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Acadêmicos e ganhadores do Nobel assinam carta contra ataques à ciência

Acadêmicos e ganhadores do Nobel assinam carta contra ataques à ciência

No texto, os signatários afirmam que a ciência brasileira sofre com cortes orçamentários, perseguições e a instrumentalização para fins eleitorais no governo de Jair Bolsonaro

Publicado em 20 de abril de 2021 às 17:24

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Jair Bolsonaro exibe caixas de cloroquina
Jair Bolsonaro exibe caixas de cloroquina. (Reprodução)

Mais de 200 pesquisadores do mundo inteiro, incluindo três laureados pelo Prêmio Nobel, assinaram uma carta aberta em solidariedade a acadêmicos e cientistas brasileiros. No documento, os signatários afirmam que a ciência brasileira sofre com cortes orçamentários, perseguições e a instrumentalização de pesquisas para fins eleitorais. O grupo também critica a gestão do presidente Jair Bolsonaro na condução da pandemia de covid-19 e pede a responsabilização do governante.

Entre os signatários estão nomes como Michel Mayor (Nobel de física em 2019), Peter Ratcliffe (Nobel de medicina em 2019) e Charles Rice (Nobel de medicina em 2020), além de Peter Wagner (Universidade de Barcelona, Espanha), Jacques Rancière (Universidade Paris 8, França), Helena Hirata (CNRS, França) e Susan McGrath (Universidade de York, Canadá). Acadêmicos brasileiros membros de diferentes universidades e institutos científicos também assinam a carta.

A pesquisadora Glenda Andrade, doutoranda na Universidade Paris 8, foi quem redigiu o documento em 6 de abril, motivada por conversas com as acadêmicas brasileiras Helena Hirata, professora emérita da CNRS-França, Liliana Segnini, da Unicamp, e Graça Druck, da Universidade Federal da Bahia. Segundo Glenda, nos círculos universitários há grande comoção com a crise brasileira agravada pela gestão Bolsonaro, e a carta é uma iniciativa simbólica.

"Nós nos preocupamos com o agravamento da crise sanitária no Brasil e com os ataques à ciência. Por meio desta carta aberta, nós, acadêmicos de todo o mundo, demonstramos nossa solidariedade com os colegas no Brasil, cujas liberdades estão ameaçadas, e com a população brasileira, que é afetada diariamente por essa política destrutiva", diz a carta.

O texto destaca as repetidas investidas do governo federal contra a contenção da pandemia, relembra a má condução do presidente em pautas ambientais e pede a correta responsabilização. "Em um contexto de crise sanitária, de agravamento das desigualdades e de mudanças climáticas, este tipo de conduta é inaceitável, e o autor deve ser responsabilizado". O documento também denuncia o negacionismo, a negligência e a proliferação de notícias falsas por parte do governo federal.

"Bolsonaro desencorajou ainda a vacinação, chegando a sugerir, por exemplo, que as pessoas poderiam se transformar em 'jacaré'. Em meio ao negacionismo, proliferação de falsas informações e ataques à ciência, em plena crise sanitária o presidente chegou a mudar quatro vezes de ministro da Saúde", diz outro trecho do documento.

A carta também menciona os recordes diários de mortes pela covid-19 no Brasil e aponta o País como uma "gigantesca fábrica de variantes" do vírus. "Ao desmentir a ciência, Bolsonaro não somente fere a comunidade científica, mas toda a sociedade brasileira", diz o documento.

CONFIRA, A SEGUIR, A CARTA NA ÍNTEGRA

Carta Aberta: solidariedade internacional aos pesquisadore(a)s e cientistas no Brasil e ao povo brasileiro.

Pesquisadore(a)s do mundo todo,

O Brasil registra 4195 mortes pela Covid. Ao todo, são mais de 340 000 óbitos contabilizados desde o começo da pandemia. Se o coronavírus afeta todos os países do globo, a amplitude da catástrofe sanitária que acomete o país não pode ser dissociada da gestão desastrosa do presidente Jair Bolsonaro. O presidente deve ser responsabilizado pela condução da crise sanitária no Brasil, que não somente fez explodir o número de mortes mas acentuou as desigualdades no país.

Em inúmeros momentos, o dirigente da república brasileira se referiu à covid-19 como « gripezinha , minimizando a gravidade da doença. Bolsonaro criticou as medidas preventivas, como o isolamento físico e o uso de máscaras, e por diversas vezes provocou aglomerações. Chegou a propagar o uso da cloroquina, embora cientistas alertassem para os efeitos tóxicos do uso do fármaco para combater a covid. Pesquisadores que publicaram estudos que demonstravam que o uso do medicamento aumentava o risco de morte em pacientes com Covid chegaram a ser ameaçados no Brasil.

Bolsonaro desencorajou ainda a vacinação, chegando a sugerir, por exemplo, que as pessoas poderiam se transformar em « jacaré . Em meio ao negacionismo, proliferação de falsas informações e ataques à ciência, em plena crise sanitária, o presidente chegou a mudar quatro vezes de ministro da saúde.

A ciência brasileira está sofrendo diversos ataques : cortes e mais cortes orçamentários que ameaçam pesquisas e colocam o trabalho de cientistas em xeque ; instrumentalização da ciência à fins eleitoreiros, como bem mostram as declarações do presidente descredibilizando o trabalho de cientistas durante a crise sanitária. Esses ataques, no entanto, vão além do contexto da covid-19. Basta lembrar os ataques feitos por Bolsonaro ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) em um contexto alarmante diante dos níveis de desmatamento da Amazônia.

Ao desmentir a ciência, Bolsonaro não somente fere a comunidade científica, mas toda a sociedade brasileira : são diários os recordes de mortes pela covid, dados da Fiocruz indicam por exemplo a circulação de 92 cepas do coronavírus no Brasil, o que torna o país uma gigantesca fábrica de variantes ; para além temos ainda os impactos sobre o meio ambiente, povos tradicionais da Amazônia e o clima global.

Em um contexto de crise sanitária, de agravamento das desigualdades, de mudanças climáticas, este tipo de conduta é inaceitável e o autor deve ser responsabilizado. Nós nos preocupamos com o agravamento da crise sanitária no Brasil, com os ataques à ciência e por meio desta carta aberta nós, acadêmico(a)s de todo o mundo, demonstramos nossa solidariedade com os/as colegas no Brasil, cujas liberdades estão ameaçadas e com a população brasileira que é afetada diariamente por essa política destrutiva.

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