• Rachel Martins

    Uma jornalista que ama os animais, assim é Rachel Martins. Não é a toa que ela adotou duas gatinhas, a Frida e a Chloé, que são as verdadeiras donas da casa. Escreve semanalmente sobre os benefícios que uma relação como essa é capaz de proporcionar

Cachorrinha participa de casamento fazendo surpresa para o noivo; veja vídeo

Publicado em 12/07/2022 às 13h22
A psicóloga Nathalia de Carvalho Figueiredo e o oficial de justiça Filipe Braz Silveira recebendo Safira, da raça Yakutian Laika, durante a cerimônia

Nathalia de Carvalho Figueiredo e Filipe Braz Silveira recebendo Safira, da raça Yakutian Laika, durante a cerimônia. Crédito: Divulgação Nathalia de Carvalho Figueiredo

A psicóloga Nathalia de Carvalho Figueiredo e o oficial de justiça Filipe Braz Silveira, ambos servidores públicos, ficaram noivos na pandemia. Mas logo no começo do namoro, Filipe apresentou à amada o seu cachorro Duque, da raça Samoieda, que passou a acompanhá-los para todos os cantos.

“A verdade é que a pandemia e, principalmente, Duque nos uniu muito durante o isolamento devido às restrições para evitar o contágio do coronavírus”, lembra Nathalia.

Ela morava no centro de Vitória e ele em Jardim Camburi. Com as restrições da pandemia, Filipe começou a trabalhar em home office, enquanto Nathalia seguia presencialmente, pois atuava na área de saúde. “Mas nos sentíamos muito sozinhos, principalmente ele, que passava o dia inteiro em casa. Inclusive, Filipe diz até hoje que se não fosse eu e o Duque ele teria surtado nesse período”, conta a psicóloga.

Para piorar, lembra Nathalia, eles não podiam visitar os pais que faziam parte do grupo de risco e a irmã de Filipe estava com um recém-nascido. “Então, ficávamos a maior parte do tempo juntos, no meu ou no apartamento dele, mas como eram locais pequenos, tínhamos muita preocupação com o Duque, um cachorro grande que precisava de espaço. Foi daí que começamos a cogitar a ideia de morarmos juntos. Até que em outubro de 2020, estávamos almoçando em um restaurante e Filipe me entregou um anel com um pingente em forma de chave e me perguntou se eu topava morar junto, dividir a vida, casar e achar um apartamento maior para o Duque. E foi assim que, entre dezembro de 2020 e janeiro de 2021, passamos a dividir o mesmo teto”.

DUQUE E AS ALIANÇAS

O Duque conquistou o coração de Nathalia logo no primeiro encontro. “Era um sonho de criança de Filipe ter um cachorro que fosse igual a um lobo. Sabe essas coincidências da vida? Um dia, assim sem mais nem menos, uma paciente da irmã dele comentou que seu cachorro havia tido filhotes que tinham esse perfil, e estavam à venda. E quando Filipe viu o Duque, claro, foi amor à primeira vista”, ressalta Nathalia.

Nathalia de Carvalho Figueiredo e Filipe Braz Silveira  com o Duque

Nathalia de Carvalho Figueiredo e Filipe Braz Silveira com o Duque. Crédito: Acervo Pessoal

A ideia era começar morando juntos, mas já ir providenciando o casamento. “E assim foi feito, inclusive já estava decidido que Duque levaria as alianças até o altar. A cerimônia foi marcada para 25 de junho de 2022. A gente sabia que daria tudo certo, porque nosso ‘filho de quatro patas’ era especial. Calmo, obediente, companheiro e amoroso, além de lindo e grande. Aqui no Espírito Santo só havia mais um samoieda de porte tão grande quanto ele”, lembra.

Não seria difícil, segundo ela, Duque levar as alianças até eles. “Como ele era muito obediente, bastava colocar o porta-alianças na coleira e Filipe chamá-lo, que ele iria com certeza de boa. Mas, infelizmente, não deu tempo de realizar esse nosso sonho”, conta Nathalia chorando.

O INESPERADO ACONTECEU

Um dia, perceberam que Duque havia vomitado, mas como ele era muito forte, acharam que era apenas uma indisposição e ficaram observando. Mas ele piorou muito rápido, e resolveram levá-lo à clínica veterinária.

“Lá fizeram uma ultrassom e diagnosticaram um corpo estranho preso entre o final do estômago e início do intestino, e não havia outro jeito, tinha que operar. E foi assim que retiraram algo semelhante a uma tampa de garrafa pet triturada. Ficamos apavorados, pois não dávamos garrafas pra ele brincar, pois sabemos o risco que isso traz. Deduzimos que ele deve ter engolido esse objeto num hotelzinho onde o deixamos quando viajamos no feriado”, acredita.

As alianças foram levadas pelos sobrinhos, já Safira chegou ao altar puxada por um carrinho fabricado por um casal de amigos

As alianças foram levadas pelos sobrinhos, já Safira chegou ao altar puxada por um carrinho fabricado por um casal de amigos. Crédito: Divulgação Nathalia de Carvalho Figueiredo

Duque recebeu alta dois dias após a cirurgia, mas durou pouco, porque começou a ficar muito prostrado e precisou ser internado. Os dias foram passando e veio o tão temido diagnóstico. Ele havia feito uma resposta autoimune à inflamação de seu intestino, ocasionada após a cirurgia.

Ela explica que eles não mediram esforços para salvá-lo. “Foi tudo muito triste, ele precisou de transfusões de sangue e ao mesmo tempo em que contamos com a solidariedade de muitos tutores disponibilizando seus cães para fazer a doação, nos decepcionamos muito com o laboratório de análises e o banco de sangue. Sabe, ficamos muito tristes com a falta de profissionalismo da rede de apoio laboratorial aos animais diante da urgência do caso”, desabafa.

Nathalia de Carvalho Figueiredo e Filipe Braz Silveira  com o Duque

Nathalia de Carvalho Figueiredo e Filipe Braz Silveira com o Duque. Infelizmente, o doguinho não resistiu e morreu 24 dias antes do casamento. Crédito: Acervo Pessoal

Infelizmente, conta Nathalia, Duque não resistiu e morreu 24 dias antes do casamento. “Mas pelo menos esperou seu aniversário de 10 anos e teve até uma festa só para ele. No fundo sabemos que ‘nosso filho de quatro patas’ só resistiu atendendo ao ‘pai’ que dizia que ele precisava ficar bem para comemorar o seu aniversário. E ele fez isso, só virou ‘estrelinha’ um dia depois. Nossa que dor! Eu choro todas as vezes que me lembro”.

UMA NOVA CACHORRINHA

A dor era muito grande, mas Nathalia e Filipe tinham que realizar o sonho de se casar dali a poucos dias. “Não sei ao certo se enfrentamos, acho que apenas sobrevivemos a essa fatalidade. Mas neste momento posso dizer que o acolhimento da família e dos amigos foi fundamental. Eles nos ajudaram em todo o processo, nos deram carinho, suporte emocional e contribuíram financeiramente com o tratamento de Duque, cujo valor foi bem alto. E também quero agradecer a clínica veterinária que não poupou esforços para salvar o nosso ‘filhão’, proporcionando o máximo de conforto possível a ele em meio a todo o sofrimento”.

Mas a vida tinha que continuar. “Ficamos arrasados e a casa com um vazio enorme. E nesse pouco espaço de tempo entre a realização do casamento e a morte de Duque, a família de Filipe entrou em contato dizendo que queria dar outro cão a ele, em seu aniversário, para substituí-lo. Logo falei que isso era impossível, ele era insubstituível. Mas de qualquer maneira chegamos à conclusão de que seria bom ter outro pet, mas de outra raça e fêmea para que não houvesse comparações”.

E assim começaram a pesquisar raças com as mesmas características dos samoiedas, até que se depararam com a raça Yakutian Laika. E como eles são poucos no Brasil, não foi fácil, mas acabaram achando um canil em São Paulo.

“E logo que vimos a foto de uma cachorrinha com sorriso de moleca e olhinhos de quem pede carinho, lembramos tanto de Duque que não teve jeito, ficamos apaixonados. Porém não seria possível para o aniversário do Filipe devido às vacinas, aí logo pensamos no casamento. Fizemos tudo no mais absoluto sigilo”, lembra, emocionada.

A ideia, explica, era que o sobrinho Rafael, de 6 anos, entrasse com ela no casamento em uma caixa de presente, porém como é um cão de grande porte, com 3 meses já pesava 7,6 quilos, ele não iria aguentar. “Então, bolamos um carrinho de madeira com rodinhas confeccionado por um casal de amigos, especialmente para o momento, que também a abrigou até o dia da cerimônia”.

A CERIMÔNIA

O casamento foi inesquecível, ressalta Nathalia. Primeiro Filipe homenageou Duque no altar, soltando um balão de gás hélio escrito “te amamos Duque”.

A psicóloga Nathalia de Carvalho Figueiredo e o oficial de justiça Filipe Braz Silveira olham o balão em homenagem a Duque ganhar o céu

Filipe homenageou Duque no altar, soltando um balão de gás hélio escrito “te amamos Duque”. Crédito: Divulgação Nathalia de Carvalho Figueiredo

“A cerimônia já começou com muita emoção e depois veio Rafael, de surpresa, para entregar as alianças e Safira, este é o nome da cachorrinha. Todo mundo chorou, sentiu. E a celebrante, nesta hora, foi muito feliz trazendo uma fala sobre encerramento e início de novos ciclos da vida. Foi tudo muito especial”.

Nathalia conta que chorar ao lembrar de Duque ainda faz parte do dia a dia do casal. “Eu sei que sempre que falarmos dele o coração vai ficar miudinho, isso é fato. Mas nosso coração também está aberto para a Safira. Ela é um amor, uma gostosura de quatro patas, cheia de vida e energia que tem nos alegrado demais”.

Nesse processo, lembra Nathalia, todos os dias ela lia na parede da clínica veterinária a frase: “Nós queremos ser para eles tudo o que eles são para nós”.

“E é exatamente isso. Não sei se um dia conseguiremos ser para eles tudo o que são para nós, pois é um amor tão puro e sem limites que acaba sendo uma meta bem difícil de alcançar, mas se pudéssemos dizer às pessoas alguma coisa importante, seria para que elas cuidem de seus pets com amor, que ter um animal de estimação é algo sério que requer muito investimento de afeto, dinheiro e tempo. Mas que vale todo o esforço! Existem muitos pets pelas ruas, em abrigos e Ongs esperando por um lar cheio de amor e cuidados. Existem também canis sérios e que realizam um lindo trabalho. Se as pessoas tivessem a dimensão do amor que é ter um pet e como eles interferem em nossa humanidade, elas com certeza teriam um”, conclui.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de HZ.

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