Leitores debatem falas de Bolsonaro sobre morte durante a ditadura

Apesar de registro da Aeronáutica e de condenação da União por sequestro, tortura e assassinato, o presidente insistiu que Fernando Santa Cruz foi morto por colegas de militância e não pelo regime militar

Publicado em 30/07/2019 às 13h27
Presidente Jair Bolsonaro fala com a imprensa ao deixar o Palácio da Alvorada . Crédito: Antonio Cruz/ Agência Brasil
Presidente Jair Bolsonaro fala com a imprensa ao deixar o Palácio da Alvorada . Crédito: Antonio Cruz/ Agência Brasil

O presidente Jair Bolsonaro envolveu-se em mais uma polêmica na segunda-feira (29). Ao criticar a atuação da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) na investigação do caso Adélio Bispo, autor do atentado à faca do qual foi alvo, o chefe do Executivo disse que poderia explicar ao presidente da Ordem, Felipe Santa Cruz, como o pai dele desapareceu durante a ditadura militar (1964-1985).

"Um dia, se o presidente da OAB quiser saber como é que o pai dele desapareceu no período militar, conto pra ele. Ele não vai querer ouvir a verdade. Conto pra ele", declarou.

Militante de esquerda, o pai de Felipe, Fernando Santa Cruz, desapareceu em fevereiro de 1974 após ser preso por órgãos de repressão da ditadura militar. Apesar de um registro secreto da Aeronáutica datado de 1978 sobre a prisão de Fernando Santa Cruz e de um atestado de óbito apontar que ele foi morto "pelo Estado brasileiro", Bolsonaro insistiu que não existem documentos sobre a morte do pai do presidente da OAB."E você acredita em Comissão da Verdade?", questionou Bolsonaro nesta terça-feira (30).

A Justiça Federal decidiu que a União foi responsável pelo "sequestro, tortura, assassinato e ocultamento do corpo de Fernando Augusto de Santa Cruz Oliveira", assim como considerou "injuriosas" as insinuações da Advocacia da União de que, talvez, o militante da Ação Popular (AP) estivesse vivo. A decisão de 1997 foi confirmada depois pelas instâncias superiores e transitou em julgado.

Em seu livro "Memórias de uma guerra suja", publicado em 2012, Claudio Guerra, ex-delegado do Departamento de Ordem Política e Social (Dops) do Espírito Santo durante a ditadura e hoje pastor, relata que foi o responsável por incinerar o corpo de Fernando Augusto Santa Cruz.

A versão sugerida pelo presidente, de que Santa Cruz teria sido assassinado pelos próprios colegas do grupo Ação Popular (AP) que combatiam a ditadura a fim de evitar o vazamento de informações confidenciais, provocou reação de juristas e entidades ligadas à anistia e direitos humanos. As declarações suscitaram repúdio até mesmo de aliados políticos. Familiares de Fernando Santa Cruz vão à Procuradoria-Geral da República representar contra o presidente Jair Bolsonaro.

O assunto tem sido bastante debatido nas redes sociais desde a segunda-feira. No Facebook do Gazeta Online, leitores se dividiram sobre as declarações do presidente. Confira alguns comentários:

Além de ir contra o ponto de vista humano e ético, se configura crime de responsabilidade. Nosso presidente se comporta como uma criança de 13 anos. (Felipe Coutinho) 

Parabéns, presidente. Para quem ainda não entendeu o porquê desse tumulto todo, é simples: o presidente da OAB já foi candidato pelo PT, tá ok? (Bruno Alves) 

Para quem não entendeu: o pai do presidente da OAB sumiu quando ele tinha apenas dois anos de idade e, independente de ideais políticos, uma família sofreu por anos sem ter qualquer informação sobre o que ocorreu! Isso vai além de desavenças políticas, isso é falta de respeito, de empatia, é covardia e crueldade! Isso vindo de um ser que se denomina cristão. (Luziani Bestete) 

É presidente, mas é ser humano e tem sangue correndo nas veias, como qualquer cidadão comum. Parabéns, presidente! (Gil Aguiar) 

Agora só porque o cara tem o posicionamento político diferente não tem problema ser assassinado? Não tem problema desaparecer com ele? O discurso do povo virou uma porta para uma nova ditadura mesmo. Eles não pensam antes de falar. É inacreditável. (Camila Fracalossi) 

Desnecessário o presidente ficar reavivando esses assuntos de 50 anos atrás. Época da Guerra Fria. Nada soma. Só tumultua. Está na hora de começar a olhar para frente. Ele não é mais deputado e não deve se comportar como tagarela de botequim. É o presidente de uma das 12 maiores economias do mundo. Chega de olhar no retrovisor. Sigamos em frente. A autoestrada é longa e cheia de curvas. (Gerald Pereira)

O presidente da OAB, Felipe Santa Cruz . Crédito: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
O presidente da OAB, Felipe Santa Cruz . Crédito: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Parece que não querem enxergar as besteiras que esse camarada está falando e fazendo. Cada dia é uma besteira que ele faz e fala. (Olivia Fraga Santana)

As pessoas falam mal de quem se opõe aos Bolsonaros, inventam mil e uma acusações, de que recebe suborno, de que está planejando alguma coisa contra o governo, mas nunca enxergam as milícias, as laranjas, o nepotismo diplomático, as gafes gigantescas (do tipo ir cortar cabelo e virar as costas pra ministro francês), a reforma para a sala da Michelle. (Pedro Henrique Costa) 

Mais surreal são os fanáticos batendo palmas para as asneiras que esse sem noção fala. Eu achava que fanatismo era coisa de petista, mas não, a ignorância não tem partido. (Diogo Antônio) 

Não vi comemoração nenhuma na fala do presidente, apenas esclarecimento de como morreu uma pessoa. (Josete Bergamo) 

Esclarecimento? Ele está falando o que não sabe! Ele vai ter que se explicar como ficou sabendo de informação dos porões da ditadura! Só se ele estivesse envolvido nas torturas. Em 1974 ele tinha 19 anos. Esse sujeito é um irresponsável! (Valeria Grijó) 

O presidente foi desrespeitoso para com o senhor da OAB, porém é bom lembrar que este mesmo senhor vem desrespeitando o ministro Sergio Moro no tocante a suas atitudes e no ataque criminoso a sua privacidade no caso dos hackers. É absurdo o que o presidente fez, mas o senhor da OAB não fica atrás. (Isa Bio) 

Provocaram tanto o presidente e a sua família, agora na hora que o presidente reage o inferno todo se levanta para criticar quem se defende. (Meira Conceição) 

O editorial deste jornal se preocupa com coisas banais para atacar o presidente, ao invés de trazer matérias interessantes para os leitores. Está cada vez pior. (Jorge Arnoni) 

Superbanal um presidente falar de tortura em público, usar de ofensas para se dirigir às pessoas. Em outros lugares do mundo com mais sanidade, um cara desses estaria deposto e sem direitos políticos. (Pedro Henrique Costa) 

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