Publicado em 18 de outubro de 2023 às 08:05
O mundo ainda está surpreso com o ataque sem precedentes de combatentes do Hamas no dia 7 de outubro, a retaliação de Israel e a esperada invasão por terra da Faixa de Gaza. >
A BBC recebeu centenas de perguntas sobre o conflito, seu impacto e como ele poderá terminar. Muitas pessoas perguntam se outros países podem se envolver na guerra. >
Nossos repórteres, vários deles atualmente na região, responderam algumas das questões mais frequentes do público.>
Craig Johnson, de Skelmersdale (Reino Unido), pergunta: se o Irã se envolver diretamente no conflito, isso levaria os Estados Unidos e seus aliados a entrar diretamente na guerra? Poderia causar a Terceira Guerra Mundial?>
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Jeremy Bowen, editor internacional da BBC, está no sul de Israel e responde:>
Questionado sobre a possibilidade de intervenção do Irã ou do seu aliado libanês, o Hezbollah, o presidente americano Joe Biden respondeu: "não façam isso".>
Os americanos acabaram de enviar dois porta-aviões de combate para o leste do Mediterrâneo, enviando uma mensagem muito forte para que o Irã não se envolva no conflito.>
Eles dizem que, se alguém intervier, precisará enfrentar o poderio militar americano, não apenas Israel.>
Uma das principais linhas de tensão do Oriente Médio é a que separa os Estados Unidos e seus aliados, de um lado, e os iranianos, do outro.>
Os dois lados conhecem os riscos. Se o conflito evoluir para uma guerra real, ele irá causar um enfrentamento de importância global no Oriente Médio.>
Luciano Sisi, das Fronteiras Escocesas (Reino Unido), pergunta: qual é o objetivo de Israel com a anunciada guerra terrestre?>
Lyse Doucet, chefe dos correspondentes internacionais da BBC, responde do sul de Israel:>
Nas guerras anteriores, Israel prometeu "atingir em cheio o Hamas", para destruir sua capacidade de disparar foguetes em direção a Israel — incluindo sua vasta rede de túneis subterrâneos.>
Mas, desta vez, é diferente. Israel promete "destruir o Hamas", uma organização que, segundo eles, deve ser aniquilada, como o grupo Estado Islâmico.>
Israel tem poderio militar para destruir a infraestrutura do Hamas, demolir os seus túneis e paralisar suas redes de comando e controle.>
Mas não está claro até que ponto Israel tem conhecimento do que os aguarda na Faixa de Gaza. Afinal, a destreza militar do Hamas – incluindo seu conhecimento surpreendentemente preciso da segurança israelense, que permitiu ao grupo ludibriar as formidáveis defesas do país — impressionou Israel.>
O Hamas provavelmente irá demonstrar o mesmo nível de sofisticação quando enfrentar a reação israelense, que certamente será feroz.>
E, ao contrário do grupo Estado Islâmico, o Hamas é também uma organização social e política integrada à sociedade palestina.>
Uma ofensiva militar pode destruir o metal e o concreto, mas não a coragem das pessoas. Sua determinação de morrer pela causa só ficará mais fortalecida.>
Andrew Parker, do Reino Unido, pergunta: qual foi o objetivo do ataque inicial do Hamas?>
Frank Gardner, repórter de segurança da BBC, responde:>
A razão fornecida na época pelo porta-voz do Hamas, Mohammed Al-Deif, foi: "chega".>
Segundo ele, o ataque foi uma resposta ao que o Hamas chamou de provocações e humilhações constantes sofridas pelos palestinos, nas mãos dos israelenses na Faixa de Gaza e na Cisjordânia.>
Mas os analistas acreditam que pode haver outras razões não declaradas.>
Antes do ataque, Israel e a Arábia Saudita mantinham negociações adiantadas para a normalização das suas relações.>
Essas negociações enfrentavam a oposição do Hamas e do seu apoiador, o Irã. Os sauditas, agora, suspenderam as conversações.>
Mas pode ter havido mais do que isso.>
Os líderes do Hamas podem ter observado as profundas divisões na sociedade israelense, causadas pelas formas do judiciário introduzidas pelo governo de direita do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.>
Eles pretendiam impor a Israel um golpe doloroso. E conseguiram.>
Diana, no Reino Unido, pergunta: os muçulmanos falam na família e na irmandade do Islã. Como os muçulmanos do Egito justificam a decisão de manter fechada sua fronteira com a Faixa de Gaza?>
Jeremy Bowen, editor internacional da BBC, responde do sul de Israel:>
O Islã é uma religião, mas não transcende necessariamente a política de segurança nacional.>
Estou certo de que milhões de muçulmanos egípcios querem aliviar o sofrimento dos civis na Faixa de Gaza.>
Mas o governo egípcio, mesmo em tempos tranquilos, não permite o acesso rotineiro à Faixa de Gaza pela passagem de Rafah. O Egito foi um parceiro subalterno nas ocasiões anteriores em que Israel cercou a Faixa de Gaza, desde que o Hamas assumiu o poder em 2007.>
O Hamas tem raízes na organização Fraternidade Muçulmana, fundada no Egito um século atrás. A Fraternidade quer remodelar os Estados e a sociedade de acordo com os ensinamentos e a fé islâmica.>
Mas o exército egípcio se opõe. Ele derrubou um presidente muçulmano eleito em 2013.>
O atual regime do Egito tem relações com o Hamas. No passado, ele foi a ligação entre o Hamas e Israel, mas não quer receber um fluxo de entrada de refugiados palestinos.>
Os acampamentos na Faixa de Gaza existem até hoje, 75 anos depois que foram formados para abrigar refugiados expulsos de Israel logo após a independência e que nunca receberam autorização para voltar para casa.>
Simon, no Reino Unido, pergunta: O mundo emitiu uma ordem de prisão internacional contra o presidente russo, Vladimir Putin. Por que não houve a mesma reação contra os líderes do Hamas? Não foi um crime de guerra em massa?>
Paul Adams, repórter de questões internacionais da BBC, responde:>
Israel não se considerava em guerra com o Hamas antes de 7 de outubro, apesar dos períodos anteriores de conflito que remontam a muitos anos atrás.>
Para Israel, este foi um ato de terrorismo, não de guerra.>
O governo de Benjamin Netanyahu busca por justiça por seus próprios meios e já matou pelo menos dois comandantes do Hamas considerados responsáveis pelos massacres. E, sem dúvida, irá tentar matar muitos outros.>
Pode-se questionar a liderança política da organização — estabelecida no Catar e no Líbano — que, segundo algumas fontes, desconhecia os planos do seu braço militar de atacar o território de Israel.>
Sadul Hoque, de Londres, pergunta: Se todos concordam que Israel está matando civis e irá matar muito mais nos novos ataques, por que as Nações Unidas e outros países não intervêm?>
James Landale, repórter de diplomacia da BBC, responde:>
O principal motivo que leva muitos países a não pressionar Israel a suspender os ataques aéreos é porque eles concordam que o país foi atacado pelo Hamas e tem o direito de se defender.>
O que eles pedem é contenção sobre a forma como Israel se defende.>
O primeiro-ministro britânico Rishi Sunak afirmou: "discuti com o primeiro-ministro israelense a necessidade de minimizar o impacto sobre os civis da melhor maneira possível". E as Nações Unidas também apelaram a Israel que evitasse a morte de civis.>
O secretário-geral da ONU, António Guterres, disse alguns dias atrás: "a legislação humanitária internacional e as leis sobre direitos humanos devem ser respeitadas e mantidas; os civis devem ser protegidos e nunca ser usados como escudos".>
Israel insiste que seus aviões militares e sua artilharia estão atingindo alvos do Hamas na Faixa de Gaza. Mas muitos civis, de fato, estão sendo mortos e feridos nesses ataques.>
Os palestinos afirmam que isso ocorre porque os ataques israelenses são excessivos e indiscriminados. Já para Israel, o motivo é porque o Hamas usa civis como escudos humanos.>
Um leitor anônimo pergunta: como é possível que as Forças Armadas israelenses tenham inteligência e vigilância suficientes para saber exatamente onde o Hamas está posicionado na Faixa de Gaza, mas não sabiam que o Hamas iria atacar Israel, nem observaram nenhum sinal de aviso sobre o ataque?>
Yolande Knell, correspondente da BBC no Oriente Médio, responde de Jerusalém:>
No passado, as forças armadas de Israel abriram seu centro de vigilância da Faixa de Gaza para os jornalistas. Claramente, eles têm excelentes informações em tempo real sobre a movimentação em terra, obtidas por meio de drones e outras câmeras.>
Eles também têm uma ampla rede de informantes.>
Pudemos observar nos combates de maio, contra a Jihad Islâmica, a precisão das informações de Israel sobre o paradeiro dos principais militantes.>
Nas suas comunicações, as autoridades militares israelenses concordam que houve falhas importantes de inteligência e de segurança em relação ao ataque mortal sem precedentes do Hamas.>
Mas podemos ter a certeza de que eles têm uma longa e precisa lista de alvos do Hamas que serão perseguidos assim que começarem as ações em terra.>
Mais ao norte da Faixa de Gaza, aumentam as tensões entre Israel e o Líbano. Um leitor quer saber: se o Líbano se envolver no conflito, qual é o tamanho das forças do Hezbollah em comparação com o Hamas?>
O jornalista brasileiro Hugo Bachega, repórter da BBC no sul do Líbano, responde:>
O Hezbollah é um movimento social, político e militar libanês. Ele é considerado por Israel, há muito tempo, uma força mais poderosa do que o Hamas.>
O grupo é fortemente armado e apoiado pelo Irã. Estima-se que ele detenha 130 mil foguetes e mísseis, segundo o Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais.>
A maior parte deste arsenal é composta de pequenos foguetes de artilharia de superfície portáteis e não teleguiados. Mas também há mísseis antiaéreos e antinavios, além de foguetes teleguiados capazes de atingir o centro do território de Israel.>
São armas muito mais sofisticadas do que o arsenal do Hamas.>
O líder do Hezbollah afirmou que dispõe de 100 mil combatentes, mas as estimativas independentes variam entre 20 mil e 50 mil. Muitos deles são treinados e têm experiência de combate, por terem lutado na guerra civil da Síria.>
Em comparação, o Hamas possui cerca de 30 mil combatentes, segundo Israel.>
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