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É sociólogo, mestre e doutorando em Ciências Sociais pela Ufes e Subsecretário de Estado de Políticas sobre Drogas

Prevenção ao consumo de drogas não se faz com moralismo

Precisamos entender que prevenção efetiva sobre drogas não se faz apenas com palestras, geralmente de cunho moralizante, mas principalmente com um conjunto de políticas públicas para o fortalecimento de fatores de proteção social

  • Carlos Augusto Lopes É sociólogo, mestre e doutorando em Ciências Sociais pela Ufes e Subsecretário de Estado de Políticas sobre Drogas
Publicado em 21/06/2022 às 11h42

Há um velho ditado que diz que é melhor prevenir do que remediar. Isso significa que é mais eficiente evitar que um determinado cenário seja criado do que lutar contra ele depois do surgimento e posterior crescimento. E isso não é diferente quando o assunto é o uso de álcool e outras drogas.

Segundo a última Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE), realizada em 2019 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a experimentação de álcool e outras drogas está acontecendo cada vez mais cedo. O levantamento mostrou que 63,3% dos estudantes entre 13 e 17 anos já consumiram alguma bebida alcoólica e que 13% deles já usaram substâncias ilícitas como maconha, cocaína, crack, loló, lança-perfume, ecstasy, oxy, etc.

Diante desses números, o que fazer para prevenir e educar sobre drogas de uma maneira diferenciada e com resultados satisfatórios?

Antes de traçar estratégias nesse campo, é fundamental ter em mente o que leva uma pessoa a experimentar substâncias psicotrópicas. Especialistas apontam fatores como curiosidade, influência dos amigos, busca pelo prazer imediato e/ou o alívio da tensão no dia a dia, além de questões sociais, como a desigualdade, o desemprego e a falta de perspectivas para o futuro.

Precisamos, portanto, entender que prevenção efetiva sobre drogas não se faz apenas com palestras, geralmente de cunho moralizante, mas, principalmente, com um conjunto de políticas públicas para o fortalecimento de fatores de proteção social. Aqui no Espírito Santo, o Governo do Estado desenvolve uma série de programas que podem ser considerados políticas de prevenção sobre drogas.

Podemos destacar algumas delas, como as iniciativas de prevenção financiadas pelo programa Rede Abraço, as escolas de tempo integral (Sedu), o programa de transferência de renda “Bolsa Capixaba” (Setades), o projeto “Campeões do Futuro” (Sesport), os Centros de Referência da Juventude (CRJs), os editais de cultura (Secult) e o Programa de Qualificação Profissional (Qualificar-ES).

Uma vez que o consumo de álcool e outras drogas está cada vez mais precoce, além do fortalecimento dos fatores protetivos, é preciso também que o tema seja debatido entre adolescentes e jovens. Para tanto, é essencial que a temática seja abordada de forma transdisciplinar nas escolas, ou seja, não apenas em uma ou outra disciplina isolada do currículo.

Ciente dessa necessidade, a Subsecretaria de Estado de Políticas sobre Drogas (Sesd), em parceria com a Secretaria de Educação (Sedu), elaborou o Caderno Metodológico de Prevenção ao uso de Álcool e outras Drogas para as escolas públicas da rede estadual de ensino.

Desenvolvido a partir das novas diretrizes da educação propostas pela Base Nacional Curricular (BNCC) e dos temas integradores presentes no Currículo do Espírito Santo, o material é voltado para educadores do Ensino Fundamental I e II e do Ensino Médio. O objetivo é a ampliação e o compartilhamento de conhecimento e experiências na abordagem sobre drogas.

Nesta Semana Estadual de Políticas Sobre Drogas, é imprescindível afirmar que a educação e prevenção sobre o uso de substâncias psicotrópicas, incluindo o álcool, não devem ser trabalhadas com abordagens moralistas e repressivas. O melhor e mais efetivo caminho é investir em conhecimento qualificado sobre o assunto e em políticas públicas que proporcionem mais oportunidades e qualidade de vida à população.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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