Publicado em 26 de dezembro de 2024 às 16:22
SÃO PAULO - Relatos de investigadores do Azerbaijão indicam que o avião da Embraer que caiu no Cazaquistão na quarta-feira (25) foi abatido por um míssil antiaéreo quando se aproximava de Grozni, capital da república russa da Tchetchênia, para pousar.>
A informação foi passada a diversos veículos de mídia, como a agência Reuters e o canal de TV Euronews, de forma ainda anônima. A apuração do caso está em curso e poderá ter a ajuda da fabricante paulista – a Força Aérea Brasileira (FAB), que também pode participar da iniciativa devido à produção brasileira da aeronave, informou nesta quinta (26) que enviou três investigadores para oferecer suporte técnico. Oficialmente, o governo azeri disse não haver conclusão formal sobre o caso.>
A hipótese decorre da análise de danos à cauda do Embraer E-190, que ficou quase intacta após a tentativa de pouso sem controle por parte dos pilotos em Aktau, na costa leste do mar Cáspio.>
Nela, são visíveis furos na fuselagem compatíveis com o que acontece quando um míssil antiaéreo explode. Ele não atinge o alvo, e sim detona a certa distância para produzir uma nuvem de estilhaços, maximizando o dano ao inimigo.>
>
Segundo analistas ouvidos pela reportagem, nenhum choque com pássaros, como foi ventilado pelos russos, causaria tal dano.>
Além disso, relatos de sobreviventes indicam uma explosão do lado de fora do avião. Vídeo feito por um deles também mostra estragos semelhante a pequenas perfurações que atingiram o sistema de máscara de oxigênio da aeronave. Ao menos um colete salva-vidas do avião foi furado por estilhaços.>
Vídeos da tentativa de pouso em Aktau apontam que o avião estava sem controle total de seu sistema hidráulico, manobrando à base do empuxo de seus motores, subindo e descendo de forma pouco controlada. Os profundores, as asinhas na cauda do avião que o fazem subir e descer, e o leme do estabilizador vertical estavam cravejados pelos estilhaços.>
Morreram na tragédia 38 dos 67 ocupantes do aparelho, que tem histórico operacional impecável.>
A Rússia ainda não comentou o relato. Mais cedo, em entrevista, o chanceler Serguei Lavrov disse que não seria prudente falar nada enquanto a investigação estava em curso.>
No momento em que o voo operado pela Azerbaijan Airlines voava sobre território russo, havia registro de ataques com drones ucranianos na região. O aeroporto de Makhachkala, capital do Daguestão, estava fechado quando o E-190 sobrevoou a área.>
Oficialmente, autoridades de Grozni disseram que o aeroporto da cidade tinha pouca visibilidade para pouso, devido à neblina, e o voo foi desviado. Por que ele atravessou de forma errática o mar Cáspio e não rumou para algum aeródromo russo não foi explicado.>
Segundo o relato da Reuters e da Euronews, os azeris disseram que os russos não permitiram o pouso e orientaram a nova rota – Aktau seria o aeroporto mais próximo, apesar de estar a centenas de quilômetros.>
O rastreio foi quase impossível porque a região é fortemente influenciada por bloqueadores de sinal de GPS. O mar Cáspio, apesar de distante do teatro da Guerra da Ucrânia, é um dos pontos preferidos de disparo de mísseis de cruzeiro carregados por bombardeios estratégicos russos contra o país vizinho.>
Assim, a navegação sobre a região é afetada, visando proteger os aviões militares de ataques.>
Já ataques de drones são problemas corriqueiros na Rússia. Nesta quinta (26), os quatro aeroportos de Moscou e o de Kaluga, a 160 km da capital, foram fechados temporariamente por ameaça de um ataque maior, que não ocorreu.>
Se confirmado o abate acidental, ele se unirá a uma longa lista de incidentes do gênero. Um dos mais notórios ocorreu sobre o leste da Ucrânia em 2014, no início da guerra civil que desembocou no conflito atual entre Moscou e Kiev.>
Um míssil disparado de um território controlado por separatistas russos atingiu um Boeing-777 da Malaysia Airlines, matando 298 pessoas. A Rússia nega ter fornecido a bateria antiaérea aos revoltosos de então.>
Em 2020, um avião comercial ucraniano foi derrubado por engano pela defesa antiaérea do Irã ao decolar de Teerã, deixando 176 mortos. O contexto também era de guerra: os iranianos haviam acabado de retaliar contra alvos americanos no Oriente Médio, após os Estados Unidos matarem o mais importante general do país em Bagdá.>
Ucranianos também estiveram envolvidos, neste caso com uma certa ironia histórica, na derrubada de um Tupolev-154 russo sobre o mar Negro em 2001. Naquela ocasião, Kiev fazia um exercício militar conjunto com a ainda aliada Moscou quando o míssil antiaéreo foi disparado, matando 80 pessoas.>
Em 1988, foi a vez de os EUA derrubarem um Airbus-A300 da Iran Air no golfo Pérsico, durante patrulha em que um navio confundiu o aparelho com uma aeronave hostil. O incidente deixou 290 pessoas mortas.>
Também nos estertores da Guerra Fria, a União Soviética abateu um Boeing-747 da Korean Air que errou o caminho e invadiu seu espaço aéreo no extremo leste do país. O incidente, no qual pereceram 269 ocupantes, agravou ainda mais as tensões do ano de 1983, o ponto mais próximo de um conflito entre soviéticos e americanos desde a crise dos mísseis de 1962.>
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta