• Maria Sanz

    É artista e escritora, e como observadora do cotidiano, usa toda sua essência criativa na busca de entender a si mesma e o outro. É usuária das medicinas da palavra, da música, das cores e da dança

Crônica: Acordei!

Publicado em 27/11/2022 às 02h00
Mulher dormindo

Não sei dizer se foi a força do remédio ou do meu cansaço crônico. Sei que fazia muito tempo que não dormia assim... Tão bem e tanto. Crédito: Shutterstock

Fim de ano é puxado. Festa que não acaba, reuniões sem hora, mil histórias, preparativos, crianças, amigos, birita, música, e o trabalho (que nunca para). Ando cansada. Com a ansiedade em alta e a energia vital em baixa. Com tantas coisas postas em marcha, sinto que tenho perdido de vista as prioridades. E meu corpo que vinha reclamando, coitado, ontem deu pau de verdade.

Sofri uma crise alérgica, fui parar no hospital, tomei uma injeção dolorida e dormi 20 horas seguidas. Não sei dizer se foi a força do remédio ou do meu cansaço crônico. Sei que fazia muito tempo que não dormia assim... Tão bem e tanto. Estou maravilhada, abraçada a uma nova constatação: dormir é incrível!

Sou dessas que troca uma boa noite de sono por qualquer festinha – vou do samba ao rock, de uma viola na varanda a uma batida eletrônica. Tanto faz, contanto que envolva música, gente, dança. "Dormir pra quê?"

Vivo a mil por hora, quero tudo, invento moda, faço festa e dou meu jeito. Atividade e diversão são comigo mesmo. Mas, com certo estranhamento, confesso, sinto que alguma coisa vem mudando.

Tenho sentido sono. Sinto também que as horas do dia não estão suficientes. Falta tempo pra tanta vida. Não dá mais pra acordar, me conectar com o mundo virtual, depois cuidar da criança, patinar, dar um mergulho no mar, depois trabalhar, ter ideias, ser produtiva, inovar, buscar meu filho na escola, fazer o dever, colocar pra dormir, sair pra jantar com o namorado e depois, finalmente, dançar.

Não dá porque hoje em dia, quando chega na hora da pista, eu penso na cama. E o pior, de uns tempos pra cá, quanto mais insisto em ficar, pior a festa. Porque, imagina, pra valer a pena, ela tem que atender minhas novas exigências e a-ba-lar. De modo que já não é qualquer festinha que me deixa contente.

Ando exigente – sobretudo com o tempo. Descobrindo empiricamente que dormir pode ser um grande investimento. Tenho feito cálculos: quando durmo o suficiente, meu dia seguinte rende. (Dã! – você está pensando). Mas tenho certeza, milhares e milhares de pessoas como eu, também dormem pouco e não se dão conta.

Estou costurando minha própria bandeira nova: "o valor do sono aos 42 anos". E esta é uma revolução pessoal, um aprendizado, um objetivo: dormir mais para que a vida acordada me dê mais momentos de alegria e viço! Para que cada festa faça sentido, para que cada momento vivido seja um acontecimento e para que eu siga vivendo no volume máximo.

É isso: eu ei de aprender o prazer de fechar os olhos e dormir (cedo?).

Eu sei que você sabe, sei até que acha muito fácil. Mas eu que tenho a sorte de escrever crônicas, não preciso fingir que sei. Não sei e pronto.

Não sei, mas desconfio.

Não sei, mas saberei.

Ou, não sabia, mas acordei.

Bom dia, domingo!

Este vídeo pode te interessar

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de HZ.

A Gazeta integra o

Saiba mais
Comportamento
Viu algum erro?

Se você notou alguma informação incorreta em nosso conteúdo, clique no botão e nos avise, para que possamos corrigi-la o mais rápido o possível