Já há algum tempo fala-se no sufocamento do modelo econômico atual, nos efeitos agressivos de uma “desindustrialização” e um arrefecimento na produção global. Em janeiro o próprio Fórum Econômico Mundial propôs um novo capitalismo, o “stakeholder capitalism”, admitindo que, para o mercado prosperar, é necessária a proteção do meio ambiente e a preservação de direitos humanos em toda a cadeia de fornecedores. E também os empregados devem ser bem treinados e bem remunerados.
A pandemia sanitária ocasionada pela Covid-19 apenas acelerou este processo, forçando a sociedade a se remodelar com urgência. Alguns especialistas mais apocalípticos falam até mesmo em uma “desglobalização”. Ainda que isso pareça pouco provável, fato é que as nações se atentaram para a importância de terem seus próprios parques industriais, não dependendo somente do modo fabril estrangeiro mais barato. Os países precisam, enfim, ter suas próprias indústrias e ter seus próprios consumidores.
Na maior potência do Ocidente, em que pese a redução do índice de desemprego nos últimos anos – antes da Covid-19, evidentemente – há pelo menos uma década tem-se percebido uma constante queda na renda das famílias americanas. Menos renda, menos consumo.
O Brasil, por outro lado, como já observava o mestre cepalino Celso Furtado, nunca foi um país de grande consumo. Enquanto grande parte da população consome tão somente para a subsistência, uma parcela privilegiada a cada dia pratica um consumo mais fútil e mais sofisticado, impulsionada pela inovação tecnológica de Schumpeter, aumentando o abismo da desigualdade.
Para que o fluxo circular da renda e da produção gire em equilíbrio novamente, o Brasil tem que focar em mecanismos de incentivo à indústria local, à economia criativa e ao aumento de renda das famílias, para que possam consumir mais que a subsistência. Mais renda, mais consumo. Criar leis que flexibilizam ou enrijecem direitos trabalhistas não gera mais empregos ou aumenta rendimentos reais. Quando muito, alteram a distribuição entre trabalhadores formais e informais.
O Estado deve aproveitar essa onda keynesiana para focar na emancipação do trabalhador brasileiro, gradativamente deixando de tratá-lo como um eterno vulnerável, além de, ou como parte disso, promover o micro empreendedorismo (para garantir mais igualdade e menos acúmulo), incentivar novas ideias e priorizar, sobretudo, o produto nacional competitivo, sem o fantasma da política de substituição de importações. Parece-nos o caminho certo para a retomada e, quem sabe, alçar uma posição definitiva de país desenvolvido.
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O autor é juiz do Trabalho, professor, mestre em processo civil, especialista em direito do trabalho, acadêmico de economia e comentarista da CBN Vitória.
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