Publicado em 15 de abril de 2023 às 15:00
- Atualizado há 3 anos
Os brasileiros se preocupam mais com pobreza e desigualdade social, crime e violência e corrupção do que com inflação, mudanças climáticas, conflito militar entre nações e covid-19. >
Essa é a conclusão de uma pesquisa online global feita pelo Instituto Ipsos em 29 países entre fevereiro e março deste ano. >
Segundo a sondagem, que ouviu 24.516 pessoas entre 16 a 74 anos no total, dos quais 1 mil no Brasil, a pobreza e a desigualdade social formam o tema apontado como mais problemático pelos brasileiros — citado por 41% dos entrevistados, contra 31% da média mundial. A pesquisa tem margem de erro de 3,5 pontos porcentuais para mais ou para menos.>
Além do Brasil, Bélgica, Holanda e Japão consideram a pobreza e desigualdade como sua maior fonte de preocupação. >
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Nesse quesito, os mais preocupados com pobreza e desigualdade social são os tailandeses (43%) e os menos preocupados, os americanos (18%).>
"Pobreza e desigualdade social foi a agenda da eleição", lembra Helio Gastaldi, diretor de pesquisas de opinião pública e reputação corporativa na Ipsos Brasil.>
"A pandemia de covid-19 afetou de forma drástica todos os países do mundo, mas mais notadamente aqueles com maior desigualdade social e com maior proporção da população economicamente ativa atuando na informalidade". >
"O Brasil perdeu muitas vagas de emprego, e a população que vivia na informalidade, com todas as suas dificuldades que ela traz, encarou um período muito desafiador. Quando a situação começou a se normalizar, passamos a viver um período de inflação alta, que acaba afetando mais fortemente os mais pobres", conclui. >
Já inflação lidera o ranking global — e tem sido assim nos últimos 12 meses, mas não no Brasil.>
Entre fevereiro e março, quatro em cada dez pessoas (42%) ouvidas pelo levantamento consideraram a alta dos preços como o mais preocupante entre todos os 18 temas pesquisados, que vão desde inflação a acesso ao crédito, passando por pobreza e desigualdade social, crime e violência, corrupção, saúde, impostos, entre outros. >
No Brasil, contudo, a inflação só foi apontada como preocupante por 28% dos entrevistados, portanto, abaixo da média mundial (42%). >
Entretanto, Gastaldi faz uma ressalva.>
"A inflação hoje está menos da metade do que o pico, de 11%. Naquele momento, as pessoas reportavam a inflação como preocupante, pois percebiam a escalada dos preços. Mas a população continua sentindo seus efeitos. Ela deixa de reportar a inflação como problemática, mas continua sentindo suas consequências, e passa a expressar suas opiniões de forma diferente", nota.>
Em relação à inflação, os argentinos foram os mais preocupados (66%), enquanto os indonésios (22%) os menos preocupados. >
Segundo o levantamento, em fevereiro, pela primeira vez, mais da metade dos entrevistados na Colômbia, França e Austrália consideraram a subida dos preços como problemática.>
No mês passado, Hungria, Estados Unidos, Coreia do Sul e Itália registraram o maior nível de preocupação, mas desde então esse índice caiu, com destaque para os húngaros, com redução de nove pontos percentuais na comparação mensal.>
Além da pobreza e desigualdade e inflação, os brasileiros também demonstraram maior preocupação com crime e violência (36%) e corrupção política e financeira (31%) — em ambos os temas o índice nacional está acima da média global, respectivamente, 29% e 26%. >
Em relação ao crime e violência, os sul-africanos foram os mais preocupados (59%). Já os poloneses, os menos preocupados (3%). Sobre corrupção política e financeira, a África do Sul também liderou o ranking (55%). Na outra ponta, aparece Cingapura (3%). >
No caso do desemprego, o Brasil está em linha com a média global. Dos entrevistados, 28% afirmaram que a falta de trabalho é preocupante, patamar similar ao restante do mundo. >
Nesse quesito, os sul-africanos foram os que mais demonstraram preocupação com a falta de trabalho (67%). Na outra ponta, estão os holandeses — o desemprego foi citado apenas por 7% dos entrevistados.>
Além da inflação, os brasileiros também se disseram menos preocupados com mudanças climáticas (9%), conflito militar entre nações (2%) e covid-19 (5%). Em todos esses tópicos, o índice nacional é inferior às médias globais de 15%, 10% e 6%, respectivamente. >
Questionado sobre a menor preocupação do brasileiro com as mudanças climáticas, Gastaldi diz que o tema continua influenciado pelo nível socioeconômico e saiu do radar do governo anterior, de Jair Bolsonaro (PL). >
"Há dois fatores para isso. O primeiro tem a ver com a classe. A percepção desse problema é muito mais presente na classe média do que na população mais pobre, que enxerga dificuldades muito mais urgentes", diz.>
"Em segundo, esse tema entra diretamente na agenda de comunicação do governo anterior, do grupo político que governou o Brasil nesse período. Houve muitas informações desencontradas em vários assuntos, especialmente em relação ao meio ambiente. Isso deixou parte da população num estado de indiferença por não compreender não só a gravidade do tema, mas não ter mais clareza sobre a pertinência dele", acrescenta. >
No mês passado, pela primeira vez desde que a pesquisa começou a ser feita, em 2010, mais da metade dos entrevistados brasileiros disse considerar que o país estava no rumo certo (56%). >
Esse porcentual variou ligeiramente para baixo em março (55%), o que, segundo Gastaldi, indica "uma oscilação dentro da margem de erro, mas claramente um ponto de arrefecimento nesse crescimento".>
Ele disse acreditar que o índice continue positivo, mas que não deve subir nos próximos meses. >
Em sua leitura, isso tem a ver com o otimismo em relação ao novo governo, do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mas já dá sinais de que está cedendo após 100 dias do início do mandato.>
"Já tínhamos uma perspectiva de melhora desde o ano passado. Chegou a 35% em novembro e para 40% em dezembro. Havia uma expectativa de mudança quanto ao novo governo. Em janeiro, chegou a 48%. E, em fevereiro, 56%". >
"Parece que a população também está fazendo um balanço de que o governo está com dificuldade de cumprir tudo o que prometeu, embora o voto de confiança continue. O cenário é positivo e traz alento, mas a percepção é de que não houve grandes mudanças. Não parece um grande entusiasmo de que o governo entregou o que a população queria nesses 100 dias", nota Gastaldi. >
O índice brasileiro, no entanto, é bem superior à média global. No mundo, apenas 38% consideram que seus países estão no caminho certo, e 62%, no caminho errado.>
Nessa categoria, os mais otimistas são os indonésios — 83% acreditam que seu país está no caminho certo. >
Já os argentinos são os mais pessimistas, com apenas 13% compartilhando uma visão positiva sobre o futuro do país.>
A sondagem também verificou a opinião dos entrevistados quanto à situação econômica atual de seus países.>
Entre os brasileiros, 32% avaliaram como "boa" e 68% "ruim", um pouco abaixo da média mundial de 33% e 67%, respectivamente.>
A melhor avaliação positiva veio de Cingapura, com 77% considerando como "boa" a situação econômica de seu país. Na outra ponta, estão os japoneses e os argentinos — em ambos os países, 91% dos entrevistados descreveram-na como "ruim".>
- Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/articles/crge0vk7z10o>
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