Publicado em 10 de outubro de 2023 às 05:40
Aviso: este artigo contém detalhes de violência que alguns podem achar angustiantes.>
Os últimos vídeos feitos antes do terror começar mostram que era uma festa como qualquer outra: jovens dançando de madrugada. Mas o evento se transformou no episódio mais violento dos ataques do grupo islâmico palestino Hamas a Israel, no sábado (07/10).>
De acordo com alguns relatos, havia por volta de 4.000 pessoas no local - cerca de 260 foram mortos, segundo autoridades israelenses. Pela filmagem, a maioria deles parece ter menos de 30 anos.>
Eles se reuniram em uma área remota do sul de Israel para o festival Supernova – um evento que prometia dança, música, arte e bebidas em um local secreto.>
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O festival de música eletrônica foi criado pelo pai do DJ brasileiro Alok, Juarez Petrillo, conhecido como DJ Swarup. A versão em israel foi promovida e organizada por um produtor local.>
O público foi instruído, perto da hora do evento, a se dirigir para um ponto a norte do kibutz Re'im, cerca de 6 quilômetros a leste de Gaza. Os organizadores do partido prometeram uma “jornada de união e amor”.>
E, de fato, há muitos rostos felizes que podem ser vistos em um vídeo enviado às 07h22, horário local, que mostra o público rindo e dançando sob a fraca luz da manhã.>
Mas acima das suas cabeças, pequenas nuvens negras de fumaça sinalizam o início do terror que se aproximava.>
Parecem ser alguns resquícios deixados pelos mísseis defensivos usados pelos militares israelenses para interceptar foguetes disparados de Gaza.>
Nas horas seguintes, o Hamas dispararia milhares de foguetes contra Israel.>
A BBC Verify reuniu os registros do massacre do festival do fim de semana usando vídeos e postagens nas redes sociais e tecnologia de reconhecimento facial.>
Alguns dos participantes do festival podem ser vistos em filmagens olhando para a fumaça escura acima de suas cabeças. Outros ficam alheios e continuam dançando.>
Em outro vídeo postado logo depois, a música parou.>
As pessoas começaram a evacuar o local do festival – algumas parecem em pânico, outras se escondem ou se dirigem para a saída aparentando não estarem preocupadas. >
A uma curta distância da barreira de Gaza, a próxima fase do ataque já estava em curso.>
Não está claro quantos minutos se passaram entre o lançamento dos foguetes e a chegada dos homens armados, mas relatos de testemunhas sugerem que isso aconteceu rapidamente.>
"Havia foguetes, então eles começaram a atirar. Vinha de direções diferentes e ficava cada vez mais alto", disse Gilad Karplus, 31 anos, que trabalhava como massoterapeuta no festival.>
"Eu vi pessoas caindo. Quando vimos isso, simplesmente pulamos no jipe e dirigimos para o campo.">
Uma publicação do Instagram, postada por uma participante, mostrou os foguetes no céu e as pessoas saindo do local.>
“Passamos por uma estrada principal, mas depois de um minuto alguém começou a gritar que os terroristas estavam disparando”, escreveu ela aos seus seguidores.>
"Mas depois de dois minutos, na outra direção, percebemos que também havia mais terroristas lá.">
É impossível saber se os militantes sabiam que o festival acontecia naquele local – mas certamente teriam ouvido a música reverberando pela silenciosa zona rural.>
Sabemos também que, quer tenham encontrado o local por acidente ou não, eles estavam preparados para matar.>
Gili Yoskovich disse à BBC News no fim de semana como os combatentes “estavam por toda parte com armas automáticas” e como ela ouviu mais armas sendo descarregadas de uma van.>
Todos os relatos sugerem que o campo foi efetivamente cercado e as estradas de entrada e saída do local foram bloqueadas.>
Os participantes correram em todas as direções, mas alguns ainda estavam ao alcance dos homens armados.>
Gilad, que serviu no exército israelense, contou: >
“Sabíamos que provavelmente eles haviam bloqueado a estrada. Tenho quase certeza de que muitas pessoas morreram nessas estradas. Entramos no campo e tentamos nos esconder deles... Depois nos aprofundamos um pouco mais nos campos e então eles começaram a atirar contra nós com rifles de precisão de diferentes lugares e também artilharia pesada.">
Ao caminhar em direção ao que esperava ser um lugar seguro, Gilad viu um veículo militar israelense, conta.>
"Dirigimos muito devagar e quando chegamos lá vimos que havia sido atingido por um míssil antitanque ou algo parecido.">
Não havia sinal dos soldados que estavam lá, segundo ele.>
Enquanto alguns fugiam para os campos e para o deserto, os militantes rondavam o festival matando quem aparecesse. >
Imagens da Dashcam marcadas às 09h23, tiradas de um carro estacionado, mostram três dos homens armados que participaram do massacre.>
No quadro de abertura da gravação, um corpo imóvel é visto ao lado de um carro.>
Um combatente com uma arma automática é então visto ordenando que um homem ensanguentado e fora do alcance do tiro se deite no chão, antes de agarrá-lo pelas costas e conduzi-lo para longe do olhar da câmera. Não se sabe se ele sobreviveu.>
E então o corpo do carro se move. O homem, que parece estar se fingindo de morto, se mexe. Ele levanta a cabeça para ver se estava sozinho.>
Foi um erro fatal.>
Segundos depois, outro homem entra no quadro e atira na cabeça dele à queima-roupa e vai embora.>
Em um momento posterior da mesma filmagem, um grupo de homens aparece, aparentemente para saquear. Apenas um está armado. >
Eles são vistos vasculhando os bolsos do cadáver ao lado do carro e mexendo em uma mala em outro veículo estacionado. >
Então encontram mais do que bagagem. Duas pessoas, um homem e uma mulher, que estavam escondidos em um carro são descobertos e levados embora.>
A mulher reaparece repentinamente dois minutos depois. Ela pula e balança os braços no ar. Ela deve pensar que a ajuda está próxima - nesta altura, as Forças de Defesa Israelenses já tinham começado os seus esforços para repelir a incursão. Mas segundos depois ela cai no chão enquanto as balas ricocheteiam ao seu redor. Não se sabe se ela sobreviveu.>
A BBC analisou e publicou imagens estáticas dos homens armados que eram visíveis através de uma ferramenta de reconhecimento facial.>
Combinou um dos rostos com imagens de um homem com uniforme policial, disponíveis no site do município de Nuseirat, em Gaza.>
Nós os comparamos por meio do software Amazon Rekognition e obtivemos uma pontuação de similaridade entre 94 e 97% (alguns ativistas, no entanto, levantaram preocupações de que rostos não brancos possam ser falsamente identificados em ferramentas de reconhecimento facial).>
Em todo o local do festival, essas cenas violentas se repetiam continuamente.>
Pelo menos 260 corpos foram encontrados no local, de acordo com a agência de resgate Zaka.>
Imagens de celulares e drones revelam a escala do ataque do Hamas, com as estradas que levam aos locais repletas de carros com pessoas que não conseguiram sobreviver aos tiroteios.>
O festival se tornou uma zona de guerra – e para alguns, o pesadelo continua.>
O Hamas afirma ter feito vários reféns no local e os israelenses afirmam que cerca de 100 pessoas de todo o país estão detidas dentro de Gaza.>
Um dos vídeos mais angustiantes que surgiram do festival é o de uma mulher chamada nas redes sociais como Noa Argamani. >
Em imagens publicadas pelo Hamas, ela é vista sendo colocada na traseira de uma motocicleta por combatentes, chorando e gritando, estendendo a mão para um homem que está sendo contido. Ele a observa enquanto ela é levada para longe.>
Em Gaza, circularam imagens nas redes sociais mostrando a mulher viva, mas não está claro se são genuínas.>
A sua família delas e as famílias de outras pessoas sequestradas no festival aguardam notícias dos seus parentes – e ainda não está claro como o governo israelense pretende recuperá-los.>
Reportagem adicional de Shayan Sardarizadeh, Alex Murray, Jemimah Herd e Alice Cuddy.>
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