John Bercow, presidente da Câmara dos Comuns do Reino Unido, anunciou a renúncia nesta segunda-feira (09) após 10 anos no cargo.
Conhecido pelas gravatas coloridas e pelos gritos de "ordem" com os quais tentava controlar os debates parlamentares, ele ganhou fama internacional ao entrar em confronto com os governos do atual premiê, Boris Johnson, e da antecessora, Theresa May.
Ao permitir que os parlamentares tomassem o controle da Casa contra a vontade do Executivo, especialmente durante as discussões sobre o brexit, Bercow acabou se tornando alvo de críticas do Partido Conservador e de elogios da oposição trabalhista.
Essa situação contrastava com o passado do deputado, que era membro dos conservadores até ser eleito presidente da Câmara - a tradição do Parlamento britânico estabelece que o titular do cargo não pode ser filiado a um partido.
Em pronunciamento perante os deputados, Bercow afirmou que a princípio deixará o cargo no próximo dia 31 de outubro, mesma data em que o país deve deixar a União Europeia. Mas caso o país tenha uma nova eleição antes disso, ele deixará o cargo antes do pleito.
Os parlamentares devem votar ainda nesta segunda uma proposta do premiê Boris Johnson para realizar novas eleições no dia 15 de outubro, mas a tendência é que ela não seja aprovada, já que a oposição é contra -são necessários dois terços dos votos na Casa para o projeto avançar.
Minutos antes do pronunciamento, que ocorreu por volta das 11h30 (horário de Brasília) desta segunda, a rainha Elizabeth 2ª havia aprovado a lei que impede Boris Johnson de tirar o país da União Europeia sem um acordo de saída.
A sanção da Coroa era a última etapa que faltava para que o projeto tivesse validade. O consentimento real foi anunciado na câmara alta do parlamento, a Câmara dos Lordes.
A lei, feita às pressas pelos deputados na última semana, buscou driblar a manobra do premiê, que fechará o Parlamento por cinco semanas a partir da noite desta segunda-feira.
Bercow, o primeiro judeu a comandar a Câmara dos Comuns, foi integrante da ala mais radical do Partido Conservador durante sua juventude, defendendo inclusive a expulsão de imigrantes do país.
Com o tempo, porém, se distanciou desse movimento e descreveu suas próprias posições na época como "estúpidas". Suas posições políticas migraram para a esquerda e ele até mesmo se casou com uma ativista trabalhista, Sally.
No domingo (08), a imprensa britânica afirmou que os conservadores pretendiam inclusive apresentar um candidato para concorrer contra Bercow em seu distrito eleitoral, em Buckingham, nas próximas eleições.
Tradicionalmente ninguém concorre contra o presidente da Câmara, que também costuma ser reeleito indefinidamente.
Segundo o The Guardian, a violação da convenção de longa data foi anunciada pela conservadora Andrea Leadsom, que acusou Bercow de violar as regras do parlamento, permitindo que os parlamentares assumam o controle dos negócios da Câmara dos Comuns. "Devolva-nos um presidente imparcial", disse Leadsom.
Nesta segunda, ao anunciar a renúncia, John Bercow foi ovacionado pelos deputados presentes. Apesar da tradição do Parlamento britânico pedir que os membros se abstenham de bater palmas durante as sessões, o decoro foi quebrado entre discursos de parlamentares que elogiavam a trajetória do presidente.
O Partido Conservador vive um racha nas últimas semanas, pois parte de seus integrantes discorda da abordagem agressiva para o brexit defendida por Boris.
Com isso, parlamentares governistas se uniram a opositores e passaram a votar contra propostas do premiê. Como resposta, Boris expulsou 21 nomes do partido.
Nos últimos dias, dois integrantes importantes do governo deixaram os cargos: Jo Johnson, irmão de Boris, que era ministro de Negócios, e a secretária de Trabalho e Previdência do Reino Unido, Amber Rudd. Há a expectativa de que mais nomes renunciem.
O QUE PODE ACONTECER COM O BREXIT
Saída sem acordo
O Parlamento aprovou uma lei que proíbe uma saída sem acordo. No entanto, o governo pode questioná-la na Justiça. Há também temores de que Boris simplesmente ignore a norma e force a retirada no prazo previsto, 31 de outubro
Adiamento do brexit
A lei aprovada pelo Parlamento prevê adiamento do brexit em 90 dias se não houver acordo até 19 de outubro. No entanto, o atraso depende de aval da UE
Novas eleições
O governo tentará votar de novo a antecipação das eleições gerais nesta segunda-feira (09). Uma nova ida às urnas pode funcionar como um 2º referendo sobre o brexit
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