Publicado em 29 de julho de 2020 às 09:12
O rompimento formal do DEM e do MDB com o Centrão na Câmara dos Deputados, consumado na segunda (27), vai além da disputa pela presidência da Casa em fevereiro de 2021. >
A montagem de uma candidatura de centro para a Presidência em 2022, hoje focada na figura do governador João Doria (PSDB-SP), é o pano de fundo para a movimentação disparada pelo atual chefe da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).>
Não é uma costura vertical, dado que não há um ator com peso político suficiente para impor sua vontade, e vem ocorrendo desde o ano passado. Mas hoje Doria é o principal beneficiário final dos acordos em curso.>
O tucano sonha com uma união de forças de centro que marque diferença com a direita bolsonarista e a esquerda petista.>
>
Alguns caciques ainda especulam a viabilidade de o apresentador Luciano Huck entrar no jogo, mas seu encolhimento político ante a pandemia da Covid-19 parece ter cimentado as dúvidas que existem sobre seu apetite eleitoral.>
Por outro lado, esses políticos se questionam acerca da imagem excessivamente paulista do tucano, uma maldição antiga nas disputas presidenciais. Também é incerto o impacto das denúncias contra líderes da velha guarda do PSDB sobre a sigla em si, mas por ora Doria fica onde está.>
O tucano, contudo, ganhou notoriedade nacional como antípoda de Bolsonaro na condução da crise sanitária. O eventual sucesso da vacina chinesa que ele trouxe para ser feita em conjunto com o Instituto Butantan lhe dará um cacife político extra ainda a ser aferido, ainda que publicamente rejeite a ideia.>
Os outros polos da negociação têm interesses diversos.>
Depois que ficou evidente que não seria apoiado em sua pretensão de buscar um terceiro mandato consecutivo, Maia passou a trabalhar contra o favorito do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) para sua cadeira, Arthur Lira (Progressistas-AL).>
Alguns nomes surgiram como potenciais candidatos, o principal deles o do presidente do MDB, Baleia Rossi (SP).>
Marcos Pereira (Republicanos-SP) e Aguinaldo Ribeiro (Progressistas-PB) também são citados, mas eles não se encaixam tão bem no plano geral para 2022 pela proximidade excessiva do governo federal.>
Já Rossi encarna a promessa do MDB de se manter equidistante dos polos. Ele tem bom trânsito até com a esquerda da Casa, assim como Maia. Com 130 votos, essa oposição não faz nada sozinha, mas tem peso para compor maiorias.>
Contra seu nome há uma eventual resistência ao MDB à frente de duas Casas, dado que o partido não abre mão de comandar o Senado. Mas isso não impediu a dobradinha do DEM na mesma posição, de Maia e o senador Davi Alcolumbre (AP).>
Além disso, Maia trabalha em boa sintonia com Rossi, o que é visto como uma garantia de continuidade. O presidente da Câmara, por sua vez, tem o futuro especulado de diversas formas - entre as mais citadas, como eventual vice numa chapa com Doria, apesar de seu perfil legislativo.>
O bloco formal que une o Centrão (Progressistas, Republicanos, Solidariedade, PROS, PTB, PL e Avante) ao PSD de Gilberto Kassab agora soma ainda respeitáveis 158 votos, 63 a menos com a debandada promovida por Maia e Rossi.>
Isso dificulta ainda mais a vida de Bolsonaro em votações, como a derrota imposta por Maia a Lira na tentativa do Centrão de desidratar o Fundeb a pedido do governo na semana passada mostrou.>
Não chega a criar um risco imediato do ponto de vista de abertura de processos de impeachment, mas a situação do Planalto ficou menos confortável. Seja como for, o candidato de Maia para sua sucessão quase certamente terá o apoio de Doria e do PSDB.>
O acordo se espraia para outras áreas. Há um mês, Maia e Rossi estiveram com o prefeito paulistano, Bruno Covas (PSDB).>
Das discussões saiu a ressurreição de um nome apoiado pelo MDB, ou talvez do próprio partido, para ocupar a desejada posição de vice na chapa do tucano. Hoje, o prefeito é favorito à reeleição nas sondagens internas de partidos aliados e adversários do tucano.>
Assim, emergiu novamente a figura do apresentador José Luiz Datena, que submergiu após desistir oficialmente de disputar a prefeitura, sugerir apoio a Covas e filiou-se ao MDB. Aliados dele o consideram pronto para entrar na campanha.>
Como o DEM ocupa a vice de Doria hoje, com Rodrigo Garcia, por essa lógica a tríade dos partidos ficaria consolidada no principal estado do país, visando 2022.>
O fator oculto, até por uma questão de bons modos políticos, é a saúde de Covas, que combate um câncer. Se ele precisar se ausentar da prefeitura, a figura do vice tende a se consolidar como central na maior cidade do país. O tucano era vice de Doria, assim como Kassab era de José Serra (PSDB), e foi reeleito.>
O PSD, por sinal, mantém-se estrategicamente fechado em copas. Ganhou espaço na Esplanada dos Ministérios, e hoje o ministro Fábio Faria (Comunicações) é um dos principais articuladores políticos do governo.>
Kassab é visto como um apoiador da candidatura de Lira, mas não se coloca publicamente desta forma.>
Mas sua proximidade histórica com o PSDB sugere que os 35 votos que agrega ao bloco liderado pelo Centrão podem vir a engrossar fileiras não ligadas ao Planalto à medida que a eleição presidencial se aproxima.>
O partido ambiciona sair como uma grande potência municipal no fim do ano, a partir de uma posição forte em Minas Gerais, onde a reeleição de Alexandre Kalil é dada como provável.>
O próprio Kassab é secretário licenciado do governo Doria, devido à acusação que responde de caixa dois, e muitos veem o PSD junto com um bloco de centro em 2022.>
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta