Públicos, chefiado por Esther Dweck.>
O enfraquecimento de Marina levou Lula a instruir seus ministros para adotarem uma retórica de defesa da ministra.>
Rui Costa, ministro da Casa Civil, afirmou na semana que o texto da MP estava "desalinhado" com a visão do governo; e que trabalharia para reverter as mudanças durante a votação nos plenários da Câmara e do Senado.>
O que se viu nos dias seguintes, no entanto, foi um Palácio do Planalto incapaz de promover modificações na proposta. Articulares políticos passaram a admitir que não havia como recuperar as derrotas sofridas na área ambiental, sob pena de a MP perder a validade e toda a estrutura ministerial desenhada por Lula ser descartada.>
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta