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É sócia do Terra e Vecci Advogados Associados, Mestre em Direito Tributário pela FGV/SP

Simplificação de Obrigações Acessórias: pré-reforma tributária ou consolo?

É impossível não vermos um paralelismo entre a Lei Complementar publicada e a PEC 45, que prevê a unificação de tributos federais, estaduais e municipais, a criação do Conselho Gestor e a preocupação com o pacto federativo

  • Fernanda Terra É sócia do Terra e Vecci Advogados Associados, Mestre em Direito Tributário pela FGV/SP
Publicado em 15/08/2023 às 13h02

Enquanto aguardamos o Senado votar a Emenda Constitucional que trata da reforma tributária – PEC nº 45/2019, já aprovada na Câmara, vemos publicada no Diário Oficial da União, do dia 1º de agosto, a Lei Complementar nº199/2023, que cria o Estatuto Nacional de Simplificação de Obrigações Acessórias.

Segundo a mencionada Lei Complementar (LC), o Estatuto tem a finalidade de diminuir os custos de cumprimento das obrigações tributárias e de incentivar a conformidade por parte dos contribuintes, no âmbito dos Poderes da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios.

Para um país onde existem aproximadamente 97 obrigações acessórias para pagamento de tributos, o que leva a um gasto estimado entre 1.483 e 1.501 horas por ano — o mais longo em todo o mundo segundo o Doing Business Subnacional Brasil 2021 — a possibilidade de simplificação é sempre uma expectativa positiva.

Nesse sentido, a unificação de documentos fiscais eletrônicos e de cadastros; a facilitação dos meios de pagamento de tributos (por meio de unificação dos documentos de arrecadação), a utilização de declarações pré-preenchidas, tudo com objetivo de padronizar a legislação reduzindo custo para os Fiscos e também para os contribuintes, chega como um animador tratamento para alívio do manicômio tributário.

A pílula — uma nova obrigação acessória que será utilizada para todos os tributos de competência da União (exceto para o IR e IOF), estados, Distrito Federal e munícipios, inclusive, para os demais tributos instituídos após a publicação da LC.

Para não atropelar competências constitucionais, a LC dispõe que os entes políticos mantêm a possiblidade de instituir suas próprias obrigações acessórias relativas aos tributos de sua competência; contudo, não poderão dispor das obrigações unificadas, as quais serão criadas por um comitê.

O Comitê Nacional de Simplificação de Obrigações Tributárias Acessórias (CNSOA), presidido e coordenado por um representante da União, que será indicado pelo ministro da Fazenda, será composto pelos seguintes membros: seis representantes da Secretaria Especial da Receita Federal; seis representantes dos estados e do Distrito Federal; e, seis representantes dos municípios, com quórum de aprovação de três quintos.

No mais, a LC prevê a manutenção do tratamento diferenciado e favorecido dispensado às microempresas e empresas de pequeno porte, assim como aos microempreendedores individuais optantes pelo Simples Nacional.

Sessão na Câmara dos Deputados em que foi aprovada a reforma tributária
Sessão na Câmara dos Deputados em que foi aprovada a reforma tributária. Crédito: Zeca Ribeiro/Agência Câmara

Assim, é impossível não vermos um paralelismo entre a Lei Complementar publicada e a PEC 45, que prevê a unificação de tributos federais, estaduais e municipais, a criação do Conselho Gestor, a preocupação com o pacto federativo na observância das competências constitucionais.

Ficamos apenas com uma dúvida — a simplificação das obrigações acessórias atesta a certeza de aprovação do governo federal em relação à reforma tributária e a recém-editada LC é, portanto, uma pré-reforma, o que poderá acelerar os efeitos da principal? Ou é uma resposta possível para melhora do ambiente de negócio do país, diante de uma inequívoca derrota no Parlamento? Aguardemos.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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