Publicado em 27 de julho de 2021 às 15:39
Inicialmente apelidado de G7, o grupo que comanda a CPI da Covid ganhou visibilidade nos primeiros 90 dias de atuação, quase teve defecções e precisou manobrar para superar adversidades. >
Após alguns atritos na primeira etapa, essa ala tem entre seus desafios a busca de articulação para evitar a perda de comando com a retomada dos depoimentos na comissão a partir da semana que vem. >
Majoritário no colegiado, o grupo de seis a sete senadores, já que um é considerado volátil, ditou o ritmo dos trabalhos de investigação. São eles que definem quem será convocado, aprovam requerimentos de quebras de sigilos e impedem que governistas mudem o foco das apurações, tirando-o da gestão do presidente Jair Bolsonaro para os governadores estaduais. >
Foi em um cochilo dos governistas que se formou a coalizão majoritária e, sob certo aspecto, improvável. Estão no mesmo lado petista e tucano, lava-jatistas e críticos da operação. Essas diferenças parecem ter ficado para trás, analisando especificamente a unidade e desempenho do bloco. >
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Mas a maioria tênue, de 11 titulares da CPI, tem exigido uma ginástica para que desentendimentos e adversidades não provoquem fissuras. >
A primeira ameaça veio com o pedido de prisão de Fabio Wajngarten, que colocou o presidente Omar Aziz (PSD-AM) em atrito com os demais. >
Na ocasião, o relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL), pediu a detenção do ex-auxiliar de Bolsonaro, o que acabou negado por Aziz. >
Novo racha veio com a prisão determinada por Omar do ex-diretor do Ministério da Saúde Roberto Ferreira Dias. Apesar de todos manifestarem publicamente apoio ao presidente do colegiado, a decisão foi questionada internamente. >
No caso do pedido de prisão de Wajngarten, Omar reclamou internamente que seus parceiros levaram a público o pedido, apesar de estar acertado nos bastidores o contrário. A situação foi contornada. >
Em outro momento, Omar chateou-se com colegas que votaram contra o requerimento para convocar certos governadores quebrando um acordo de que os pedidos seriam aprovados. Omar chegou a falar que não ofereceria mais o jantar com bacalhau em sua casa nas reuniões de segunda-feira. >
Por outro lado, a ameaça mais séria e persistente está ligada ao Amazonas, estado de dois membros da comissão. Problemas regionais quase levaram à saída definitiva do senador Eduardo Braga (MDB-AM) do G7. >
O primeiro embate entre Omar e Braga se deu na época da análise de requerimentos para convocar o governador do Amazonas, Wilson Lima. >
O senador emedebista pressionou para que Lima fosse convocado, apesar da leitura da cúpula da CPI de que a comissão não tinha tal poder. >
Somaram-se à demanda de Braga as solicitações dos senadores governistas para que outros chefes de Executivos estaduais fossem chamados a falar no colegiado. >
Diante da pressão, para não ter de convocar apenas o governador amazonense, Omar decidiu colocar em votação os requerimentos para chamar todos os gestores que fossem investigados, o que foi aprovado na CPI mas acabou barrado pelo STF (Supremo Tribunal Federal). >
Braga é considerado adversário de Lima, enquanto Omar é tido como uma pessoa mais próxima do governador. >
Em outra ocasião, houve nova desavença entre ambos quando o presidente da CPI tentou colocar em votação pedidos que poderiam prejudicar aliados de Braga no Amazonas, como quebras de sigilo e convocações. Em um dos jantares de segunda-feira em sua residência, Omar exigiu "lealdade" aos colegas para a aprovação dos seus requerimentos. >
A possível saída do senador da ala majoritária provocou preocupação em parlamentares, principalmente no relator, Renan Calheiros (MDB-AL). >
Naquele jantar, Calheiros disse que é próximo do correligionário e grato a ele pela indicação para que se tornasse relator. Por isso, disse que, se houvesse confronto entre os amazonenses, não poderia contrariar Braga. >
Aquele jantar terminou com um clima ruim. Omar disse que retiraria os requerimentos dele de pauta, mas também não votariam os de Renan. A decisão acabou atrasando, por exemplo, a designação de um policial federal para a equipe do relator. >
Além disso, Braga passou a ser visto com desconfiança por colegas por nem sempre participar das reuniões semanais do G7 e se manifestar com menos frequência nas sessões da CPI. >
A avaliação de parte do grupo é que Braga estaria se alinhando ao Planalto. >
Diante da situação, senadores buscaram contornar as rusgas e colocar panos quentes no atrito entre o presidente da CPI e o senador emedebista para evitar perder a maioria. >
Segundo o próprio Omar, por exemplo, Braga continua como membro do G7. Ele diz inclusive que o senador segue no grupo de WhatsApp criado no início dos trabalhos pelos senadores. Chamado de "Filhos de Otto e de Tasso", em referência aos dois senadores mais velhos da comissão. >
Trata-se também de uma adaptação do grupo de WhatsApp que era usado por procuradores da Operação Lava Jato, que era chamado "Filhos de Januário". >
""Os interesses maiores, nós comungamos dos mesmos. Os menores a gente tem que relevar. Não é uma coisa minha só, é de qualquer pessoa que atua na posição que eu estou, tendo manter o equilíbrio para manter a união do grupo", afirmou Omar Aziz à reportagem. >
Neste mês, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), vice-presidente da comissão, foi xingado por apoiadores de Jair Bolsonaro e todos os senadores do grupo, inclusive Braga, solidarizaram-se com ele e disseram que assinariam uma nota em apoio caso ele quisesse. >
Renan Calheiros também afirma que o grupo não rachou. "O Eduardo, nas coisas fundamentais, sempre votou conosco, os sete, e não é interessante excluí-lo. É preciso ciscar pra dentro. Nós queremos ser G8 e não G6", afirmou o senador à reportagem. >
As divergências políticas do grupo não param apenas nos amazonenses. O próprio Randolfe reconhece que sempre teve uma trajetória de divergências políticas com Renan Calheiros. >
"Se alguém dissesse para o Randolfe de 2011, quando chegou ao Senado, 'olha, atenção, eu vim do futuro. Em 2021, você continuará no Senado e o seu principal parceiro, o qual você defenderá e ele lhe defenderá também, será o senador Renan Calheiros'. Eu imediatamente diria 'manda recolher porque esse aqui está doido de pedra'", disse Randolfe. >
"A grande característica do campo que se formou é que são pessoas de posições políticas muito distintas, que se uniram por conta da tragédia que estava em curso no Brasil", avalia o senador. Para ilustrar o caso, ele lembra que na aprovação da reforma trabalhista, ele chegou a pular sobre a mesa do senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) de tão contrariado com a posição do colega. >
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