Publicado em 22 de fevereiro de 2025 às 12:44
Quando Luisa Toscano descobriu que tinha câncer de mama, ela ficou chocada.>
"Foi completamente inesperado", diz a brasileira de 38 anos e mãe de dois filhos. >
"Eu era jovem, saudável, em forma e não tinha fatores de risco — isso não deveria acontecer comigo. Eu não conseguia acreditar. O câncer parecia tão distante da minha realidade.">
Luisa foi diagnosticada com câncer em estágio três em março de 2024, o que significava que a doença já estava em estágio avançado.>
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Ela fez mais de quatro meses e meio de quimioterapia, seguida de cirurgia para remover parte da mama e, em seguida, radioterapia. Luisa concluiu seu tratamento em agosto, mas ainda precisa tomar medicamentos para evitar que o câncer volte.>
"A quimioterapia foi agressiva, mas meu corpo aguentou bem", ela lembra. "O que eu atribuo a ser ativa e ter um corpo jovem e resiliente.">
Então veio a cirurgia.>
"Felizmente, não precisei remover meu seio inteiro. A parte mais difícil foi perder meu cabelo. Tudo aconteceu muito rápido e intensamente. Quando eu me olhava no espelho, ficava assustada, e isso afetou meus filhos também.">
A história de Luisa não é isolada, mas destaca uma tendência global crescente: mais adultos jovens estão sendo diagnosticados com câncer, geralmente sem histórico familiar da doença.>
O câncer é mais comum em pessoas mais velhas devido a fatores biológicos, ambientais e de estilo de vida; por exemplo, o envelhecimento aumenta as divisões celulares, levando ao acúmulo de mutações e a um maior risco de câncer.>
Portanto, os oncologistas há muito tempo associam os diagnósticos precoces de câncer em pessoas mais jovens a fatores genéticos herdados, como mutações BRCA1 e BRCA2 no câncer de mama.>
No entanto, mais pacientes, como Luisa, não têm mostrado sinais claros de predisposição genética.>
Um estudo recente publicado no BMJ Oncology revelou que a incidência de câncer de início precoce entre adultos com menos de 50 anos em todo o mundo aumentou em 79% entre 1990 e 2019, com mortes relacionadas ao câncer no mesmo grupo aumentando em 28%. O estudo analisou 29 tipos de câncer em 204 países.>
Da mesma forma, um relatório na publicação científica The Lancet Public Health revelou que as taxas de 17 tipos de câncer aumentaram constantemente entre gerações nos Estados Unidos, particularmente entre a Geração X e os millennials (nascidos entre 1965 e 1996).>
Um novo relatório da American Cancer Society afirma que as taxas de incidência de câncer de mama entre mulheres brancas com menos de 50 anos aumentaram em 1,4% ao ano, em comparação com 0,7% entre aquelas com 50 anos ou mais entre 2012 e 2021.>
Outros tipos de câncer, como câncer nasofaríngeo, de estômago e colorretal, também aumentaram entre adultos jovens, de acordo com o relatório do BMJ Oncology.>
Pesquisadores buscam identificar as causas, enquanto o estudo publicado na Lancet alerta que o avanço contínuo pode reverter décadas de progresso na prevenção do câncer.>
Até agora, fatores alimentares — como dietas ricas em carne vermelha e sódio e pobres em frutas e leite — juntamente com o consumo de álcool e uso de tabaco, estão entre os principais suspeitos, de acordo com os relatórios do BMJ Oncology e do Lancet.>
E a obesidade está fortemente ligada ao aumento do risco de câncer por meio de inflamação e desregulação hormonal, diz a Organização Mundial da Saúde.>
O relatório da Lancet observa que 10 dos 17 cânceres que estão aumentando entre os jovens nos EUA estão relacionados à obesidade, incluindo câncer de rim, ovário, fígado, pâncreas e vesícula biliar.>
No entanto, esses fatores não explicam todos os casos.>
Os cientistas também estão explorando outras potenciais causas. Alguns argumentaram que a exposição constante à luz artificial de dispositivos ou postes de luz pode atrapalhar o relógio biológico, aumentando os riscos de cânceres como mama, cólon, ovário e próstata.>
Outros estudos sugerem que o trabalho em turnos, com exposição prolongada à luz à noite, também pode reduzir os níveis de melatonina, promovendo o crescimento do câncer.>
Em junho de 2023, o cirurgião colorretal Frank Frizelle, na Nova Zelândia, solicitou pesquisas sobre o papel dos microplásticos no câncer de intestino, sugerindo que eles danificam a camada protetora de muco colônico, semelhante a "colocar furos em uma camisinha".>
Outros pesquisadores argumentaram que aditivos alimentares ultraprocessados, como emulsificantes e corantes, podem causar inflamação intestinal e danos ao DNA. As perturbações intestinais estão relacionadas não apenas ao câncer colorretal, mas também aos cânceres de mama e de sangue, de acordo com a American Association for Cancer Research.>
O aumento do uso de antibióticos — estimado em 45% globalmente desde 2000 — especialmente entre crianças pequenas, também pode ser outro culpado, pois perturba o microbioma intestinal, dizem alguns pesquisadores. >
Um grupo de cientistas italianos sugeriu que isso estava relacionado ao câncer de pulmão, linfomas, câncer de pâncreas, carcinoma de células renais e mieloma múltiplo, em um relatório de 2019.>
Até mesmo o aumento da altura entre gerações pode desempenhar um papel no aumento das taxas de câncer, observa Malcolm Dunlop, professor de coloproctologia na Universidade de Edimburgo, Escócia, e coautor do relatório BMJ Oncology.>
"O ser humano, em geral, em todo o mundo, está realmente ficando mais alto... e há uma forte correlação entre altura e vários tipos de câncer, incluindo câncer de cólon, por exemplo", diz ele, ligando o risco de câncer a mais células, exposição ao hormônio do crescimento que é produzido naturalmente e uma área de superfície do cólon maior, o que aumenta as oportunidades de mutações.>
Dunlop, um dos principais especialistas em genética do câncer do mundo, acredita que os cânceres de início precoce surgem de múltiplos fatores convergentes em vez de uma única causa, mas identificá-los é difícil.>
"A maioria dos fatores de risco nunca foi testada em ensaios intervencionistas randomizados adequados", observa.>
Ele também diz que a triagem de populações mais jovens para câncer "não é econômica devido aos baixos riscos absolutos, apesar do aumento relativo de casos".>
De acordo com o Instituto Nacional do Câncer dos EUA (NCI, na sigla em inglês), 80% dos casos de câncer são diagnosticados em pessoas com 55 anos ou mais.>
No entanto, esse cenário em evolução levou grandes organizações como a Union for International Cancer Control (UICC) a chamar a atenção dos clínicos gerais sobre os cânceres de início precoce, para garantir que sintomas em pacientes mais jovens não sejam ignorados.>
"Se uma pessoa com mais de 60 anos relata dificuldade para evacuar, fadiga e inchaço, os médicos levam esses sintomas a sério e recomendam uma triagem completa", diz Alexandre Jácome, diretor da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica.>
"No entanto, para alguém na faixa dos 30 anos que é ativo e não se enquadra no perfil típico de câncer colorretal, esses sintomas podem ser descartados como dores leves", explica o médico, acrescentando que diagnósticos tardios colocam em risco as chances de sobrevivência.>
"Essas são pessoas no auge da vida, começando famílias, com tudo para viver. Um diagnóstico de câncer choca a eles e seus entes queridos", diz ele.>
Mas Jácome observa que pacientes mais jovens geralmente toleram melhor tratamentos agressivos quando diagnosticados precocemente, melhorando assim suas chances de recuperação.>
Dunlop também levanta preocupações sobre as implicações de longo prazo dos cânceres de início precoce.>
"Indivíduos mais jovens afetados por esses cânceres podem carregar esse risco para a velhice", ele alerta. "Isso está anunciando um aumento preocupante no futuro ou é apenas uma faixa etária específica exposta a algo?">
Tendo sido tratada do câncer, Luisa diz: "A maior lição foi aprender a abraçar os dias difíceis e alegres igualmente. Quando as emoções sombrias vinham, eu as deixava fluir. Quando me sentia forte, eu valorizava esses momentos, sabendo que eles também passariam.">
Seu conselho para os outros é: "Viva um dia de cada vez. Ouça seu corpo — alguns dias, o melhor que você pode fazer é descansar, e está tudo bem. O câncer carrega um estigma, uma sombra, mas não precisa definir você. Há vida, crescimento e significado, mesmo nos momentos mais difíceis.">
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