Publicado em 14 de outubro de 2024 às 05:39
O apagão que afetou mais de 2 milhões de residências em São Paulo completou dois dias neste domingo (13), com 699 mil imóveis ainda sem luz.>
Após receber críticas de diversas autoridades por falta de ação na crise, a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) anunciou que vai intimar a Enel para explicar os problemas. A concessionária, responsável pela distribuição de energia na Grande São Paulo, terá 60 dias para se defender depois que o processo começar.>
Depois desse período, poderá ser pedida a caducidade (o rompimento) do contrato com a empresa italiana.>
Além disso, a Aneel afirmou que a resposta da Enel ao apagão ficou abaixo do esperado, e a companhia ainda não tem um prazo definido para restabelecer completamente o fornecimento de energia elétrica aos consumidores afetados na cidade de São Paulo e na região metropolitana.>
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As informações foram divulgadas neste domingo (18) após reunião da agência federal e da Arsesp (Agência Reguladora de Serviços Públicos de São Paulo) com empresas distribuidoras de energia realizada em São Paulo.>
Participaram da reunião representantes das empresas Enel São Paulo, Neoenergia Elektro, EDP São Paulo, Energisa Sul-Sudeste, CPFL Piratininga, CPFL Paulista, CPFL Santa Cruz, CTEEP e Eletrobras Furnas.>
Parte da resposta não adequada se deve à demora da companhia para chegar aos 2.500 agentes em campo para restabelecer o serviço, número previsto no plano de contingência apresentado pela empresa.>
Até este domingo são 1.700 agentes em campo, e, nesta segunda (14),segundo o diretor-presidente da Enel, Guilherme Lencastre, a empresa vai completar o contingente.>
O diretor-geral da Aneel, Sandoval Feitosa Neto, afirmou que a resposta não está adequada, segundo o prometido no plano de contingência apresentado pela empresa para emergências. "A retomada está, quando comparamos com o evento do ano passado, não está tão eficiente quanto esperávamos.">
"Em 3 de novembro [de 2023], levou 24 horas para retomar 60% do serviço dos interrompidos, e esse mesmo patamar foi atingido em 42 horas", disse Tiago Veloso, diretor-presidente da Arsesp. Até o momento, 67% dos afetados tiveram o fornecimento de energia restabelecido.>
O encontro foi convocado em meio a uma troca de acusações entre o Ministério de Minas e Energia, o governo de São Paulo e a prefeitura da capital paulista por causa do apagão que deixou mais de 2 milhões sem energia na cidade e na Grande São Paulo.>
A situação causou uma troca de acusações entre o ministro de Minas e Energia do governo Lula (PT), Alexandre Silveira, e o prefeito Ricardo Nunes (MDB), candidato à reeleição.>
O prefeito Ricardo Nunes (MDB) e o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) criticaram a condução federal da crise, e disseram que falta empenho da pasta para romper o contrato com a Enel que é alvo de reclamações desde o apagão de novembro do ano passado.>
Já o ministro de Minas e Energia do governo Lula (PT), Alexandre Silveira, convocou a Aneel a apresentar um plano de contingência para São Paulo e afirmou que pretende exigir a "colaboração de todas as concessionárias na solução do problema", em ofício deste domingo.>
O ministro determinou que Sandoval, o presidente da agência, apresente o plano às 14h desta segunda-feira (14) na capital paulista, onde estará presencialmente por exigência de Lula.>
Silveira também respondeu neste domingo (14) à postagem feita na véspera por Nunes e negou que tenha discutido a renovação da concessão da distribuidora de energia Enel, dizendo ainda que o contrato até 2028 foi assinado por "aliados" do prefeito.>
"Pergunto ao prefeito: as árvores de SP que caíram em cima das redes de energia também são de responsabilidade do governo federal? O que anda fazendo a Aneel, agência ocupada por indicações bolsonaristas, que não dá andamento ao processo de caducidade que denunciei há meses?", escreveu.>
Feitosa, presidente da Aneel, foi indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em 2021 e tem mandato até agosto de 2027.>
Embora a agência seja ligada ao governo federal, Silveira já fez uma série de críticas ao órgão, e o novo apagão deflagrou mais um embate entre ambos.>
No início de outubro, o ministro afirmou publicamente que a agência vive um quadro de "completa desarmonia" entre diretores, área técnica e em relação a seu papel como regulador da legislação do país.>
Neste sábado (12), Silveira afirmou que a Aneel falhou ao não encaminhar a caducidade do contrato da Enel, requerido há um ano pelo governo federal, e mostrou "novamente falta de compromisso com a população".>
Também no sábado, Nunes afirmou pelas redes sociais que o governo federal quer renovar o contrato com a Enel e compartilhou uma notícia da participação de Silveira em um evento em Roma com o diretor da Enel para o resto do mundo, Alberto De Paoli, na sexta (11).>
"No dia do apagão, o ministro das Minas e Energia, Alexandre Silveira, falou em durante um evento com o diretor da Enel, em Roma, na Itália, da possibilidade de renovação dos contratos da Enel no Brasil. São Paulo não merece que a Enel continue prestando seus serviços aqui", escreveu Nunes, que tem o apoio de Bolsonaro na disputa com Guilherme Boulos (PSOL) pela prefeitura.>
Em abril, Boulos se reuniu com Silveira em Brasília para discutir a situação da Enel. "Falta [a Nunes] comando, liderança, iniciativa e capacidade de diálogo com concessionárias; por isso o governo federal está puxando para si [a responsabilidade]", disse na ocasião.>
À época, a participação de Boulos, que é deputado federal, foi criticada por Nunes e vista por aliados do prefeito como politização indevida da questão, diante das eleições municipais.>
No sábado, Boulos também ressaltou que o presidente da Aneel foi indicado por Bolsonaro ao cobrar o fim do contrato com a Enel.>
"Será que o Ricardo Nunes vai cobrar do seu aliado atender o pedido e romper o contrato com a Enel ou vai continuar fugindo da responsabilidade?", escreveu o candidato do PSOL nas redes sociais neste sábado.>
A situação da concessionária também tem mobilizado Tarcísio, que apoia Nunes, contra Silveira. Neste sábado, o governador afirmou que cabem ao ministério e a Aneel "regular, controlar, fiscalizar e garantir que o serviço prestado esteja adequado".>
A gestão estadual também afirmou que vai exigir que o Ministério de Minas e Energia e a Aneel que apontem as medidas que estão sendo tomadas para que o serviço seja reestabelecido totalmente e que a Arsesp vai investigar as responsabilidades das empresas em uma clara referência à Enel.>
O Procon-SP também anunciou que vai notificar a Enel para explicar a demora para a volta da energia.>
A Enel afirma que cerca de 1.700 técnicos estão em campo tentando resolver o problema. Profissionais do Rio de Janeiro e do Ceará, além de funcionários emprestados por outras distribuidoras, estão sendo chamados para ampliar o contingente.>
Segundo a Aneel, 2,6 milhões de consumidores foram afetados por interrupções no fornecimento, dos quais 2,1 milhões estão localizados na área de concessão da Enel. A concessionária afirmou que a energia voltou para 1,4 milhão de seus clientes, mas não há prazo de retorno para os 698,8 mil ainda sem luz.>
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