Publicado em 1 de agosto de 2024 às 21:15
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A projeção independente que deu vitória à oposição por 66,7% a 33,7% nas eleições presidenciais da Venezuela, relatada pela Folha no dia seguinte ao pleito, é mais confiável do que uma pesquisa de boca de urna ou um levantamento de intenções de voto, diz Raphael Nishimura, do Instituto de Pesquisa Social da Universidade de Michigan.>
Nishimura, estatístico brasileiro que participou do estudo, explica que, ao contrário de levantamentos nos quais entrevistados podem mudar de ideia mais tarde ou mentir, a projeção nesse caso se baseou em dados oficiais de atas de urnas eletrônicas na Venezuela.>
Essas atas, cerca de 3% do total, foram coletadas por voluntários de uma ONG venezuelana que se identifica como opositora da ditadura e cujo nome não é divulgado publicamente por temor de retaliação do regime. Com esses dados em mãos, os pesquisadores conseguiram projetar uma vitória do ex-diplomata Edmundo González sobre Nicolás Maduro.>
"Eles [a ONG venezuelana] estavam procurando uma avaliação independente e técnica dos métodos que eles estavam propondo e também uma ajuda em calcular, por exemplo, as margens de erro das estimativas", disse Nishimura para explicar como entrou em contato com o projeto.>
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Ele defende a qualidade dos dados em relação a pesquisas de intenção de voto tradicionais. "Nesses casos, normalmente há uma amostra de pessoas e são feitas projeções com base nessa mostra. [O estudo sobre a Venezuela] não é muito diferente, é até mais fácil, porque os dados são dados oficiais, livres de qualquer tipo de problema.">
Essas atas eleitorais estão no centro da controvérsia sobre os resultados do pleito presidencial na Venezuela - o CNE (Conselho Nacional Eleitoral), órgão responsável pelas eleições e controlado pelo chavismo, declarou Maduro vencedor com 51% dos votos contra 44% de González, mas ainda não apresentou os documentos que comprovariam esses números.>
Países como o Brasil, a Colômbia, o México e os Estados Unidos pressionam Maduro para que haja essa divulgação.>
A oposição diz ter em seu poder até esta quinta-feira (1º) 80% das atas, cujo conteúdo comprovaria a vitória de González com 67% dos votos - um número muito parecido ao do resultado do levantamento conduzido por Nishimura. Ainda não há uma avaliação independente que comprove a veracidade dos documentos apresentados pela coalizão liderada pela líder María Corina Machado.>
Além de Nishimiura, também coordenou o projeto o professor associado de ciência política da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Dalson Figueiredo. A maior incerteza da pesquisa tem origem no fato de que se trata de uma amostragem: os pesquisadores só tiveram acesso a 994 das 30 mil mesas de votação, cerca de 3% do total.>
Ainda assim, dizem que é um número robusto o bastante para projetar os resultados finais, uma vez que foram escolhidos locais de votação tanto em áreas que costumam apoiar mais o chavismo quando em outros onde a oposição é mais forte.>
De acordo com o jornal americano The New York Times, que replicou os resultados do estudo, essas mesas de votação refletiram o resultado geral das eleições de 2015, 2018 e 2021 com dois pontos percentuais de diferença ou menos - até esse ano, quando os resultados aferidos divergem mais de 20 pontos percentuais daqueles apresentados pelo regime, um forte indício de que eles estão incorretos.>
Nishimura diz que já tinha experiência como consultor de estatística em projetos internacionais, mas que nunca tinha trabalhado com uma tabulação paralela de votos. Seu papel se resumiu, no entanto, a fazer uma avaliação técnica independente dos métodos que estavam sendo utilizados e ajudar a calcular a margem de erro das estimativas produzidas.>
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