Publicado em 15 de agosto de 2024 às 13:57
Kursk.>
É uma das primeiras palavras que escrevi e falei como correspondente da BBC.>
Em 2000, eu cobri o naufrágio do submarino Kursk nas águas geladas do Mar de Barents. Cento e dezoito pessoas a bordo morreram.>
Vladimir Putin era presidente há menos de meio ano. Ainda me lembro de canais de TV russos o criticando por sua forma de lidar com o desastre.>
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Esta semana marcou 24 anos desde que o K-141 Kursk afundou. E, mais uma vez, a palavra Kursk está presente em meus boletins de notícia sobre a Rússia. Desta vez, trata-se da região de Kursk, onde as tropas ucranianas lançaram sua incursão surpresa e onde estão tomando território há nove dias.>
A mesma palavra.>
Mas a Rússia de 2024 é muito diferente da Rússia de 2000.>
Desta vez, na TV russa, não há indícios de crítica ao presidente Putin; nenhuma dúvida sobre sua tomada de decisão; nenhuma sugestão de que foi sua invasão da Ucrânia que levou a este momento dramático. O Kremlin teve um quarto de século para estabelecer um controle rígido sobre a mídia russa.>
Mesmo assim, esses eventos prejudicarão Vladimir Putin?>
É uma pergunta que me fizeram muitas vezes nos últimos dois anos e meio:>
O presidente Putin passou por tudo isso, aparentemente ileso. Ele estará confiante de que pode superar este último desafio.>
Mas aqui está a questão. O motim do grupo Wagner acabou em um dia.>
A ofensiva da Ucrânia dentro da Rússia já dura mais de uma semana. Quanto mais tempo continuar, maior será a pressão sobre a liderança russa e, potencialmente, maior será o dano à autoridade do presidente.>
Ao longo de suas duas décadas e meia no poder, Putin cultivou a imagem de "Senhor Segurança", o único homem neste vasto país capaz de manter os russos seguros e protegidos.>
Sua chamada "operação militar especial" (a invasão em grande escala da Ucrânia) foi apresentada ao povo russo como uma forma de impulsionar a segurança nacional da Rússia.>
Dois anos e meio depois do início desta guerra, não há muitos sinais de "segurança e proteção".>
Há mais presença da Otan nas fronteiras da Rússia, com a Suécia e a Finlândia se juntando à Aliança da Otan; cidades russas estão sofrendo ataques regulares de drones ucranianos; agora soldados ucranianos estão tomando território russo.>
Por meio de sua escolha de linguagem, Vladimir Putin está tentando mostrar ao público russo que não há necessidade de pânico.>
Ao se referir à incursão ucraniana, ele evitou usar a palavra "invasão". Em vez disso, ele falou sobre "a situação na área da fronteira" ou "os eventos que estão ocorrendo". O líder do Kremlin também chamou a ofensiva ucraniana de "uma provocação".>
O que o presidente russo fará agora?>
Não espere que ele pegue o telefone e ligue para Kiev. Autoridades russas deixaram claro que, após o ataque ucraniano, estão colocando a própria ideia de negociações de paz em espera.>
Não que qualquer negociação em larga escala tenha sido programada para acontecer.>
Na verdade, esta semana Vladimir Putin anunciou exatamente qual é sua intenção: "forçar o inimigo a sair do território russo.">
Uma coisa é dizer. Outra coisa é fazer. Apesar de enviar reforços para a região de Kursk, os militares russos ainda não recuperaram o controle nesta parte da Rússia.>
Na quinta-feira de manhã, quando eu passava perto do Kremlin, algo me fez parar no meio do caminho.>
Enquanto os trabalhadores montavam assentos e telas para um evento, a clássica canção Non, je ne regrette rien ("Não, não me arrependo de nada") de Edith Piaf estava tocando em uma grande tela de vídeo e ecoando pela Praça Vermelha.>
Foi um momento muito surreal.>
Vladimir Putin não demonstrou nenhum sinal de arrependimento por ter lançado uma invasão em larga escala na Ucrânia.>
Nenhum arrependimento pelas decisões que tomou desde então.>
Se suas declarações públicas refletem seu estado de espírito atual, ele ainda acredita que há apenas um resultado possível para esta guerra: a vitória da Rússia.>
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