Publicado em 26 de abril de 2021 às 16:44
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ofendeu uma repórter nesta segunda-feira (26) durante ato de inauguração da duplicação de trecho da BR 101 na cidade de Conceição do Jacuípe (102 km de Salvador). >
A repórter Driele Veiga, da TV Aratu, afiliada local do SBT, questionou o presidente sobre as críticas de que foi alvo após ter posado para uma foto em Manaus com o apresentador Sikêra Júnior, da RedeTV!, e uma placa onde estava escrito "CPF cancelado", que faz referência a pessoas que foram mortas.>
"Não tem o que perguntar, não? Deixa de ser idiota", disse o presidente ao responder ao questionamento. A repórter estava ao vivo no programa jornalístico local Que Venha o Povo, da TV Aratu.>
Em nota, o Sinjorba (Sindicato dos Jornalistas da Bahia) repudiou a atitude do presidente ao agredir verbalmente uma profissional "somente por estar exercendo seu ofício que é entrevistar aquele investido em cargo público".>
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"A maior autoridade do país não pode incentivar desrespeito aos direitos humanos e nem agir com grosseria com a imprensa, que é os olhos e a forma de comunicação entre os poderes e a sociedade", afirmou em nota o presidente do Sinjorba, Moacy Neves.>
A Associação Baiana de Imprensa também repudiou o episódio, classificando-o como uma "assediosa agressão verbal contra a jornalista", e se solidarizou com a repórter.>
Políticos da Bahia como o presidente nacional do DEM, ACM Neto, o deputado federal Jorge Solla (PT) e o deputado estadual Hilton Coelho (PSOL) se solidarizaram com a jornalista.>
A TV Aratu informou à reportagem que não iria se manifestar sobre o episódio. Em mensagem postada em suas redes sociais, a repórter lamentou a agressão.>
"A mim o xingamento não ofendeu. Só mostrou que estava no caminho certo. Sou jornalista e estou aqui para perguntar, por mais que a indagação incomode. Se fosse para agradar o entrevistado eu não seria jornalista e sim publicitária".>
A interrupção de entrevistas e ofensas a jornalistas têm sido uma marca de Bolsonaro quando confrontado com temas incômodos, como suspeitas envolvendo seus familiares ou ministros.>
Em agosto do ano passado, ele afirmou ter vontade de agredir um repórter do jornal O Globo após ser questionado sobre os depósitos feitos pelo ex-policial militar Fabrício Queiroz na conta da primeira-dama Michelle Bolsonaro.>
Após a insistência do repórter sobre os pagamentos à primeira-dama, Bolsonaro, sem olhar diretamente para o repórter, afirmou: "A vontade é encher tua boca com uma porrada, tá?".>
Meses antes, em maio, ao ser questionado por repórteres sobre mudanças na Polícia Federal, Bolsonaro mandou os profissionais de imprensa calarem a boca e atacou a Folha de S.Paulo, chamando o jornal de "canalha", "patife" e "mentiroso".>
Em dezembro de 2019, o presidente disse a um repórter que ele tinha uma "cara de homossexual terrível" e mandou jornalistas ficarem quietos.>
Há um mês, Bolsonaro foi condenado a indenizar a jornalista Patrícia Campos Mello, repórter da Folha de S.Paulo, em R$ 20 mil por danos morais.>
A decisão de 16 de março é da juíza Inah de Lemos e Silva Machado, da 19ª Vara Civil de São Paulo. Ela determinou ainda que o presidente pague as custas processuais e honorários advocatícios no valor de 10% da condenação. Cabe recurso.>
A magistrada considerou que Bolsonaro violou "a honra da autora, causando-lhe dano moral, devendo, portanto, ser responsabilizado". Ainda segundo a juíza, "a utilização no sentido dúbio da palavra 'furo' em relação à autora repercutiu tanto na mídia como também nas redes sociais, expondo a autora".>
A repórter acionou a Justiça após sofrer um ataque, com cunho sexual, no dia 18 de fevereiro de 2020.>
"Ela [repórter] queria um furo. Ela queria dar o furo [risos dele e dos demais]", disse o presidente, em entrevista diante de um grupo de simpatizantes em frente ao Palácio da Alvorada, na ocasião. Após uma pausa durante os risos, Bolsonaro concluiu: "a qualquer preço contra mim".>
A palavra "furo" é um jargão jornalístico para se referir a uma informação exclusiva.>
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