Publicado em 30 de junho de 2019 às 02:10
Os recursos do Orçamento que a bancada federal pode direcionar para obras e serviços no Espírito Santo vão ter maior garantia de que chegarão aos cofres locais a partir de 2020.>
Na última quarta-feira (26), com a promulgação da emenda constitucional do Orçamento impositivo, a execução das emendas coletivas previstas na Lei Orçamentária Anual tornou-se obrigatória, ampliando o poder das bancadas estaduais sobre os recursos.>
Até então, as emendas das bancadas, que são definidas pelos deputados e senadores de cada Estado, não eram obrigatoriamente pagas. Desta forma, muitas vezes os recursos indicados por elas costumam ser alvo de cortes pelo governo federal ou demoram muito a ser efetivamente desembolsados, impactando a conclusão dos investimentos.>
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Um exemplo disso são as emendas da bancada previstas para este ano de 2019. Indicadas em 2018 pelos parlamentares capixabas, houve ao todo 15 emendas, que somavam R$ 231,54 milhões. No entanto, um acordo com o governo estabeleceu que somente 6 estariam com o pagamento garantido, o que representa R$ 169,6 milhões.>
Entre elas, há recursos do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), para a adequação da BR 101 e da BR 262, verbas para a reestruturação e modernização do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes), recursos para manutenção de três hospitais e também para equipamentos da Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp).>
Mas por conta do decreto de contingenciamento do governo federal, feito em março deste ano, o Estado vai receber R$ 36,69 milhões a menos por essas emendas.>
Agora, com o corte, apenas R$ 132,9 milhões vão efetivamente chegar ao destino dos investimentos indicados.>
A partir de 2020, essas emendas vão passar a ser impositivas, portanto terão execução obrigatória pelo governo. Elas vão corresponder a 0,8% da receita corrente líquida do ano anterior. De 2021 em diante, o percentual passa a ser de 1%.>
Nos últimos dois anos do governo Temer, o Espírito Santo enfrentou dificuldades para receber seus recursos das emendas de bancada. Em 2017, dos R$ 133,7 milhões que foram empenhados e tiveram a despesa executada, nem um centavo foi efetivamente pago.>
Em 2018, R$ 99,1 milhões foram empenhados, e só 52% foram pagos, ou seja, R$ 51,5 milhões. Os dados são do sistema Siga Brasil, do Senado.>
OBRIGATORIEDADE>
Desde 2015, as emendas individuais dos parlamentares ao orçamento da União também são impositivas. Para este ano, cada parlamentar teve direito de propor até R$ 15,4 milhões em emendas.>
No entanto, quando há necessidade de contingenciar recursos para cumprir a meta fiscal, as emendas impositivas também podem sofrer bloqueios pela equipe econômica, na mesma proporção do corte.>
A demonstração disso é que entre as emendas individuais dos 13 parlamentares capixabas apresentadas para 2017, somente 28,62% foram pagas até o momento. Das emendas de 2018, 45,6% efetivamente foram desembolsadas.>
EXPECTATIVA>
A indicação das emendas dos Estados cabe ao coordenador da bancada. A definição das emendas para 2020, primeiro ano em que elas serão impositivas, será em outubro, de acordo com o coordenador da bancada capixaba, deputado Da Vitória (PPS).>
Ele considera que a aprovação da emenda constitucional vai trazer benefícios para os Estados.>
"Estamos seguros de que agora elas vão ser executadas. O governo vai estabelecer um cronograma com o Congresso, mediante a capacidade de pagamento da União. Se houver aumento de receita, certamente todo o dinheiro vai ser repassado. É importante descentralizar os recursos", acredita.>
ENTENDA>
O que são?>
As emendas são recursos do Orçamento que o Congresso direciona para obras e benfeitorias nas cidades brasileiras, como construção de estradas ou manutenção da rede hospitalar, por exemplo.>
Emendas de bancada>
Emendas coletivas, de autoria das bancadas estaduais. Os valores destinados para cada Estado variam de ano a ano. Não eram impositivas, mas com a mudança na Constituição, promulgada na semana passada, passaram a ser.>
Emendas individuais>
São de autoria de cada senador ou deputado. Por ano, cada um deles tem direito a indicar R$ 15,4 milhões em emendas. Desde 2015 elas são impositivas, ou seja, precisam ser obrigatoriamente executadas pelo governo.>
Dinheiro para saúde, educação e estradas>
A definição das emendas da bancada do Espírito Santo para o Orçamento de 2020 ainda está sendo discutida pelos parlamentares, para serem apresentadas até outubro.>
Segundo o deputado Da Vitória, os critérios devem ser semelhantes aos dos últimos anos.>
"Saúde, educação, segurança e infraestrutura continuarão sendo as prioridades. A definição do valor passa por um diálogo com o governo do Estado, com as instituições filantrópicas. É comum pedir um valor maior, pois sabemos do risco do contingenciamento. Ele pode chegar a até 40%. Mas seremos realistas. As emendas representam um grande aporte para o Estado", declarou o deputado.>
Investimentos que já estão em andamento e que têm grandes possibilidades de serem contemplados serão principalmente em estradas, como a BR 447, que vai ligar BR 262 a Rodovia Leste-Oeste, o Contorno do Mestre Álvaro, a BR 262 e a BR 259.>
Tanto em 2017 como em 2018, houve somente duas emendas de bancada por ano. Em 2017, elas foram destinadas ao Hospital Geral de Cariacica, e à construção de barragem do Rio Jucu em Domingos Martins. Em 2018, foram para a Ufes e para equipamentos de hospitais.>
ANÁLISE>
Levar mais dinheiro para os Estados>
A emenda constitucional do orçamento impositivo foi tida como negativa para o Executivo, porque cria mais despesas obrigatórias, e há menos manobra para criar novas políticas. No entanto, ele também pode levar mais dinheiro aos Estados, independentemente de seus representantes serem de situação ou de oposição, ou de barganhas entre o Planalto e os parlamentares, na troca de recursos por apoio político. A emenda não estabelece critérios claros de como será a distribuição entre os Estados, o que leva a crer que isso será decidido ano a ano no Congresso, será uma decisão política. Agora caberá aos parlamentares eleger bem quais serão os investimentos contemplados pelas emendas. O orçamento não deve ser uma soma de projetos locais, o ideal é que seja algo feito com planejamento.>
Gabriel Lochagim, professor de Direito Financeiro da USP>
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