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Preço da gasolina faz motoristas de aplicativo no ES abandonarem profissão

Preço da gasolina faz motoristas de aplicativo no ES abandonarem profissão

Segundo Associação dos Motoristas de Aplicativo do Estado (Amapes), 10% não fazem mais corridas porque valor do combustível não compensa mais os gastos

Publicado em 29 de outubro de 2021 às 17:30

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Amapes afirma que 10% dos motoristas de aplicativos já desistiram da função por não conseguir arcar com os custos elevados. (Unsplash)
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Quem está acostumado a solicitar um motorista de aplicativo pode ter percebido a demora no atendimento ou, eventualmente, no cancelamento da corrida. E um dos principais motivos disso acontecer está no alto preço dos combustíveis. Afinal, segundo a Associação dos Motoristas de Aplicativos do Espírito Santo (Amapes), cerca de 10% dos profissionais já desistiram da função por não conseguir arcar com os custos elevados.

“O Espírito Santo tem cerca de 19 mil motoristas de aplicativo e quem dirigia como complemento de renda está parando de trabalhar ou escolhendo a corrida. Isso também tem aumentado para o usuário o tempo de espera e os cancelamentos, já que dependendo do trecho, quando é muito curto, para o motorista não compensa, já que ele acaba subsidiando essa corrida”, conta o presidente da Amapes, Luiz Fernando Muller.

Em complemento a essa situação, de acordo com Muller, muitos motoristas que locavam veículos estão entregando os carros, pois tem ficado difícil pagar o aluguel e custear o preço do combustível. Outros, que possuem carro próprio, têm preferido adaptar o veículo para rodar com gás natural veicular (GNV), que apesar dos aumentos, ainda é uma opção mais barata do que a gasolina ou álcool. Já uma parte desses profissionais que dependia dos aplicativos como renda principal preferiu abrir mão e alugar o automóvel.

“O motorista tem pensado mais na hora de pegar uma corrida curta, apenas por causa do combustível. No último ano, a gasolina teve um aumento de 39% e o GNV, de 37%. Por outro lado, as empresas de aplicativo estavam desde 2016 sem reajustar e quando isso aconteceu, foi na faixa de 15% e não contempla todas as corridas. Portanto, quem depende hoje de aplicativo tem trocado moedas para poder pagar as contas por causa do alto preço dos combustíveis”, avalia.

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Política de preços faz com que o valor dos combustíveis esteja atrelado ao dólar. (Victor Adams/Sindipetro)

ALTA DOS DERIVADOS DE PETRÓLEO

A realidade que afeta motoristas de aplicativos e usuários tem sido percebida de várias formas por conta do preço alto dos derivados do petróleo. Segundo o economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) Clovimar Cararine, o primeiro efeito dos reajustes de combustíveis e gás de cozinha é o peso que exerce na inflação, o que afeta os seguintes grupos da sociedade: as famílias, quem possui carro e motoristas de carros a diesel e usuários de transporte.

“No primeiro grupo, o impacto é sentido no preço do gás de cozinha, no preço dos produtos no mercado e até no lazer e trabalho. Já o segundo grupo, o de pessoas que têm carro, estas sentem o impacto com maiores gastos, seja para locomoção do trabalho para casa, por exemplo, quanto para motoristas de aplicativo. Até mesmo o GNV teve aumento de 37% em 12 meses, impulsionado pela Política de Preços de Paridade de Importação (PPI) e para piorar, as receitas geradas pelas corridas caíram cerca de 3%”, avalia Cararine.

Outro grupo afetado é o de motoristas de carros a diesel, como caminhoneiros e também todo o setor agrícola, já que as máquinas que operam no campo são movidas a diesel. Com isso, esse grupo repassa todo o custo com frete para os produtos, que chegam nas casas e mesas dos brasileiros mais caros a cada mês. “O valor do diesel aumenta rapidamente e isso impacta no preço da alimentação e também no setor energético, já que com a utilização de usinas termelétricas que usam diesel, o valor da conta de luz fica mais alto”, observa.

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Luiz Fernando Muller: "O motorista tem pensado mais na hora de pegar uma corrida curta, apenas por causa do combustível". (Arquivo pessoal)

Para o diretor de comunicação do Sindicato dos Petroleiros do Espírito Santo (Sindipetro-ES), Etory Feller, se a atual política de preços da Petrobras continuar, os preços vão continuar subindo sem controle. “A última discussão da Petrobras, inclusive, foi sobre tentar estancar um pouco os aumentos sucessivos e colocar aumentos mensais, trimestrais ou semestrais. Mas essa não é a ideia da PPI, já que qualquer flutuação que acontecer no mercado ou câmbio vai impactar diretamente a precificação, porque isso é feito por agentes estrangeiros que visam lucro”, avalia.

Uma das defesas da categoria é que o país tenha um parque de refino próprio, que seja capaz de suprir as demandas em derivados do mercado interno. “Precisamos de uma empresa ligada à Petrobras, como era a BR Distribuidora (vendida por R$ 11,4 bilhões em julho), para que tenha um concorrente a mais no mercado, que seja capaz de regular os preços. A Liquigás (vendida em dezembro de 2020, por R$ 4 bilhões), por exemplo, era capaz de controlar o preço do gás de cozinha. Sem essas empresas de caráter nacional o preço cai em uma espiral de aumentos”, diz.

POLÍTICA DE PREÇOS

A Política de Preços de Paridade de Importação (PPI) foi instituída pela Petrobras em 2016 e consiste no cálculo do preço dos derivados de petróleo levando em consideração a variação internacional do barril do petróleo, cotação do dólar, custos de transporte e uma margem para evitar prejuízos.

Esse tipo de cálculo é o que tem feito com que a empresa registre altas sucessivas na Bolsa de Valores, mas também é responsável pelos reajustes constantes dos combustíveis e gás de cozinha, afirma o diretor do Sindipetro-ES.

“Ao adotar uma precificação em dólar, mesmo o Brasil sendo uma das maiores reservas mundiais de petróleo e gás, o efeito da PPI é estrondoso sobre o orçamento da população e sobre a inflação. Isso tira da Petrobras regular os preços em território nacional. Até 2015, o preço do gás de cozinha, segundo dados da Agência Nacional de Petróleo (ANP), subia em média R$ 1 por ano. E agora a gente já tem mais de 32% de aumento em menos de um ano”, destaca Etory Feller.

Segundo ele, quando a PPI foi instaurada, em 2016, a justificativa era de que assim evitaria prejuízos à empresa. “A intenção mascarada sempre foi gerar lucros para importadores. A Petrobras nunca precisou de PPI em 60 anos de história e sempre foi a maior empresa do país, mesmo antes do pré-sal”, avalia.

Para o geólogo que liderou a pesquisa do pré-sal, Guilherme Estrella, com a PPI a Petrobras acaba focando em três aspectos: “lucro máximo no menor tempo e com o menor risco”.

“Preços internos do petróleo e gás natural iguais aos mundiais poderiam atrair, mas não atendiam à exigência de lucro máximo por parte dos fundos proprietários da Petrobras. A saída foi adicionar aos preços internos, já igualados aos preços mundiais, os custos da importação”, diz.

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