Publicado em 5 de agosto de 2022 às 06:26
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A dois meses das eleições, as principais big techs não revelam dados sobre suas equipes de moderação voltadas ao português do Brasil nem se elas serão reforçadas para o período eleitoral. As empresas também não responderam qual o investimento em inteligência artificial para analisar conteúdo no idioma.>
A Folha de S.Paulo procurou as plataformas pertencentes à Meta (Facebook, Instagram, WhatsApp), além de TikTok, Kwai, Twitter e Google, que controla o YouTube. O Telegram foi a única companhia a ignorar os contatos.>
Devido ao volume de dados que circula nas plataformas, as big techs recorrem a sistemas automatizados combinados a moderação humana e a denúncias de usuários para avaliar que conteúdos violam suas regras.>
Essas informações até agora não fornecidas pelas empresas são consideradas cruciais por especialistas para entender como elas estão investindo no combate à desinformação e ao discurso de ódio.>
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Também em ofícios para responder a questionamentos do Ministério Público Federal em São Paulo em relação à moderação de conteúdo, Facebook, Instagram, TikTok e YouTube não forneceram informações.>
Além de discurso de ódio e violência de gênero, outros focos de atenção quanto à moderação das redes são postagens que contenham desinformação sobre as urnas eletrônicas, alegações infundadas de fraude no pleito e a narrativa golpista disseminada pelo presidente Jair Bolsonaro (PL).>
"As empresas estão fazendo um trabalho tradicionalmente do Judiciário, decidindo na prática o que deve ser mantido ou não", diz Yasmin Curzi, pesquisadora do Centro de Tecnologia e Sociedade da FGV Direito Rio.>
"É uma atividade muito importante e precisa de muito mais transparência do que estão ofertando.">
A Folha também pediu às plataformas o motivo para não informar o tamanho -e uma eventual ampliação, devido às eleições de outubro- das equipes de moderação. A maioria das empresas não deu nenhuma justificativa.>
A falta de transparência não é exclusividade do Brasil. Os gigantes de tecnologia têm sido pressionados em todo o mundo a explicar como atuam para regular o conteúdo postado nas redes.>
Frances Haugen, ex-funcionária do Facebook responsável pela área de integridade cívica da plataforma, disse à Folha que a empresa aloca seus recursos de segurança nos países onde teme ser regulamentada.>
A afirmação corrobora apontamentos de especialistas, segundo os quais o investimento feito pelas big techs para determinadas línguas, em especial o inglês, é desproporcional à quantidade de usuários ativos.>
Em 2021, Haugen revelou documentos que ficaram conhecidos como Facebook Papers. Os relatórios mostram que 87% do orçamento global da empresa para classificação de desinformação era para os EUA.>
À Folha de S.Paulo a Meta, dona de Facebook e Instagram, disse que os "números específicos de um determinado país ou idioma não refletem a complexidade desse trabalho". Segundo a empresa, 40 mil pessoas lidam com segurança e integridade na plataforma, dos quais cerca de 15 mil são revisores de conteúdo.>
Já o YouTube apontou questões de segurança para não responder às perguntas. "Não compartilhamos dados específicos dessa equipe devido à sensibilidade da função que exerce. É nosso dever preservar os perfis e as identidades dessas pessoas, assim como zelar pela segurança delas.">
A reportagem, no entanto, não questionou o perfil nem quem são os funcionários que realizam essa tarefa. A companhia mencionou ainda "a contratação de milhares de revisores humanos em diversas partes do mundo".>
Quanto ao serviço de anúncios, já que é possível fazer propaganda política tanto no YouTube quanto na ferramenta de busca durante a campanha eleitoral, o Google também não especificou o número de moderadores para o português que possui nem explicou por que não informou o dado.>
O TikTok, por sua vez, respondeu que "não informa números específicos" e que conta "com milhares de moderadores de conteúdo no mundo todo, entre os quais profissionais brasileiros aptos a lidar com o contexto e as particularidades do país".>
O Kwai não deu qualquer informação sobre a dimensão das equipes de moderação e afirmou que a empresa "não revela essa informação por razões estratégicas".>
O Twitter disse contar "com uma equipe ao redor do mundo para analisar potenciais violações às suas regras, o que inclui falantes de português". A empresa afirmou ainda que, em momentos como eleições, dedica "mais esforços desses e de outros times, que incluem brasileiros, para monitorar as conversas".>
Apesar de não ter dado nenhum número concreto, o Twitter foi a única empresa a perpassar a questão do aumento das equipes devido ao pleito presidencial. As outras companhias ignoraram a pergunta.>
O WhatsApp, que também pertence à Meta, afirmou que "não abre esses números" e que "não realiza moderação de conteúdo''.>
Por usar criptografia de ponta a ponta, o aplicativo em tese não tem acesso às mensagens trocadas. Mas, como a própria empresa alerta, em caso de denúncias a plataforma pode receber as cinco últimas mensagens enviadas numa determinada conversa. >
A companhia afirma ter uma equipe "com domínio de diversas línguas, incluindo o português brasileiro," e trabalhar com parceiros para auxiliar "no trabalho fundamental de revisar e responder questões e denúncias de usuários".>
Dados também não foram fornecidos ao Ministério Público A Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão (Ministério Público Federal em São Paulo) enviou ao diretor-geral do Facebook no Brasil em novembro de 2021 questionamentos sobre Facebook e Instagram.>
A Meta não especificou o número de moderadores em português nem o investimento em inteligência artificial no idioma, dizendo que as equipes, globais, analisam conteúdo ininterruptamente e contam "com mais de 20 pontos físicos" que verificam conteúdo "em mais de 50 idiomas".>
A companhia também não informou o número de usuários ativos nas plataformas, dizendo se tratar de "informações confidenciais, sendo necessária a preservação do segredo comercial".>
Na resposta às mesmas perguntas do órgão, a Bytedance Brasil Tecnologia, que controla o Tik Tok, foi ainda mais vaga. Não especificou o número de moderadores no Brasil ou que falam português, limitando-se a dizer que possui um "time de análise e moderação de conteúdo que conta com um relevante número de funcionários brasileiros, localizados no Brasil e contratados diretamente pela Bytedance Brasil".>
O Twitter alegou segredo de negócio para não responder a parte dos questionamentos. Sobre o valor de investimento no Brasil e o tamanho da equipe de moderação, a empresa disse apenas que "é possível constatar que o Twitter está investindo fartos valores para manter a plataforma segura".>
O Google, ao responder a questionamentos sobre o YouTube, nem sequer abordou diretamente as perguntas sobre o time de moderadores em português e os recursos em inteligência artificial no idioma.>
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