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É consultora política e especialista em Comunicação Política e Eleitoral

Eleições 2024: temos ferramentas para superar a radicalização

As campanhas municipais terão a chance de mostrar o início do caminho de volta para um cenário em que as discordâncias não separam famílias. Isso só vai acontecer se elas forem "desnacionalizadas" e mais focadas nos debates locais

  • Ananda Miranda É consultora política e especialista em Comunicação Política e Eleitoral
Publicado em 22/03/2024 às 17h07

Desde muito jovem me encantei por campanhas políticas. Me lembro dos muros pintados, bonés, camisetas e de toda família envolvida no clima eleitoral. Era como se a cidade entrasse na ambiência das eleições, era uma espécie de Copa do Mundo.

Passados muitos anos, esse ambiente se tornou digital, está nas nuvens e ao mesmo tempo nas ruas; num embate diário do que é verdade e do que é mentira, de quem é mais ou menos digno de conduzir a nação.

Não preciso recapitular como viemos parar aqui. Cientistas políticos e pesquisas recentes nos mostram dados preocupantes, mas nada surpreendentes: a sensação de radicalização é calcificada. Superar a polarização parece impossível, mas, como quase tudo na vida, muitas vezes a resposta está no próprio questionamento.

O conceito de polarização vem daquilo que trata da separação de opostos. Se formos olhar pela lente da física (sou filha de físico e é difícil não citar essa ciência em meus poucos escritos), os polos opostos se atraem. Parece cômico, e é. O que cria essa interação de atração ou repulsão é uma ideia de campo.

O campo é uma alteração no espaço que proporciona forças repulsivas ou atrativas. Ou seja, todos nós podemos ser atraídos ou repelidos nos campos, o que determina se seremos ou não atingidos é, entre outras coisas, a distância em que estamos da fonte geradora do campo.

Para resolver essa questão física, digo, social, é preciso que uma força afete esse eleitor para uma outra direção. Uma que seja longe dos campos que os influenciam e mais perto de quem ele considera opositor. Essa força é a comunicação. Será através do impacto da comunicação que conseguiremos romper o extremismo. A comunicação, se bem executada, será capaz de atrair outros eleitores para dentro do seu campo e proporcionar interações.

As campanhas municipais terão a chance de mostrar o início do caminho de volta para um cenário em que as discordâncias não separam famílias. Isso só vai acontecer se elas próprias não forem pensadas apenas para os polos, se forem "desnacionalizadas" e mais focadas nos debates locais. Já fizemos isso em outras oportunidades.

O Espírito Santo é um celeiro de campanhas históricas e, pra puxar sardinha para o nosso lado, essas campanhas foram lideradas por grandes mulheres. A figura da marqueteira foi personificada em nomes como o de Bete Rodrigues, Flavia Mignoni e Jane Mary.

Urna eletrônica, eleição, marketing político
Urna eletrônica, eleição, marketing político. Crédito: Shutterstock

Elas, cada uma à sua maneira, demonstraram na prática a força da comunicação de alterar convicções e atingir valores. As campanhas vitoriosas conduzidas por elas acertaram na representatividade e no envio de mensagens que fizeram com que o eleitor se identificasse e criasse uma conexão afetiva com os candidatos, sem deixar de debater as questões próprias do nosso Estado e municípios.

Se o país se dividiu (e por vezes se sente intimidado a continuar se dividindo) com a polarização, será por meio da comunicação que venceremos os extremismos. Se ao final de 2024 as campanhas eleitorais criarem convergências capazes de costurar o tecido social, teremos testemunhado outro fenômeno da física, aquele que foi capaz, mais uma vez, de modificar o estado das coisas: a atração por meio da comunicação. Quem sabe esse fenômeno não leve o nome de uma dessas das grandes marqueteiras capixabas que, antes mesmo da radicalização existir, já sabia como contorná-la. Se levar, será justo!

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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