Publicado em 10 de abril de 2023 às 08:40
Após meses de planejamento, no dia 4 de março a empresária Kátyna Baía, 44, embarcou com a esposa, Jeanne Paolini, 40, para uma aguardada viagem de férias na Europa. O casal passaria 20 dias viajando por Alemanha, Bélgica e Holanda, em comemoração da conclusão da residência veterinária que Paolini fazia na UnB (Universidade de Brasília).>
Os planos, no entanto, acabaram interrompidos. Elas foram presas ao chegar ao aeroporto de Frankfurt, na Alemanha, onde fariam uma escala antes do destino final, a capital Berlim. A acusação era de que estariam levando 40 kg de cocaína na bagagem despachada —mas as malas não eram delas, segundo a PF (Polícia Federal).>
O caso disparou uma investigação que culminou, na última semana, na prisão de seis suspeitos na Operação Iraúna. A PF aponta que o método de ação dos narcotraficantes consiste em retirar aleatoriamente etiquetas de bagagens despachadas e colocá-las em malas contendo drogas.>
O inquérito apontou a inocência de Kátyna e Jeanne, incluindo imagens que comprovariam que as bagagens despachadas por elas no aeroporto de Goiânia tiveram as etiquetas trocadas no Aeroporto Internacional de Guarulhos (SP), onde fizeram escala.>
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Os resultados da investigação brasileira foram encaminhados para a Justiça alemã na última quinta-feira (6), como informado nas redes sociais pelo secretário Nacional de Justiça, Augusto de Arruda Botelho. No dia anterior, uma audiência de custódia manteve a prisão das brasileiras, que estão detidas há mais de um mês.>
"Essa seria uma viagem para comemorar e descansar e acontece esse pesadelo", conta a advogada Luna Provazio, responsável pela defesa das goianas. "Algemaram os braços e pernas das duas e elas não entenderam nada que estava acontecendo, porque os policiais estavam falando em alemão. Quando falaram que estavam sendo presas, elas disseram que tinha algum mal-entendido.">
A prisão aconteceu em 5 de março e, na ocasião, a polícia alemã mostrou às duas quais malas tinham sido apreendidas com a droga e as etiquetas no nome delas. Segundo a defesa, Kátyna e Jeanne viram de imediato que a bagagem era completamente diferente da delas.>
Elas mostraram aos agentes, então, a informação sobre o peso das malas registrado pela companhia aérea no momento em que foram despachadas: uma pesava 16 kg e a outra 17 kg, valores inferiores aos 20 kg de cocaína encontrados pela polícia em cada uma das bagagens.>
"Mesmo mostrando as etiquetas com esses valores, os policiais disseram que essa era só uma das provas, então elas continuariam presas", diz Provazio.>
As imagens anexadas ao processo mostram que a mala despachada por Katyna é preta, decorada com alto-relevo geométrico, enquanto a de Jeanne é cor-de-rosa claro, com zíper da mesma cor. Já uma das bagagens atribuídas a elas em Frankfurt é cinza e não tem relevo decorativo, enquanto a outra é de um tom de cor-de-rosa metálico, com zíper preto.>
Também foram incluídas no processo imagens de um funcionário do aeroporto de Guarulhos mexendo nas etiquetas das duas malas. De acordo com o UOL, ele seria contratado de uma empresa terceirizada que atuava no terminal aéreo e foi um dos presos no último dia 4.>
A advogada ressalta que as brasileiras não tiveram qualquer contato com as bagagens depois de as terem entregado à companhia aérea, em Goiânia. As malas delas ainda não foram encontradas.>
Kátyna e Jeanne relataram a Provazio que a situação é "muito humilhante e desesperadora".>
"Elas estavam sendo acusadas de algo que não fizeram. Além disso, nas primeiras 24 horas, quando ficaram em celas do aeroporto de Frankfurt, não receberam comida e as deixaram elas passando", diz. Ela explica que a temperatura chegou a -3°C naquele dia e mesmo assim as goianas não tiveram acesso às roupas de inverno que tinham levado na bagagem de mão.>
No dia seguinte, foram transferidas em prisão preventiva para o presídio feminino da cidade, onde seguem sem seus bens pessoais e ficam em celas separadas.>
"Elas se veem só no intervalo de banho de sol. Nas celas não tem TV ou rádio e o único livro que têm é uma bíblia em português. Recebem duas refeições por dia, café da manhã e almoço. Caso queiram alguma outra refeição, têm que pagar em euro", conta a advogada.>
Sem remédios Kátyna também não conseguiu acesso aos seus remédios de uso contínuo para dores crônicas e ansiedade que estavam na sua bagagem de mão. "A polícia não entrega os medicamentos mesmo estando nos pertences que eles apreenderam. Isso tem piorado o estado dela.">
A investigação da PF apontou que as goianas não têm o perfil de "mulas do tráfico", o que é reforçado pela defesa. "Elas compraram a passagem no ano passado, no cartão de crédito pessoal da Kátyna, passariam 20 dias viajando, tinham reservado todos os hotéis e já tinham comprado até ingresso de museu", detalha Provazio.>
De acordo com a advogada, Kátyna e Jeanne tentam ficar calmas porque sabem que não cometeram nenhum crime. "Mas o que as deixa indignadas é saber que a polícia alemã tem os indícios [da inocência] e elas permanecerem presas até hoje.">
Em meados de março, a PF já tinha encaminhado aos alemães uma parte das imagens e do inquérito, porém, de acordo com a rede de notícias alemã Deutsche Welle, na audiência de custódia realizada no último dia 5, a soltura das goianas foi condicionado ao compartilhamento e análise integral de todas as informações em poder das autoridades brasileiras.>
A Justiça alemã pediu, ainda, que o envio acontecesse por meio do Ministério da Justiça e do Itamaraty —anteriormente, os documentos tinham sido entregues pela PF. O pedido foi respondido integralmente na quinta-feira (6), contudo o feriado de Páscoa na Alemanha vai até segunda-feira (10) e as informações ainda não foram examinadas.>
"A nossa expectativa é que a partir de terça (11) o juiz e o promotor comecem a analisar as provas que foram enviadas e perceberam que, de fato, a inocência está mais do que comprovada e elas sejam liberadas", afirma Provazio.>
A princípio, isso poderia se dar de duas formas: de forma rápida, por ofício do promotor, ou após uma nova audiência de custódia, o que poderia levar até 15 dias.>
Em nota divulgada nas redes sociais, a família das brasileiras afirma que tem "vivido um pesadelo" e "corrido contra o tempo para trazê-las de volta sãs e salvas".>
"Confiamos em Deus e na justiça dos homens para que esse episódio logo acabe e possamos ter a Kátyna e a Jeanne de volta em nossos braços para que possamos mais uma vez voltar a sorrir", diz o texto.>
A PF e o Itamaraty foram procurados neste domingo (9), mas não comentaram o caso até a publicação deste texto. A reportagem não conseguiu contato com a administração do aeroporto de Guarulhos para esclarecimentos sobre a ocorrência.>
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