Publicado em 13 de outubro de 2024 às 10:22
A falta de luz em mais de 2 milhões de residências na Grande São Paulo fez representantes dos governos federal, estadual e municipal criticarem neste sábado (12) a Enel - concessionária responsável pela distribuição de energia na região.>
Tanto o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) quanto o prefeito Ricardo Nunes (MDB) pediram o fim do contrato com a empresa. A Aneel, agência do governo Lula (PT) responsável por fiscalizar o setor, disse que poderá retirar os direitos de concessão da companhia.>
Tarcísio fez contato direto com a Aneel para cobrar medidas contra a companhia, reforçando que mais uma vez a demora para restabelecer o fornecimento de energia em São Paulo após uma tempestade. Em novembro de 2023, outro temporal deixou vários pontos da cidade sem energia por até seis dias.>
A Folha apurou que o governador telefonou para o diretor-geral da agência, Sandoval Feitosa, reclamando que nada foi feito contra a concessionária neste quase um ano após o outro evento.>
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Tarcísio também lembrou que já tinha pedido a caducidade do contrato da Enel, sem que houvesse retorno, e reforçou que não faz sentido renovar a concessão quando está comprovado que a prestação de serviço é péssima. Disse ainda considerar um absurdo a empresa chegar a ventilar que não conseguiria restabelecer integralmente o fornecimento da energia até segunda-feira (14).>
Por volta das 22h, Tarcísio fez uma postagem nas redes sociais com críticas tanto à Enel quanto à Aneel. "Mais uma vez, a Enel deixou os consumidores de São Paulo na mão. Se o Ministério de Minas e Energia e, sobretudo, a Aneel, tiverem respeito com o cidadão paulista, o processo de caducidade será aberto imediatamente", escreveu ele.>
Já Nunes disse em publicações no Instagram que a Enel é "inimiga do povo de São Paulo." Ele atribuiu a falta de luz à ineficiência da companhia. "O que a gente tem hoje de problema na cidade, infelizmente, é por conta da ineficiência da Enel, mais uma vez.">
Afirmou ainda que espera que a cidade logo "possa se livrar dessa empresa".>
A Enel, empresa com sede na Itália, atua em 24 municípios da Grande São Paulo, incluindo a capital.>
Especialistas ouvidos pela reportagem, que preferem não ter o nome citado, afirmam que, em casos extremos, a Aneel até pode unilateralmente propor a caducidade de um contrato de distribuição, mas é preciso lembrar que esse tipo de concessão de energia elétrica é federal, ou seja, o poder concedente desse serviço é a União.>
A Enel foi alvo de muitas críticas do governo federal após o apagão de novembro do ano passado em São Paulo, mas, na sequência, a empresa divulgou uma série de medidas para aperfeiçoar o atendimento durante eventos extremos, incluindo o anúncio de investimentos, que foram bem recebidos pela gestão Lula (PT).>
Em maio, quando a tensão ainda estava alta, Alexandre Silveira, ministro de Minas e Energia, chegou a dizer à empresa que, se não fizesse investimentos na qualidade do serviço de distribuição de energia, "pode dar tchau" ao país.>
No mês passado, o posicionamento já havia mudado. Silveira participou de um evento na base operacional da Enel em Guarapiranga, zona sul de São Paulo, em que ocorreu a apresentação dos investimentos da companhia no Brasil. Na ocasião, disse era "uma grande alegria poder ver in loco as ações adotadas para prevenir acontecimentos graves gerados pelas às mudanças climáticas".>
Nesta sexta (11), horas antes do novo temporal deixar mais de 2 milhões sem luz em São Paulo, Silveira estava em Roma. Mesmo de férias, participava de um evento do Grupo Esfera ao lado de Alberto de Paoli, o diretor para o resto do mundo da Enel.>
O próprio presidente Lula passou a sinalizar apoio à permanência da concessão com a empresa. Em junho, durante viagem à Europa para participar do encontro do G7, o presidente se reuniu com o CEO mundial da Enel, Flavio Cattaneo, para discutir investimentos da concessionária no Brasil. A empresa disse na época ter reafirmado a promessa de fazer um investimento de US$ 3,7 bilhões (quase R$ 20 bilhões) na operação brasileira.>
Na sequência, Lula afirmou a jornalistas que, com o compromisso de investimento pela companhia italiana, o governo estaria disposto a renovar o contrato de concessão de energia.>
Neste sábado, a Aneel adotou postura mais dura. Em nota à imprensa no início da tarde afirmou que iria intimar a Enel a "apresentar justificativas e proposta de adequação imediata do serviço diante das ocorrências registradas ontem e hoje, de falha na prestação do serviço de distribuição".>
Como parte do processo de intimação, disse ainda que a proposta da empresa será avaliada pela diretoria colegiada da Aneel e, caso a Enel não apresente solução satisfatória e imediata da prestação do serviço, a agência poderá retirar os direitos de concessão.>
Cerca de duas horas depois, o Ministério de Minas e Energia soltou nota afirmando que Aneel falhou ao não encaminhar a caducidade do contrato da Enel. Também informou que o ministro interrompeu suas férias para acompanhar o problema de perto e determinou a criação de uma sala de situação. A pasta afirmou no texto que não há qualquer indicativo de renovação da concessão da distribuidora em São Paulo.>
Procurada pela reportagem para comentar, a Enel enviou nota informando que "reitera seu compromisso com a população em todas as áreas em que atua e seguirá investindo para entregar uma energia de qualidade para todos". Também destacou que técnicos da companhia seguem trabalhando para reconstruir trechos da rede elétrica danificados e restabelecer o serviço para cerca de 1,45 milhão de clientes que seguiam sem luz.>
A concessionária disse também que o temporal que atingiu a cidade de São Paulo nesta sexta-feira foi um "evento climático extremo" que causou o desligamento de 17 linhas de alta tensão.>
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